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27/04/2024



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Hamilton Faria

 Hamilton Faria

Está de volta a Curitiba um de seus mais importantes poetas: Hamilton Faria. Depois de dezenas de anos morando em São Paulo e outras paragens, inclusive no Exterior, se estabeleceu novamente na sua terra natal. Lembro de ter assistido uma bela homenagem a sua pessoa no Patuscada Livraria, Bar e Café, que fica na Vila Madalena, em São Paulo. Foi no ano de 2016 que ele foi consagrado pelo Sarau Gente de Palavra Paulistano, com curadoria de Rubens Jardim e Davi Kinski, como um dos mais importantes poetas de sua geração. “Tarda e a hora me encanta/Tudo vale a pena/A Imensa vida e a pequena”, esse e outros versos de vários poemas foram recitados por artistas que estavam presentes no evento, com destaque especial para Rubens Jardins, seguidor da filosofia do poeta catarinense Lindof Bell e um lutador histórico e incansável pela Poesia brasileira.

 

Infelizmente, o conhecimento do público curitibano sobre a obra de Hamilton José Barreto de Faria é muito menor do que ele merece e por isso precisamos descrever alguns de seus feitos:

 

Hamilton é, por exemplo, sócio-fundador, ex-presidente (1994/1999) e coordenador da área de desenvolvimento cultural do Instituto Pólis, em São Paulo. O Pólis é uma organização da sociedade civil de atuação nacional, constituída como associação civil sem fins lucrativos, apartidária e pluralista. Desde sua fundação, em 1987, o Pólis tem a cidade como lócus de sua atuação. A defesa do Direito à Cidade está presente em suas pesquisas, trabalhos de assessoria ou de avaliação de políticas públicas, sempre atuando junto à sociedade civil visando o desenvolvimento local na construção de cidades mais justas, sustentáveis e democráticas. São mais de 30 anos de atuação com equipes multidisciplinares de pesquisadores que também participam ativamente do debate público em torno de questões sociais urbanas. Saiba mais sobre o trabalho do Pólis aqui.

 

Hamilton tem uma tese interessante: o reencantamento do mundo a partir da poesia. Mesmo porque isso está na essência do homem que, além (ou antes) de “Sapiens” é “Homo Poeticus”, segundo sua própria definição. E sustenta que “o poeta é o guardião do reencantamento das palavras e do mundo”. Criou uma prática humanista chamada “Potlatch” e explica: “é uma pobreza, uma miséria para a poesia se destinar a uma prateleira de livraria ou biblioteca. Livro precisa circular. O poeta precisa pertencer ao mundo e estar em todos os lugares. Tenho feito lançamento na rua, na praça, entre jovens dos bairros, em sarau de produtores culturais, entre crianças. Dou livros para motorista de táxi, porteiro, manobrista, sambista, colega de academia de ginástica. Até para desafetos – aliás, este é um desafio do “Potlatch”: dar livros a quem não gosta de você ou que já teve alguma rusga, algum ruído na relação. Será que a proposta “Potlatch” pega? Outros autores vão aderir? Esta questão parece não preocupar Hamilton, que foi se inspirar nos índios norte-americanos do final do século XIX. Aliás, Potlatch foi pinçada dos nativos do Norte. “Não tenho certeza se os autores vão aderir à proposta. E isso não é minha intenção. O que me entusiasma é a ideia de doar livros em “Potlatch”, palavra que vem dos indígenas norte-americanos que realizavam cerimônias para dar o que até lhes faltavam e não o que tinham em excesso. Achei isso emocionante. Naquela época isso foi criticado por missionários e governos, porque vinha na lógica contrária da acumulação capitalista. Ora, sociedade industrial, o consumo se expandindo e os indígenas querem queimar riqueza? Foi proibido. Só reaberto por intervenção de antropólogos em meados do século XX. Era uma economia da dádiva que se fortalecia nos seus aspectos simbólicos e afetivos, contra toda a mercantilização da vida. Não é maravilhoso dar livros de poemas num momento de normose e mercantilização da vida, criar circuitos de reencantamento através da palavra e do livro e não da materialidade dos circuitos de mercado e das celebridades ocas?”, argumenta. Em 2013 lançou a coleção Potlatch/pelo reencantamento do mundo, proposta de doação de poesia e circulação fora dos ambientes formais das livrarias e editoras. Já fez quatro edições destes livros, poemas densos, curtos, enxutos, a maioria com três ou quatro linhas: alguns ele chama de “haikuazes”, quase haicais, sem a métrica japonesa, mas com o espírito do haicai, uma contemplação, aprendizado, observação poética da vida. Diz Hamilton: “quero que esta poesia de “mão em mão” possa me acompanhar até onde durar o fôlego, pois é das mais gratificantes das minhas comunicações com o mundo e com o meu próprio mundo interior. Assim publiquei mínimoIMENSO, ínfimoINFINITO, miniMAIS e brevETERNO”.

 

Mas permeando este trabalho social sempre está a Poesia. Hamilton Faria é antes de tudo um grande poeta, autor de treze livros e participante de vinte antologias dentro e fora do país. Na década de 70, durante a ditadura militar brasileira, atuou ativamente em movimentos literários, quando teve poemas censurados pelos órgãos de segurança do Brasil e chegou a ser preso e torturado, assim como seu irmão adolescente: o músico Daniel Faria.

 

Como um missionário da Poesia, participa de leituras poéticas no Brasil convidado por centros culturais, universidades e secretarias de cultura, fundações culturais, bibliotecas, livrarias, encontros de escritores, meios de comunicação e espaços públicos. No exterior, visitou 30 países com participação em encontros culturais, congressos e leituras poéticas, atividades literárias, participando de palestras e debates sobre os caminhos culturais e poéticos para a civilização contemporânea.

 

Publicou poemas em jornais do país (Folha de São Paulo, Estadão, Tribuna da Imprensa, Estado do Paraná, Folha de Londrina, Leia Livros, Nicolau, Estado de Minas Gerais, entre outros); também em livros, revistas e outras publicações (poemas e textos) nos Estados Unidos, França, Índia, Espanha, Chile e Uruguai. Trabalhou bastante com experiências de vídeo poesia, como no poema “O Tamanho da Dor” (veja aqui).

 

Foi também classificado em concursos literários no Rio de Janeiro, Paraná e Bahia. Seu trabalho literário já foi objeto de pesquisa na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Cooperativa de Escritores, da qual foi um dos fundadores, em 1976, é citada em vários livros que analisam a literatura da época. Participou do Programa “O Escritor na Biblioteca” da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo, na qualidade de escritor e mediador de escritores, com Inácio de Loyola Brandão, Roberto Piva, Lourenço Diaféria, Fernando Bonassi, Ferréz, etc – também partilhando a poesia e sua obra poética com jovens dos bairros. Em 1994, foi um dois organizadores da Aliança por um Mundo Responsável, Plural e Solidário no Brasil, na coordenação mundial, em 1997; um dos organizadores de encontro com a presença de 65 países. Participou também do Comitê de Redação da Carta de Responsabilidades Humanas com Edgard Morin, Edith Sizoo e outros, fruto de dinâmica em duas dezenas de países.

 

Em 2002, foi eleito representante da Sociedade Civil no Conselho Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo, contribuiu na redação de leis municipais, na reorganização do Conselho Municipal de Cultura, na construção da I Conferência Municipal de Cultura. Em 2004, representou o Conselho na abertura da conferência, ao lado do Ministro Gilberto Gil e de outras personalidades culturais. Foi idealizador da ideia de Conselhos Municipais de Cultura de Paz e um dos proponentes do Conselho de Cultura de Paz em São Paulo, a partir da representação no Conselho Parlamentar de Cultura de Paz (CONPAZ). Também contribuiu para a consolidação do Conselho Municipal de Cultura de Paz do Paraná.

 

Em 2003, publicou na Índia o livro Re-enchanting the World, escrito em parceria com o poeta Pedro Garcia; e também publicou vários artigos sobre cultura e arte no Brasil e em outros países. Em maio de 2006, recebeu, em Paris, prêmio da Academia Francesa de Artes, Ciências e Letras como poeta e por relevantes serviços à cultura brasileira, artes e cultura em geral.

 

No mesmo ano, realizou palestra na abertura da Copa do Mundo, em Berlim, promovida pela Embaixada Brasileira, Instituto Goethe, Casa das Culturas do Mundo e Ministério da Cultura do Brasil. Ainda em 2006, lançou Haikuazes na Feira do Livro de Córdoba, Argentina, e participou de debates realizados pela Unidade Temática da Cultura das Mercociudades. Em Santiago, lançou seu livro Haikuazes em atividade promovida pela Embaixada do Brasil e União dos Escritores do Chile. Em dezembro de 2007, publicou a “Carta das Responsabilidades do Artista”, fruto de trabalho em rede mundial, presente em países dos vários continentes. Este documento foi difundido em cerca de 100 países pela Rede Mundial de Artistas e o IDEA (International Drama/Theatre and Education Association). Em 2010, publicou o livro Arte e Cultura pelo Reencantamento do Mundo, com os artistas Dan Baron, Bené Fonteles e Pedro Garcia. Participa da coordenação de projetos de Cultura de Paz em parceria com o Ministério da Cultura, entre eles o Pontão de Convivência e Cultura de Paz do Instituto Pólis. Em 1987, foi diretor do URPLAN e professor pesquisador da PUC São Paulo e professor titular na Faculdade de Artes Plásticas da FAAP (1990-2015) e assessor literário e cultural de projetos no Brasil e exterior. É curador de eventos literários e culturais, membro do Conselho do Cine Belas Artes e coordenador da Casa dos Omaguás.

 

Em 2014, recebeu prêmios literários no Chile e Portugal; em 2015, recebeu o Troféu Federico Garcia Lorca destinado a poetas que se destacam por manterem a identidade da escrita portuguesa e/ou espanhola, oferecido pela Casa de Espanha, Rio de Janeiro. Em 2016, teve algumas de suas poesias musicadas e expostas em diversos centros culturais, além da apresentação realizada pela Camarata Antíqua de Curitiba na Capela Santa Maria. Veja o projeto “Frutares – Poemas musicados pela Camerata Antíqua de Curitiba” aqui.

 

Comentários críticos sobre a poesia de Hamilton de Faria

• A sua primeira publicação em livro individual foi em 1977, “Diavirá”, em edição do autor. Eram cerca dez poemas num envelope e tiragem pequena, de 500 exemplares, enviados para amigos, imprensa, o Brasil inteiro, outros países. Um resultado inesperado: muitas publicações em grandes jornais, imprensa alternativa, comentários acadêmicos, antologias no Brasil e exterior.

 

Sobre Diavirá:

“… I have read the poems you sent us and are going to publish the following in an upcoming issue of Chasqui:

 

1) “Palavra” 2) “Relógio de América” 3) “Grito” 4) “Meu Poema” 5) “Diavirá”

All of us who read your poems were extremely impressed y their quality. You have a great poetic talent and we are very proud to be able to publish your poems in our journal.” John Hasssett, Associate Editor CHASQUI, EUA, 10 de setembro de 1977.

 

“Hamilton Faria, recebi teus poemas. Gostei – e olha que não sou de elogiar. Embora tua citação seja de João Cabral, em “Momento” vi algo de Brecht: – economia + engajamento. Meus parabéns. Espero que continue como até aqui apressando o dia que virá”. Moacyr Scliar, escritor, Porto Alegre – RS, 24 de maio de 1977.

 

“Hamilton Faria, muito grato pelos seus poemas de Diavirá, que acabo de receber e que, mesmo a um primeiro e rápido contato, já revelam a sua qualidade. Sucesso. Abraço amigo.” Osman Lins, escritor, São Paulo – SP, 23 de maio 1977.

 

• Em 1983, Hamilton publicou seu segundo livro “Estações”, já pela Algol Edições de São Paulo.

 

Sobre Estações:

“Com estas estações do corpo amoroso, Hamilton Faria publica a sua temporada (no inferno) do paraíso transformante.” Sérgio Rubens Sossélla, Jornal Raiz, Paraná, 1987.

 

“Muito lhe agradeço a remessa de Estações. Que livro! É sempre agradável ler boa poesia e principalmente assistir ao nascimento de um verdadeiro poeta. Impressionou-me a consistência de sua linguagem, seu forte lirismo, seu jogo verbal astucioso. Palavras contidas, ampla disposição à descoberta do cerne da poesia, senso de seletividade, fazem do seu livro um texto agradável. E o acabamento gráfico torna ainda mais atraente o convívio com a sua produção literária.” Fábio Lucas, crítico de literatura, São Paulo, novembro de 1984.

 

“Alegra-me, constatar que o poeta, cuja obra modestamente contribuímos (através de ENCONTROS COM A CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA) para tornar mais conhecida, revela crescente e constante progresso em sua carreira. Não tenho dúvida, pois, em afirmar que muito em breve, par droit de conquête, você ocupará relevante posição no quadro de nossa literatura contemporânea.” Ênio Silveira, Rio de Janeiro, 02 de janeiro de 1984.

 

“Lupiscinal, diria o Otávio Duarte, Você está ótimo: desembaraçado, livre, criativo, personalíssimo.” Sérgio Rubens Sossélla, poeta paranaense, 13 de dezembro de 84.

 

“A apresentação é muito original e requintada, revelando o fino senso estético de quem ilustrou e diagramou as folhas”. Cada folha é um quadro. Quanto aos poemas, nota-se, em primeiro lugar, a maneira muito pessoal que você tem de dar o seu recado poético. Uma poesia sintética, despojada de transbordamentos verbais e emotivos. Muito feliz o seu jogo de imagens e aliterações. Se eu tivesse de escolher três de seus poemas escolheria: “Infância”, “Marília” e “Eu não sou o que sou”. Todos, porém, estão muito bem realizados. Você é poeta de verdade.” Helena Kolody, poeta, Paraná, 08 de junho de 1984.

 

“Agradeço-lhe, de todo o coração, os seus belos poemas de “Estações”, introduzidos e publicados nesta linda apresentação gráfica.” Pavla Lidimilivá, crítica literária e poeta, Praga, 14 de janeiro de 1984.

 

“Em todos os poemas, duas críticas: 1. São desesperadamente belos. Belos. Belos. Não mais. Não menos. Belos na medida exata. 2. E poucos. E curtos: Devorei-os de um só golpe como quem lê um gibi e se entristece quando a estória chega ao fim.” (Ernani Fraga, poeta, São Paulo – SP, 1984).

 

• Em 1988, Hamilton Faria publica “Cidades do Ser” pelo cultuado Massao Ohno Editor, São Paulo.

 

Sobre Cidades do Ser:

 

“Para Hamilton Faria Revertendo a liberdade ao verso Sou um servo nesta cidade do ser.” Sérgio Rubens Sossélla, jornal Estado do Paraná, 26 de maio de 1990.

 

“Cidades do Ser convida-nos para uma viagem por nossas avenidas principais, nossas alamedas, becos e praças com repuxos d’água. Leva-nos a visitar, ainda, os canais subterrâneos onde proliferam fantasmas, musgos e avencas. Através desta cidade mágica, vislumbramos outras cidades, acima e além de nós, aquelas que pertencem às estrelas e ao desconhecido.” Maria Antonieta Pereira, crítica e professora de literatura e Língua Portuguesa em “Linguagem Surpreendente de Hamilton Faria”, Suplemento Literário de Minas Gerais, Belo Horizonte – MG, 18 de novembro de 1989.

 

“A verdade é que Hamilton Faria é um poeta que conhece seu ofício. E disso ele já deu muitas provas nestes tempos de ridículas inversões de valores… o livro de poesia não é um mistério para Hamilton Faria. Pelo contrário: neste livro ele abre o leque de suas observações e sentidos poéticos para elaborar uma poesia de fina beleza, gentil com as palavras e sabedor dos caminhos que está pisando:… Cidades do Ser é uma viagem pelas formas, palavras, inquietações, silêncios, apelos. Um livro de poesia. De bela poesia.” Álvaro Alves de Faria, poeta e crítico, Jornal da Tarde, São Paulo – SP, 1988.

 

“Encontrei em seus poemas muito estímulo intelectual, e não pequeno alívio profissional (como editor, recebo quase diariamente execráveis manifestações de péssima poesia e, ainda mais, inquietante desfaçatez), além de versos admiráveis que confirmam antigo vaticínio meu de que iria marcar forte presença”. Ênio Silveira, Editor da Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro – RJ, 1988.

 

“A devolução ao homem de seu sentido libertário, de valentia e, principalmente de magia, pretende a poesia de Hamilton Faria, sinalizada em Cidades do Ser, seu terceiro livro… Em resposta ao caos, o poeta, conhecedor de Tanatos, resgata Eros para habitar suas cidades”. Adélia Maria Lopes, O Estado do Paraná, Almanaque, 1988.

 

“O poeta poetiza a sua própria experiência e a dos outros, ao enganchar nas pedras da existência a sua âncora de fantasia. E dessa matéria bruta extrai a invenção de uma linguagem poética contemporânea, num mergulho escafandrista em universos interiores de sol e delicadeza, de medo e de incerteza e que são os desenlaces do homem in Great City”. Reinoldo Atem, poeta, O Estado do Paraná, Curitiba – PR, 1988.

 

“Cidades que nos levam as estrelas, passando pela magia, pelo sol, pelo fogo, pelo voo. Tudo é mágico, tudo dança, tudo voa nestas cidades. Tudo se transforma magicamente em ritmo, música, luzes… Tudo Eros. Mas Eros de quem sabe Tanatos; luz de quem conhece o escuro… ‘Cidades do Ser’ é plural em todos os sentidos. Do verso lírico ao concreto, do verso branco à métrica rígida; do soneto ao haicai. Com maturidade poética e linguagem elaborada Hamilton Faria constrói estas Cidades, da procura e da dor de ser inteiro ao resumo de tudo – o amor. E visitaremos mágicos, planetas, bailarinas, fontes, pássaros, signos, papoulas, borboletas, damas de azul, mercadores, amantes, corpos, almas, vida e morte, sagrado e profano, as faces múltiplas do ser humano.” Massao Ohno, editor, São Paulo, 1988.

 

Hamilton foi estimulado para a Poesia por seus pais desde criança e lia, com seus irmãos, poemas em cima do muro de casa, espantando os vizinhos e passantes, acostumados com meninos que matavam passarinhos. No Colégio Militar de Curitiba participava, com seus irmãos, do Grêmio Literário, concursos de poesia, etc. Eram leitores vorazes e conheceram Dostoievski, Gorski, Sartre, Ferreira Gullar, Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade e uma plêiade de outros autores, que formaram o poeta.

 

 

Eu também fui aluno do Colégio Militar do Rio de Janeiro e Recife, então questionei Hamilton: “quais são suas lembranças do CM”? E ele respondeu: “tantas, tenho um capítulo de um livro inédito de nome “Casernais” . Qualquer hora a gente conversa”.

 

Uma pessoa que sabe muito bem quem é Hamilton Faria desde criança é o grande poeta Thadeu Wojciechowski, que nos conta isto:

 

“Conheço o Hamilton desde sempre. Primo-irmão, amigo e companheiro de bola e sonhos, com nossos outros 13 irmãos. Um bando movido à ação e aventura, que iam de construção de represas, fortes-apaches, canhões, entre outras traquinagens. E esportes, com ênfase para o futebol. Uma festa, um universo, que se movia e se fazia em torno da palavra viva. Mas veio o Golpe de 1964, e a ditadura transformou versos em armas. Hamilton tomou da pena e a levantou como um farol iluminando o futuro. E ele chegou na palavra doce, madura, perfumada, flor da breveterna primavera, reencantando a vida.”

 

Outra pergunta que fiz a Hamilton: “quais são seus planos futuros”? E ele me disse: “dar continuidade ao projeto Potlatch/pelo reencantamento do mundo com vários títulos ( já saiu o quarto: brevETERNO); publicar um livro de poemas escrito durante a ditadura; publicar antologia de poemas de 1969 até a data de edição; fazer vários vídeos sobre poesia; caminhar, meditar, viajar, viver significativamente, sonhar, amar, enfim. Fazer da vida uma obra poética; salvar-se pela beleza. Fazer sempre da poesia um pertencimento vital. Dar continuidade ao Canal do Poetariado”.

 

Hamilton Faria é um dos diretores do Canal do Poetariado, criado em conjunto com Cesar Augusto de Carvalho, grande fomentador da poesia paulistana. Hamilton julga que o Canal do Poetariado é uma de suas experiências mais relevantes com Poesia. Divulga a vida e obra de poetas. Já está há mais de dois anos no ar com programas mensais, como este vídeo, em que os dois poetas entrevistam Ailton Krenak, primeiro indígena a ser nomeado para a Academia Brasileira de Letras.

 

Pra finalizar nada como doze de seus poemas:

 

Doze Haikuazes

Quase inverno
O ventre da mulher –
Lua crescente

 

*

 

Esgoto o verbo
Só o silencio
Me liberta

 

*

 

Caminhada noturna
Como um velho mestre
A lua ensina a cidade

 

*

 

Caminhada noturna
A lua olha a cidade
Com superioridade

 

*

 

Ninguém merece
Os anos maduram
A xícara não obedece

 

*

 

Por melhor que seja
A ração e o sono
Não invejo o cão

 

*

 

O besouro
Tão pequenino – eu ele
Tamanho destino

 

*

 

Beleza tem patas
A vida busca sentidos
No terno olhar da vaca

 

*

 

Retrato do abandono
Cansado de domingos
O cão sem dono

 

*

 

O som da água
Entre as pedras:
Barulho que a vida precisa

 

*

 

Converso com a rã
Há na loucura
Alguma coisa sã

 

*

 

Concluo – breve e silente
O que mostrei do amor
Foi o instante

 

Leia outras colunas Frente Fria aqui.

11 Comments

  • Vivência poética ímpar no Brasil, Hamilton semeou – e continua no caminho da semeadura da – poesia por onde andou e viveu. Sua verve ilumina muitas pessoas e mentes e tenho a felicidade de conhecê-lo desde meus vinte e poucos anos, o que sempre foi uma inspiração! Parabéns pela merecida homenagem! Vida longa a sua poética!!

  • Abraço de Parabéns, de Lisboa, querido e grandíssimo Poeta Hamilton Faria.
    Que currículo biográfico e literário!

  • Hamilton Faria, poeta-amigo, solidário, sempre presente nas horas fundamentais! Encantador da Vida e da Poesia! Gratidão eterna!

  • Parabéns, D. Hamilton! Merecida homenagem. Reconhecimento de seu trabalho.

  • Obrigado pelos comentários aqui e pelas centenas de mensagens pessoais enviadas pra mim e pro Hamilton Faria, merecido homenageado.

  • Que reconhecimento bacana da obra de um dos grandes poetas deste país.

  • Que beleza conhecer um pouco mais da obra desse querido e grande poeta.
    S

  • Parabéns, Hamilton, feliz por termos você, seu destino de poesia vida, mundo afora. Grande Abraço.

  • Maravilha de matéria. Parabéns, Hamilton, sua poesia merece.

  • Que resgate merecido e maravilhoso de um paranaense valoroso e grande poeta.
    Sou testemunha e admiradora dessa história de vida exemplar e de dedicação ao reencantamento do mundo.

    • Bela matéria da poesia de Hamilton faria, grande amigo.

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