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28/04/2024



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Ídolos da Matinée

 Ídolos da Matinée

Conforme o Blog Painel do Rock Brasil 80, de Manoel Leite Cavalcanti Neto: “a história do nascimento dos Ídolos de Matinê é bem romântica. Fernando Tupan, que era empresário da Contrabanda, resolveu, junto com Renato Quege, baixista e compositor da mesma Contrabanda, criar um grupo de rock próprio. Nasceu daí a Estação no Interno. Em um dos ensaios, quando tentavam compor um hardcore, foram interrompidos por uma furiosa vizinha. Tratava-se da neta do maestro Bento Mossurunga, falecido autor dos hinos de Curitiba e do Paraná. Ela, uma estudante de piano clássico, reclamava do barulho que não a deixava estudar para uma prova de música no dia seguinte. A raiva foi recebida por olhares gulosos desferidos por Fernando para cima daquela apetitosa blondie que acabava de entrar. De olhar em olhar, a banda ganhou uma tecladista, um novo nome e Fernando, uma namorada. Foi assim que Debbie Lloyd entrou para a banda e, com um dos primeiros atos, convenceu, Fernando e Renato a mudarem o nome de Estação no Inferno, homenagem a Rimbaud, para o atual Ídolos de Matinê. “É porque eu sou muito católica”, explica Debbie. Com a entrada dela os componentes esqueceram de vez o punk, “adotando um refinamento e uma elegância que são nossa marca registrada”, segundo Fernando. “Para quem quiser saber qual é o estilo que tocamos, pode dizer que é trendie. E quem não souber o que é isso que nos procure. Só damos explicações pessoalmente”, diz Tupan, fazendo mistério. Em oposição a todas as outras bandas de Curitiba, o ídolos de Matinê é a única que adota um visual especial para os shows. Cabelos espetados, maquiagem pesada e um enorme sobretudo preto com forro estampado de flores. “Esses trajes vão ser aposentados”, esclarecem, contando que já encomendaram outros à estilista Branca Aurora, bem conhecida na cidade. A produção do visual deixou alguns membros do grupo um pouco incomodados, pois cansaram de ouvir gracinhas do público. “No começo mexia um pouco com a nossa masculinidade”, confessa o vocalista Leonardo Secco, completando: “Mas é necessária essa preocupação estética.O público gosta de um show completo, gosta de ouvir e de ver também, por isso continuaremos adotando esse visual”. Como projetos eles estão com algumas fitas demo colocadas nas mãos de produtores de gravadoras conhecidas, uma proposta para gravação de vídeo, com o cineasta Fernando Severo, e vários shows. A atual formação já foi bastante elogiada nos shows que realizou e as letras – “Falamos as mesmas coisas que todo mundo quer falar, só que de maneira diferente” – são feitas por Fernando Tupan ou por Sérgio Viralobos, irmão do guitarrista Carlos e também parceiro de Marcos Prado em livros e outras letras. A oposição entre os componentes do Beijo AA Força e dos Ídolos de Matinê só acaba quando falam do Pós Meridion, eleita por eles como a melhor banda de Curitiba – depois deles, é claro.”

Lembro bem desta rivalidade entre o BAAF e os Ídolos, afinal era amigo dos componentes das duas bandas, além de principal letrista, junto com o Marcos Prado. Isto gerava situações meio esdrúxulas: o Marcos entregava uma letra pro Beijo AA Força, enquanto eu mostrava para alguém do Ídolos, que logo fazia uma música em cima, para aumentar a confusão. Havia uma diferença evidente entre as duas bandas: o BAAF mais soturno, maduro e agressivo, e o Ídolos com um visual meio dark e músicas mais leves e pops, o que não deixava de ser interessante. Eram letras que viraram clássicos do underground curitibano, como esta:

 

ESPÍRITO DE LUTA

Quem não bate toma
Seja como o avestruz
Que tem medo da hematoma
Um soco pode ser perigoso
Esse é o esporte
Onde não há amistoso
Cuida melhor do seu pelo
Quem teve dias de fera
Quer guerra?
Te dou um conselho
Se você é um homem sem sorte
Fique longe do ringue
Lá te espera o nocaute!

Sérgio Viralobos, Marcos Prado e Renato Quege

 

Segundo seu fundador, Fernando Tupan, o Ídolos de Matinée nasceu em 1984, como o primeiro grupo de synthpop do Paraná e um dos pioneiros no Brasil, influenciados por New Order, Depeche Mode, Gary Numan, The Cure, The Police, Beethoven, Chopin e Walter Smetack, entre outros. O embrião do grupo era ele como baixista, a pianista Débora Daroit (Debbie Lloyd) e o guitarrista Renato Incesto. Recrutaram o baterista Mola Jones e conseguiram criar um público cativo nas noites curitibanas e que os levaram a tocar em locais como Mamão com Açúcar, Madame Satã, Cais e outros templos do rock brasileiro dos anos 80.

Participaram do movimento brasileiro Pós Punk da segunda metade dos anos 80, ao lado de bandas como Legião Urbana, Escola de Escândalos, Plebe Rude, Ira! e outras. Os Ídolos foram recebidos com críticas positivas nas principais revistas brasileiras como Pipoca Moderna, de Ana Maria Bahiana, e Bizz, da Editora Abril. Foram aconselhados a se mudarem para o Rio de Janeiro, mas resolveram permanecer em Curitiba, o que levou a banda ao esquecimento. Nesse período tocaram em eventos no Paraná, em Santa Catarina, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Em Curitiba em locais como o Ginásio do Tarumã, Clube Curitibano, Clube 700, Rainha Careca, Ocidente, Colégio Positivo, Graciosa, Batom, campeonatos de surf em Santa Catarina e no Paraná e Festival da Lapa, entre outros. Em 1987, chegaram com as músicas Rocky Marciano e Vamos Separar os Estados Unidos da América nas rádios curitibanos e atingiram um novo patamar de sucesso no underground paulista e carioca. Em 1988, participaram da coletânea Cemitério de Elefantes, único registro em vinil. Os demais foram em fitas cassetes. No Youtube, uma das poucas músicas disponibilizadas é Eu Por Mim, que pode ser ouvida aqui . Em 1989, a banda participou do festival New Generation, em Guaratuba, onde tocou para 100 mil pessoas, passando a ser vista como a banda do mainstream local. Tupan era um dos maiores agitadores culturais de Curitiba: além de tocar contrabaixo, foi diretor da rádio rock Estação Primeira, escreveu para revistas nacionais como Bizz e Veja, passou pelos jornais Gazeta do Povo, Folha de Londrina, Correio de Notícias; além de fundador do jornal Trendie. Hoje é jornalista político de um blog de extrema direita. Triste fim para um velho punk.

Débora Daroit é sobrinha bisneta do maestro Bento Mossurunga, fundador da Escola de Belas Artes, onde estudou piano clássico desde a infância, e prima do maestro Paulo Torres, 1º violino da Orquestra Sinfônica do Paraná e regente da Orquestra da PUC e de Joinville. O pedigree clássico dela possibilitou uma identidade sonora jamais conquistada por nenhuma banda paranaense, quando bastavam sete notas para se saber o estilo da banda. Sempre se destacou pela educação e sensibilidade, como se vê neste depoimento para a Frente Fria:

“Oi, Sérgio. Então, três coisas que ficaram deste tempo pra mim: lembro das letras que ainda acho sensacionais, e tinha muita letra tua, né, e do Marcos. Lembro do Renato e do Carlos trazendo as composições, e de gostar de fazer os arranjos, em cima das melodias. E do fato de estar no meio de muitos meninos, das várias bandas, e de que todos sempre me trataram com muito carinho. É isso”.

Débora ficou com o Ídolos até 1991 quando deu um tempo das teclas para ter o primeiro filho. Desde então se dedicou ao ensino de piano e inglês (fui um dos seus alunos).

Éramos tão amigos que fiz um release para um futuro álbum do Ídolos em tom de muita brincadeira e não é que eles o publicaram!:

“Tomem o máximo cuidado! Estão sendo captadas, em vários pontos do território nacional, transmissões radiofônicas que confirmam a existência de mais um grupo de rock, autodenominado de Ídolos de Matinée. Conforme pudemos constatar, essas ondas emanam do sul do país, provavelmente de uma cidade chamada por seus nativos de Curitiba. A tal banda define seu estilo musical como sendo “trendie”. Como ninguém, muito menos eles, sabe o que significa essa palavra, as coisas ficam bem mais fáceis para todos. O Ídolos é o último fruto de uma árvore genealógica razoavelmente frondosa, cujas raízes foram implantadas em 1982, quando surgiu a Contrabanda, primeiro conjuntinho moderno a pisar em terras das araucárias. Depois de uma carreira que, bondosamente, podemos considerar bem sucedida, a Contrabanda se dissolveu em outros dois grupos: o Beijo AA Força e o Estação no Inferno. Depois de algum tempo, os integrantes do Estação finalmente se flagraram que o nome da banda não era nem um pouco comercial. Então, resolveram muda-lo para Ídolos de Matinée, nome chupado de um livro de Raymond Chandler. Seu baixista-fundador foi o multimídia Fernando Tupan, vulgo Carajás. Além de liderar uma banda de rock, o rapaz estendia seus tentáculos sobre um jornal, onde tinha uma coluna sobre música, e uma rádio rock, onde era programador. Apesar de não tocar porra nenhuma, Fernando continua se mantendo no meio cultural da cidade como uma espécie de irmão mais esperto de Malcom Maclaren. Sempre armando jogadas autopromocionais, Carajás tem para isso seus motivos. Acometido de uma doença incurável, possui apenas mais alguns anos de vida; seu slogan é “Por favor, realizem meu último desejo”. Naturalmente, o último desejo desse paciente terminal é o sucesso. A tecladista do Ídolos se chamava Débora. Dotada de grande inteligência e tino musical, atende pelo nome artístico de Debbie Loyd e é filha de uma família de alta tradição na música clássica local. Seu avô, Bento Mussurunga foi compositor do hino oficial do Paraná e deve estar dando cambalhotas no túmulo, ao ver nas mãos de quem sua netinha foi parar. O casal Fernando e Débora é uma das locomotivas da fascinante noite curitibana e geraram, genialmente, dois garotos de muito talento: William e Nicholas.
Portanto, ouvinte, considere-se avisado. Se estiver sintonizando alguma canção do Ídolos de Matinée, desligue imediatamente ou sua mente ficará irremediavelmente impregnada pela música da quadrilha”.

4 Comments

  • Excelente lembrança, Sergio. Justa homenagem ao Ídolos. Uma banda que contrariou os piores prognósticos da época. Tinha um baixista que não tocava nada, como você bem lembrou, e que, para piorar, hoje em dia não é nem sombra – ou reflexo já que adora um espelho – daquele competente agitador que convencia qualquer um a dar nó em pingo d’água. Como colocado, triste fim do Fernando…
    Agora, o que falar da bela e competente Débora? Que falta que ela faz ao mainstream!! Aplausos Sérgio, continue resgatando as histórias da melhor época de Curitiba!

  • A melhor banda dos anos 80, lembro de shows memoráveis em Guaratuba, no Parque Barigui, no Tarumã. Era minha banda preferida, quando você entrava no local dos shows era só gente bonita, as meninas então, uma mais bonita que a outra. A tecladista era maravilhosa. Eu adorei essa volta no tempo. Obrigado Sérgio.

  • Quando cheguei a Curitiba na metade da decada de 80 havia varias bandas legais que tocavam pelos barzinhos da cidade. Eu tinha 20 anos a New Wave estava explodindo pelo Brasil, ja um pouco atrasado por que la fora ja havia acontecido. Mas tinham bandas maravilhosas explodindo pelo pais. E a cena Curitiba era meio dark, New Wave, tinha um povo chick bonito circulando pelas noites com aquele frio e nevoa a gente se sentia em Londres kkk. Pena que nao ha maquina do tempo para se voltar a epoca ! (sic Epoca)

  • Cara, voltei no tempo agora,lembro sim dos ídolos da matinée…era criança em 1984..tinha 12anos mais já curtiu o que era bom e a cena curitibana era bem massa… até fui vizinho do beijo as força, quando eles ensaiava na rua Emílio de Menezes próximo ao cemitério municipal….relembrar é viver e tenho muito orgulho de ter vivido essa época dourada do rock n’roll curitibano.

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