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SERGIO-CABECA-COLUNA

Pops e Rebeldes

01/05/2025

Como eu havia anunciado em minha coluna Frente Fria de 10/04/2025, hoje abre para o público a megaexposição “Andy Warhol: Pop Art!”

São quase 600 trabalhos, entre eles obras-primas do artista, como “A Última Ceia”, releitura monumental da obra de Leonardo Da Vinci com dez metros de largura, que desembarcaram com tática de guerra no Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo. As obras são avaliadas em centenas de milhões de dólares, e o clima é tenso, com Donald Trump abrindo uma temporada de caça aos museus americanos, com cortes de fundos. Todas as obras, vindas do Museu Andy Warhol, em Pittsburgh, onde o artista nasceu, foram separadas em três caminhões e três aviões distintos, saindo dos Estados Unidos de cidades diferentes, em dias e horários também diversos, para evitar que um desastre aéreo destruísse todo o acervo.

Deixam o The Andy Warhol Museum pela primeira vez Campbell’s Soup, Elvis, Mao, Marilyn, Michael Jackson e Pelé, com espaço para segmentos dedicados ao Velvet Underground, banda que Warhol empresariou, e a Factory, seu estúdio nova-iorquino. Um bom passeio por um capítulo importante da arte da segunda metade do século 20.

Com curadoria de Amber Morgan, diretora de coleções do museu de Andy, e da brasileira Priscyla Gomes, a mostra cobre todas as fases da obra de Warhol, sem uma cronologia definida, reunindo pinturas, serigrafias, esculturas raras, fotografias, instalações, as clássicas imagens Polaroid de celebridades e do próprio artista como drag queen, e quarenta de seus filmes transgressores.

Se for à megamostra aproveite para ver a exposição “Pops e Rebeldes” (com obras da pop art brasileira das décadas de 60 e 70), até o dia 5 de maio na Galeria Berenice Arvani, também em São Paulo. Antonio Montano, o assessor de imprensa do evento me escreveu o seguinte:

“Tive uma ideia para uma possível pauta, aproveitando que, em maio, teremos na cidade uma exposição do Andy Warhol. Poderíamos destacar a diferença entre as duas, já lá fora ela nasceu como uma crítica ao consumismo e culto à celebridade, por aqui ela se manifestava contra a ditadura e a tortura. E temos a oportunidade de conhecer a pop art brasileira e grandes ícones da época enquanto nos preparamos para receber Andy Warhol. Além disso, estamos passando por um momento político em que o resgate dessa pop art brasileira é mais importante e atual do que nunca.”

Realmente, estamos em tempos de rediscutir o período da ditadura e este é um dos objetivos da produção artística do Brasil dos anos 60 e 70 exposta em “Pops e Rebeldes”. São obras de uma geração que criou a arte pop brasileira, a Nova Figuração, consagrada a partir da exposição Opinião 65, no MAM Rio.

“Vejo a Nova Figuração como um dos movimentos mais intensos da arte brasileira, uma resposta crítica ao abstracionismo ao mesmo tempo que se manifestava sobre dilemas sociopolíticos da década de 60. Os artistas ‘Pop e Rebeldes’ da época marcaram uma identidade visual que influencia gerações de outros artistas até hoje”, explica Berenice Arvani, proprietária da Galeria.

O curador Celso Fioravante acrescenta que os “artistas locais exibiram uma nova imagem do país, um Brasil com sangue nas veias, que grita, moldada a partir de questionamentos a fatos perversos, como a censura, a repressão e a violência impostas pela ditadura de 1964. Além disso, deglutiram movimentos artísticos como o construtivismo, a arte popular e o expressionismo”.

A Nova Figuração brasileira foi um movimento artístico surgido nos anos 1960. Com influências da Pop Art americana, os artistas deste movimento aproveitaram essas experiências, mas buscaram uma expressão de identidade nacional. Seus principais representantes foram Rubens Gerchman, Antonio Dias, Roberto Magalhães, Carlos Vergara, Carlos Zílio e Anna Maria Maiolino. Além deste, os integrantes do Grupo Rex, Geraldo de Barros, Waldemar Cordeiro, Nelson Leirner, Wesley Duke Lee, José Resende, Victor Arruda, Carlos Fajardo e Frederico Nasser, também sofreram grande influência da Pop Art.

O movimento Nova Figuração rompeu com a abstração predominante e trouxe de volta a imagem figurativa, mas, dessa vez, de forma reinventada, agressiva e crítica, principalmente à ditatura militar. Os artistas desse movimento criaram obras vibrantes e provocativas, utilizando colagem e abusando da apropriação de imagens e iconografia urbana para abordar temas como consumo, censura, política e identidade nacional.

O movimento ainda é chamado de Pop Art Brasileira, porém a conexão se limita apenas a influências de forma, estética e linguagem, pois a versão americana do movimento tem muito pouco posicionamento político-ideológico, como você poderá conferir na exposição de Andy Warhol, concentrando suas críticas mais diretamente à sociedade de consumo.

A arte produzida por esses artistas considerados pela galerista e pelo curador como pops e rebeldes é disruptiva e terreno de resistência. Ela protesta e afirma em seu vocabulário de imagens que amor, prazer, política e arte são revolucionários e estarão sempre aqui.

São eles:

Antonio Henrique Amaral: conhecido por sua série “Bananas”, onde utiliza a figuração para expressar críticas ácidas ao regime político e à repressão da época.

Décio Noviello: artista e designer gráfico, destacou-se pela fusão entre a arte e a comunicação visual, criando obras de forte impacto estético e social.

Glauco Rodrigues: trouxe para suas telas um olhar irônico e colorido sobre a identidade brasileira, ressignificando símbolos nacionais com um viés crítico.

Inácio Rodrigues: explorou a relação entre a figuração e o abstrato, utilizando cores vibrantes e composições dinâmicas para expressar sua visão de mundo.

Irmgard Longman: trouxe uma abordagem singular para a arte pop brasileira, combinando elementos geométricos e figurativos para criar uma estética sofisticada e impactante.

Judith Lauand: transcendeu o concretismo ao incorporar novas experiências visuais, tornando-se uma das grandes expoentes da arte brasileira.

Maurício Nogueira Lima: um dos principais nomes da arte concreta, mas que também transitou pela Nova Figuração, explorando a interação entre cor, forma e comunicação visual.

Nelson Leirner: conhecido por sua ironia e crítica contundente ao mercado de arte e à cultura de consumo, utilizando ready-mades e objetos cotidianos em suas obras.

Rubens Gerchman: talvez o maior nome da Nova Figuração, trazendo para suas obras um diálogo direto com a sociedade, a política e a linguagem da propaganda.

Teresa Nazar: artista argentina radicada no Brasil, incorporou elementos surrealistas à sua produção, criando imagens oníricas e repletas de simbolismo.

Tomoshigue Kusuno: de origem japonesa, imprimiu sua influência oriental na arte pop brasileira, criando uma estética diferenciada e de forte impacto visual.

Victor Gerhardt: explorou temas urbanos e sociais em suas obras, trazendo uma abordagem crítica e inovadora para a figuração brasileira.

Zélio Alves Pinto: transitou entre a arte plástica e o cartum, utilizando um traço ágil e expressivo para retratar a sociedade com humor e perspicácia.

Serviço
• Exposição “Pops e Rebeldes”
• Curadoria: Celso Fioravante
• Exposição: de 28 de março a 5 de maio.
• Dias e horários de visitação: segunda a sexta, das 10h às 19h.
• Local: Galeria Berenice Arvani
• Endereço: Rua Oscar Freire, 540, Jardins.
• Tel.: (11) 3082-1927.
• Site: www.galeriaberenicearvani.com
• Instagram: @galeriaberenicearvani

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