Divido com vocês mais um desses textos saborosos que só uma rede de bons amigos pode proporcionar.
A autora é a escritora Socorro Acioli, que de acordo com a Wikipédia nasceu em Fortaleza (CE) em 24/02/1975. Ela é Doutora em Estudos de Literatura pela Universidade Federal Fluminense, Mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará e Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo. Já foi a vencedora do Prêmio Jabuti por um de seus livros e também participou de uma antologia de contos.
A publicação é de 15/09/2015 na coluna da escritora no jornal O Povo:
Sobre os felizes
Existem pessoas admiráveis andando em passos firmes sobre a face da Terra. Grandes homens, grandes mulheres, sujeitos exemplares que superam toda desesperança. Tenho a sorte de conhecer vários deles, de ter muitos como amigos e costumo observar suas ações com dedicada atenção. Tento compreender como conseguem levar a vida de maneira tão superior à maioria, busco onde está o mistério, tento ler seus gestos e aprendo muito com eles.
De tanto observar, consegui descobrir alguns pontos em comum entre todos e o que mais me impressiona é que são felizes. A felicidade, essa meta por vezes impossível, é parte deles, está intrínseco. Vivem um dia após o outro desfrutando de uma alegria genuína, leve, discreta, plantada na alma como uma árvore de raízes que força nenhuma consegue arrancar.
Dos felizes que conheço, nenhum leva uma vida perfeita. Não são famosos. Nenhum é milionário, alguns vivem com muito pouco, inclusive. Nenhum tem saúde impecável, ou uma família sem problemas. Todos enfrentam e enfrentaram dissabores de várias ordens. Mas continuam discretamente felizes.
O primeiro hábito que eles tem em comum é a generosidade. Mais que isso: eles tem prazer em ajudar, dividir, doar. Ajudam com um sorriso imenso no rosto, com desejo verdadeiro e sentem-se bem o suficiente para nunca relembrar ou cobrar o que foi feito e jamais pedir algo em troca.
Os felizes costumam oferecer ajuda antes que se peça. Ficam inquietos com a dor do outro, querem colaborar de alguma maneira. São sensíveis e identificam as necessidades alheias mesmo antes de receber qualquer pedido. Os felizes, sobretudo, doam o próprio tempo, suas horas de vida, às vezes dividem o que tem, mesmo quando é muito pouco.
Eu também observo os infelizes e já fiz a contraprova: eles costumam ser egoístas. Negam qualquer pequeno favor. Reagem com irritação ao mínimo pedido. Quando fazem, não perdem a oportunidade de relembrar, quase cobram medalhas e passam o recibo. Não gostam de ter a rotina perturbada por solicitações dos outros. Se fazem uma bondade qualquer, calculam o benefício próprio e seguem assim, infelizes. Cada vez mais.
O segundo hábito notável dos felizes é a capacidade de explodir de alegria com o êxito dos outros. Os felizes vibram tanto com o sorriso alheio que parece um contágio. Eles costumam dizer: estou tão contente como se fosse comigo. Talvez seja um segredo de felicidade, até porque os infelizes fazem o contrário. Tratam rapidamente de encontrar um defeito no júbilo do outro, ou de ignorar a boa nova que acabaram de ouvir. E seguem infelizes.
O terceiro hábito dos felizes é saber aceitar. Principalmente aceitar o outro, com todas as suas imperfeições. Sabem ouvir sem julgar. Sabem opinar sem diminuir e sabem a hora de calar. Sobretudo, sabem rir do jeito de ser de seus amigos. Sorrir é uma forma sublime de dizer: amo você e todas as suas pequenas loucuras.
Escrevo essa crônica, grata e emocionada, relembrando o rosto dos homens e mulheres sublimes que passaram e que estão na minha vida, entoando seus nomes com a devoção de quem reza. Ainda não sou um dos felizes, mas sigo tentando. Sigo buscando aprender com eles a acender a luz genuína e perene de alegria na alma. Sigamos os felizes, pois eles sabem o caminho.
Leia outras colunas do Gerson Guelmann aqui.
11 Comentários
Muito boa as orientações
Meu Deus, que envolvente está pequena crônica que acabei de lê.
Em um texto tão breve consegui resumir tantas detalhes de uma vida com felicidades!
O texto fez uma reflexão óbvia do infeliz. Conviver com pessoas neste nível não e fácil,
Texto compartilhado…..☺️
Tento…Ninguém disse que seria fácil…
Bom dia!
Que texto lindo, simplesmente amei.
Logo pela manhã poder contemplar um texto tão mágico é maravilhoso.parabéns.
Muito bom
PESSOAS SUPOSTAMENTE FELIZES COM CERTEZA DEVE TER SEUS MOMENTOS DE TRISTEZA.IMPOSSIVEL ALGUÉM SER OU ESTAR 100% FELIZ.
Amei o texto uma reflexão e tanto. Também não sou uma das pessoas felizes mas também continuo tentando.Conheço uma pessoa assim e é muito gratificante estar ao lado dela ela esbanja alegria e nos contagia uma pessoa maravilhosa…
Belíssima a crônica. Obrigada
amei o TEXTO e acredito piamente ser verdadeiro
Como médico (UFPR 1972) sempre adotei preceitos naturalistas,e orgulho me,de ao longo de minha vida médica sempre ter prescrevido a felicidade a todos os meus pacientes,independentemente das patologias,haja visto,de que a meu ver,ser feliz e’
ter e preservar a saúde.Esse fato,embora de óbvia constatação,não e’repassado na formação médica,perde o médico,o paciente,o país.Aos que me arguirem de como chego lá’,respondo :quem não e’ feliz com pouco,não o será’ com muito,pois não aprendeu a ser lo;outra característica obrigatória,e’ a simplicidade,bem como a humildade,fatores comuns aos longevos;destaco ainda o otimismo,a alegria,o canto,o sexo,o riso,o amor,todos eles de prática ao longo da vida,ou seja,felicidade não se teoriza,se vivência.
Excelente trabalho. Parabéns pela escolha do texto