Semana passada tivemos uma situação aqui em casa que exigia o uso do telefone fixo. Melhor: ‘exigiria’ o uso, mas isso não foi possível porque demoramos para encontrá-lo, e quando o achamos, estava sem o cabo para ligar.
Como diz o ditado, “o que não tem remédio, remediado está” e a tentativa nos fez lembrar que não sabemos o número dele – se um dia precisarmos novamente, teremos que procurar na conta do provedor de internet. Mas não ter o fixo funcionando tem suas vantagens; nada de ofertas incessantes de planos de internet, jazigos, seguros, doações para entidades suspeitas… Um silêncio tão bom que quase nos faz esquecer que ele existe.
E você, ainda tem telefone fixo? Pensando nisso fui buscar lembranças e acabei encontrando a foto de algo que só os mais velhos lembrarão: um telefone de disco. Jovens, preparem-se para uma aula de história! Aquele disco giratório era usado para discar os números, e o cadeado com chave, usado por alguns, servia para impedir que fossem feitas chamadas sem permissão.
Eram outros tempos, as ligações eram caras e assim a comunicação era uma questão de disciplina – ou de controle. E considerando que muitas pessoas já nasceram com um celular na mão e nunca viram um ‘orelhão’, é preciso detalhar: os telefones de disco foram os primeiros automáticos, dispensando o auxílio da telefonista para efetuar a ligação; mais tarde eles foram substituídos pelos de teclas. Com a evolução da tecnologia e a paulatina substituição pelos celulares, parece que mesmo esses estão se tornando raros.
No entanto, essas mudanças não vieram de uma vez e eu lembro de quando tudo era ainda mais complicado. No caso dos telefones, minhas recordações mais antigas remontam aos telefones manuais; o da minha casa era 4129; a loja de móveis da família tinha dois, um deles o 80, o que fazia de meu avô Salomão Guelmann o octogésimo assinante telefônico de Curitiba. Na fábrica de móveis no Portão (na rua que hoje leva o nome dele) era 4122.
Para falar com qualquer outro assinante era preciso levantar o monofone e após a Telefonista atender, o que podia demorar um pouco, pedir a ligação. Se o número desejado fosse da mesma central, ela conectava; para as demais era preciso dizer o nome da ‘estação’ e ela fazia a transferência para que você desse o número à outra operadora.
A casa dos meus pais era na R. Ângelo Sampaio, entre Petit Carneiro e Brasílio Itiberê, e não estou seguro se nossa estação era ‘Batel’ ou ‘Água Verde’, mas lembro bem que esse procedimento só foi alterado a partir da mudança para as centrais automáticas e a introdução dos telefones de disco, nos anos 60, se não estou enganado.
O avanço para os telefones automáticos foi revolucionário – embora caro. Na época, ter uma linha era um luxo, um bem que precisava constar na declaração de imposto de renda; a dificuldade e o custo faziam com que muitas pessoas recorressem ao aluguel através de empresas especializadas.
Lembro-me, quando criança, de pessoas que para fechar negócios com empresas de São Paulo optavam por ir de automóvel para não se sujeitar à demora – e é bom registrar que isso era feito pela estrada antiga, não pavimentada.
Os anos 70 trouxeram nova revolução: o DDD, em 1974, passou a permitir que chamadas interurbanas fossem feitas sem o auxílio de operadores. Depois disso a outra grande mudança foi mesmo a telefonia móvel, fazendo com que já em 2000 os celulares começassem a superar o número de linhas fixas – e nunca mais olhamos para trás.
Minha geração certamente testemunhou as maiores mudanças nas comunicações. Usei telefones manuais, de disco, de teclas e agora não desgrudo do celular. Vivi a era do telegrama, do telex e do fax, e hoje envio mensagens em segundos e falo quase de graça para qualquer lugar do mundo. Não sei o que está por vir, mas torço para que a tecnologia continue aproximando as pessoas – e que, junto com ela, a humanidade descubra novas formas de se entender.
Leia outras colunas do Gerson Guelmann aqui.
Para nós, setentões, os telefones fixos foram importantes em nossas atividades lá pelos anos 50/60/70.
Namorar, por exemplo: ficava-se horas namorando, até que alguém da família – nossa ou dela – pedisse o telefone para fazer uma ligação.
Para saber o filme e o horário das exibições, ligava-se para o cinema; lá em Petrópolis, o Cine Capitólio atendia pelo número 2626; o Cine Petrópolis; 3232; o Cine Esperanto, 2237 e assim por diante.
Nosso número era o 5527, que me acompanhou durante toda a minha adolescência.
Quando assumi a gerência da agência de Morretes da Caixa Econômica Federal, em agosto de 1974, o telefone era de magneto: você rodava uma manivelinha ao lado do aparelho; uma telefonista atendia e você pedia a ligação. Se fosse para Curitiba, deveria pedir pela manhã para falar à tarde – ou não falar, dependendo do congestionamento das poucas linhas existentes.
É; realmente o progresso na telefonia foi extraordinário. Só espero que aproxime as pessoas, e não as afaste umas das outras, como se vê comumente numa família, em que todos só têm atenção para os seus respectivos aparelhos…
Hélio, nossa geração testemunhou – na realidade ainda está testemunhando – uma revolução extraordinária nas comunicações. Caso não tenha tido oportunidade, leia este meu artigo:
https://hojepr.com/coluna-gerson-a-morte-do-presidente-americano-e-o-telegrama-da-minha-tia-avo/
Caro amigo! Sua historia me fez viajar! Confesso que para mim elas sao sempre um belo exercício para a memória! Hoje fui buscar num recôndito protegido historias da infância na casa dos meus avós ! La estava o numero 4231 do telefone que incontáveis vezes apostei corrida para atender! Obrigada por fazer-me recordar de momentos tão especiais! 👏🏻👏🏻🌺🌺😘😘
Dayse, a idéia é exatamente essa: fazer os Amigos viajar no tempo… Que bom!
Ainda tenho linha operacional ###2-1957. Rss
Ronaldo, eu continuo sem saber o número (será que consta na fatura)? Isso porque anda não comprei o cabo para ligar o aparelho na tomada na parede…