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Do cadeado no disco ao celular na mão: uma viagem no tempo

18/11/2024

cadeado

Semana passada tivemos uma situação aqui em casa que exigia o uso do telefone fixo. Melhor: ‘exigiria’ o uso, mas isso não foi possível porque demoramos para encontrá-lo, e quando o achamos, estava sem o cabo para ligar.

Como diz o ditado, “o que não tem remédio, remediado está” e a tentativa nos fez lembrar que não sabemos o número dele – se um dia precisarmos novamente, teremos que procurar na conta do provedor de internet. Mas não ter o fixo funcionando tem suas vantagens; nada de ofertas incessantes de planos de internet, jazigos, seguros, doações para entidades suspeitas… Um silêncio tão bom que quase nos faz esquecer que ele existe.

E você, ainda tem telefone fixo? Pensando nisso fui buscar lembranças e acabei encontrando a foto de algo que só os mais velhos lembrarão: um telefone de disco. Jovens, preparem-se para uma aula de história! Aquele disco giratório era usado para discar os números, e o cadeado com chave, usado por alguns, servia para impedir que fossem feitas chamadas sem permissão.

Eram outros tempos, as ligações eram caras e assim a comunicação era uma questão de disciplina – ou de controle. E considerando que muitas pessoas já nasceram com um celular na mão e nunca viram um ‘orelhão’, é preciso detalhar: os telefones de disco foram os primeiros automáticos, dispensando o auxílio da telefonista para efetuar a ligação; mais tarde eles foram substituídos pelos de teclas. Com a evolução da tecnologia e a paulatina substituição pelos celulares, parece que mesmo esses estão se tornando raros.

No entanto, essas mudanças não vieram de uma vez e eu lembro de quando tudo era ainda mais complicado. No caso dos telefones, minhas recordações mais antigas remontam aos telefones manuais; o da minha casa era 4129; a loja de móveis da família tinha dois, um deles o 80, o que fazia de meu avô Salomão Guelmann o octogésimo assinante telefônico de Curitiba. Na fábrica de móveis no Portão (na rua que hoje leva o nome dele) era 4122.

Para falar com qualquer outro assinante era preciso levantar o monofone e após a Telefonista atender, o que podia demorar um pouco, pedir a ligação. Se o número desejado fosse da mesma central, ela conectava; para as demais era preciso dizer o nome da ‘estação’ e ela fazia a transferência para que você desse o número à outra operadora.

A casa dos meus pais era na R. Ângelo Sampaio, entre Petit Carneiro e Brasílio Itiberê, e não estou seguro se nossa estação era ‘Batel’ ou ‘Água Verde’, mas lembro bem que esse procedimento só foi alterado a partir da mudança para as centrais automáticas e a introdução dos telefones de disco, nos anos 60, se não estou enganado.

O avanço para os telefones automáticos foi revolucionário – embora caro. Na época, ter uma linha era um luxo, um bem que precisava constar na declaração de imposto de renda; a dificuldade e o custo faziam com que muitas pessoas recorressem ao aluguel através de empresas especializadas.

Lembro-me, quando criança, de pessoas que para fechar negócios com empresas de São Paulo optavam por ir de automóvel para não se sujeitar à demora – e é bom registrar que isso era feito pela estrada antiga, não pavimentada.

Os anos 70 trouxeram nova revolução: o DDD, em 1974, passou a permitir que chamadas interurbanas fossem feitas sem o auxílio de operadores. Depois disso a outra grande mudança foi mesmo a telefonia móvel, fazendo com que já em 2000 os celulares começassem a superar o número de linhas fixas – e nunca mais olhamos para trás.

Minha geração certamente testemunhou as maiores mudanças nas comunicações. Usei telefones manuais, de disco, de teclas e agora não desgrudo do celular. Vivi a era do telegrama, do telex e do fax, e hoje envio mensagens em segundos e falo quase de graça para qualquer lugar do mundo. Não sei o que está por vir, mas torço para que a tecnologia continue aproximando as pessoas – e que, junto com ela, a humanidade descubra novas formas de se entender.

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6 comentários em “Do cadeado no disco ao celular na mão: uma viagem no tempo”

  1. Para nós, setentões, os telefones fixos foram importantes em nossas atividades lá pelos anos 50/60/70.
    Namorar, por exemplo: ficava-se horas namorando, até que alguém da família – nossa ou dela – pedisse o telefone para fazer uma ligação.
    Para saber o filme e o horário das exibições, ligava-se para o cinema; lá em Petrópolis, o Cine Capitólio atendia pelo número 2626; o Cine Petrópolis; 3232; o Cine Esperanto, 2237 e assim por diante.
    Nosso número era o 5527, que me acompanhou durante toda a minha adolescência.
    Quando assumi a gerência da agência de Morretes da Caixa Econômica Federal, em agosto de 1974, o telefone era de magneto: você rodava uma manivelinha ao lado do aparelho; uma telefonista atendia e você pedia a ligação. Se fosse para Curitiba, deveria pedir pela manhã para falar à tarde – ou não falar, dependendo do congestionamento das poucas linhas existentes.
    É; realmente o progresso na telefonia foi extraordinário. Só espero que aproxime as pessoas, e não as afaste umas das outras, como se vê comumente numa família, em que todos só têm atenção para os seus respectivos aparelhos…

  2. Caro amigo! Sua historia me fez viajar! Confesso que para mim elas sao sempre um belo exercício para a memória! Hoje fui buscar num recôndito protegido historias da infância na casa dos meus avós ! La estava o numero 4231 do telefone que incontáveis vezes apostei corrida para atender! Obrigada por fazer-me recordar de momentos tão especiais! 👏🏻👏🏻🌺🌺😘😘

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