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gerson guelmann

Jaime Lerner, a greve de servidores e a campainha

24/06/2024
jaime

Os Curitibanos têm saudade do Jaime Lerner. A gente percebe isso nas conversas, nas mídias, em todos os lugares. O assunto é sempre o mesmo: a Curitiba de antes e depois dele. Não é exagero dizer que há uma certa nostalgia de Jaime Lerner. Claro que há uma geração inteira que não acompanhou as gestões dele e que, como ele mesmo dizia, “nasceu com a estação-tubo na frente da casa”, mas o legado está aí e a História lhe fará justiça.

Trabalhamos juntos 14 anos: quatro na última gestão na Prefeitura, dois montando o Instituto Jaime Lerner e preparando a 1ª campanha estadual, e mais oito no Governo do Paraná. A relação de amizade já era antiga, porque além da amizade familiar, a partir de 1982 estivemos juntos em algumas campanhas eleitorais.

Para falar a verdade, o começo foi catastrófico; compartilhamos três derrotas. Alguém disse “já ganhei eleições e já perdi; ganhar é melhor”, e se fossemos considerar isso teríamos que desistir. Começamos perdendo em 1982 com a campanha do Saul Raiz ao Governo do Estado. Em 1985 mais uma derrota: na primeira eleição para prefeitos das capitais da chamada Nova República, o Jaime ficou em 2º, perdendo por pouco menos de 4%. No ano seguinte veio o 3º fracasso, com o Jaime concorrendo como vice-governador em uma eleição que se prenunciava desastrosa desde o início.

Bom, cada eleição tem uma história e aí veio 1988 com o vitorioso “Coração Curitibano”, sobre o qual muito já se falou e que ainda merecerá meu relato. Vencida a “eleição dos 12 dias”, o Jaime me convidou para fazer parte da equipe. Quando perguntei se me daria alguns dias para pensar, a resposta veio “de sem-pulo”, ao estilo dele:

– Os que me pressionaram para concorrer não podem pedir tempo para aceitar.

Saí da reunião e fui juntar os documentos para a nomeação.

Foram 4 anos gloriosos em que o Jaime consolidou ideias e planos baseados em projetos implantados nas duas gestões anteriores. Assim é natural que eu tenha muitas histórias para contar, algumas mostrando o lado espirituoso dele, conhecido pelo notável bom humor e raciocínio rápido. Raras vezes presenciei uma demonstração de mau humor ou irritação do Jaime, mesmo em situações de estresse. Isso acabava permeando e fazendo parte do comportamento de toda a equipe, que trabalhava no mesmo estilo.

O caso que conto hoje aconteceu na época da Prefeitura. Os dois Sindicatos dos Servidores decidiram fazer greve e bloquearam as entradas do prédio central, exigindo que o Prefeito recebesse a comissão formada para negociar.

O Jaime concordou com o pedido e recebeu o grupo na sala de reuniões do Gabinete, com a presença dos Secretários da Administração e Finanças. Como Chefe de Gabinete, eu estava presente.

Depois que os dirigentes dos Sindicatos subiram para a reunião, os grevistas se dividiram; um grupo saiu da entrada do prédio na Cândido de Abreu e foi para a rua Papa João XXIII na parte de trás do prédio. Ali, exatamente embaixo da janela da sala, ficaram gritando as costumeiras palavras de ordem e apitando sem parar.

Quando todos estavam sentados, o Jaime abriu a porta de ligação entre a sala dele e a de reuniões e antes mesmo de sentar, disse aos Sindicalistas:

– Se você chega na minha casa, toca a campainha e eu atendo, você não precisa continuar com o dedo no botão. Por favor, um de vocês desça lá, diga que já estamos conversando e que podem parar a gritaria.

Um dos presentes desceu, deu o recado e a reunião começou.

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2 comentários em “Jaime Lerner, a greve de servidores e a campainha”

  1. Duas pessoas q gostaria de ter conhecido e trocado um dedo de prosa, saudoso Jaime Lerner, e Paulo Pimentel, (que vi a poucos dias dando uma entrevista na tv.). Jaime q assisti algumas entrevistas, já antiga, gostei muito de qd foi fazer a(obra) a rua das flores. Realmente deixu um legado enorme p o mundo.

  2. Lembrar JL e sempre bom. Um otimo prefeito, governador, amigo, e uma mente criativa e genial.Deixou saudades

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