Como ontem festejamos o Dia das Mães, pesquisei e descobri que, assim como no Brasil, o 2º domingo de Maio é adotado para a celebração em diversos países, ainda que de forma diferente em alguns deles.
Segundo se sabe, o Dia das Mães começou nos Estados Unidos, onde a data foi oficializada em 1914 pelo presidente Woodrow Wilson, após campanha feita por uma mulher chamada Anna Jarvis. A mãe de Anna faleceu em 1905 e ela começou o movimento para homenagear as mães pelo sacrifício delas em favor dos filhos. Apoiada por comerciantes a campanha ganhou impulso, levando o presidente a estabelecer a data como um feriado nacional. Verdade seja dita, com o passar dos anos Anna Jarvis se desiludiu com a comercialização excessiva da data, que ela desejava que fosse um dia para as pessoas expressarem seu amor e gratidão pelas mães de forma genuína.
Mesmo admitindo como corretas as críticas ao excessivo aspecto comercial da data, é perfeitamente possível compatibilizar isso com o desejo sincero das pessoas que desejam homenagear e agradecer às mulheres que as trouxeram ao mundo ou as aceitaram e criaram como filhos.
Ainda no espírito da homenagem resgatei um texto que ilustra bem o que as Mães fazem nos tempos atuais, onde se deparam com o dilema representado pelas responsabilidades familiares e profissionais e são forçadas a cumprir “um 2º ou 3º turno” para conciliar a maternidade com uma carreira profissional.
A elas, assim, minha homenagem!
“Uma mulher chamada Ana foi renovar sua carteira de motorista.
Pediram-lhe para informar qual era sua profissão. Ela hesitou, sem saber como se classificar.
“O que eu pergunto é se tem algum trabalho”, insistiu o funcionário.
“Claro que tenho um trabalho” exclamou Ana. “Sou mãe!”
“Nós não consideramos mãe um trabalho. Vou colocar dona de casa”, disse o funcionário friamente.
Não voltei a lembrar-me desta história até o dia em que me encontrei em situação idêntica. A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante.
“Qual é a sua ocupação?” perguntou.
Não sei o que me fez dizer isto. As palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora: “Sou Doutora em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas”.
A funcionária fez uma pausa, a caneta apontando para o ar, e olhou-me como quem diz que não ouviu bem.
Eu repeti pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas.
Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo no questionário oficial.
“Posso perguntar” disse-me ela com novo interesse “o que faz exatamente?”
Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder: “Desenvolvo um programa de longo prazo (qualquer mãe faz isso…), em laboratório e no campo experimental (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa).
Sou responsável por uma equipe (minha família), e já recebi quatro projetos (todas meninas)”.
Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma mulher discorda?).
O grau de exigência é a nível de 14 horas por dia (para não dizer 24)”.
Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária, que acabou de preencher o formulário, se levantou, e pessoalmente abriu-me a porta.
Quando cheguei em casa, com o título da minha carreira erguido, fui recebida pela minha equipe: uma com 13 anos, outra com 7 e outra com 4.
Do andar de cima, pude ouvir meu novo experimento – um bebê de seis meses – testando uma nova tonalidade de voz.
Senti-me triunfante!
Maternidade… que carreira gloriosa!
Assim, as avós deviam ser chamadas “Doutoras-Sênior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas”, as bisavós “Doutoras-Executivas-Sênior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas” e as tias “Doutoras-Assistentes”.
Uma homenagem carinhosa a todas as mulheres, mães, esposas, amigas, companheiras, Doutoras na Arte de Fazer a Vida Melhor!”
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