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19/04/2024



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Minhas lembranças do Rolando Boldrin

 Minhas lembranças do Rolando Boldrin

O falecimento do Rolando Boldrin, semana passada, trouxe à memória o breve período em que convivi com ele, em 1994.

Para contextualizar, é preciso explicar como isso aconteceu: quando estávamos organizando a campanha do Jaime Lerner ao governo do Paraná em 1994, fiz parte da equipe encarregada de montar o comitê, no local onde funcionou o Curtume Curitiba, na rua Itupava, onde hoje existe o Colégio Positivo.

Foi um tempo relativamente curto, mas muito intenso pela camaradagem que se estabeleceu dentro do grupo, exatamente em razão da personalidade desse artista fenomenal.

Quando avisei meus filhos do falecimento do Boldrin, eles lembraram que ele esteve em nossa casa, o que eu havia esquecido.

Voltando no tempo para explicar como o Rolando Boldrin foi parar dentro de um comitê: a 3ª gestão do Jaime na Prefeitura de Curitiba havia terminado em 1992 e o próximo passo seria a disputa do governo do Estado, que já tinha um candidato de peso, o Álvaro Dias.

É importante lembrar que ele tinha sido vereador em Londrina, deputado estadual, federal, senador e governador.

O Jaime, enquanto isso, tinha bom potencial de votos na Capital e Região Metropolitana.

Quando o nome dele era apresentado aos eleitores do interior, eventualmente alguém perguntava, para confirmar, se era “o que tinha sido prefeito de Curitiba”.

Diante desse quadro e por sugestão do pessoal de mídia, trouxemos o Rolando Boldrin para “ancorar” os programas eleitorais.

Ele já era famoso por ter comandado, na década de 80, os programas Som Brasil, (TV Globo), Empório Brasileiro (TV Bandeirantes) e Empório Brasil (SBT).

Foi decidido, então, fazer um cenário semelhante ao que o Rolando usava nos programas.

Assim, pelo forte vínculo com as pessoas do campo, ele apresentaria a um Paraná predominantemente rural o técnico responsável pela transformação de Curitiba.

Parecia claro que os programas de TV com o Rolando, e o Jaime detalhando, “na porta do rancho”, os planos para a ação do novo governo, atingiriam em cheio os eleitores do interior.

Lembro de ter tirado uma foto com ele nesse cenário, resta saber onde está.

Tudo caminhava bem, mas antes do começo da campanha a legislação eleitoral mudou e foi proibida a participação de artistas nos programas.

Diante disso, alteramos a estratégia e o Rolando fez somente a apresentação dos comícios, já que não havia outra opção.

Lá no “Cortume”, como o local ficou conhecido, tive bons papos com o Rolando, quase sempre sobre os “causos” nos quais ele era especialista.

Vou contar dois deles, ambos sobre um personagem de São Joaquim da Barra, no interior de São Paulo, onde ele nasceu.

Ele contava que a cidade tinha uma espécie de “vagabundo oficial”, famoso pela ojeriza ao trabalho.

Uma vez o homem desapareceu e correu o boato de que havia morrido, mas o sumiço durou pouco e ele retornou em seguida. Logo que chegou no único café da cidade, alguém perguntou:

– E aí, fulano, tudo bem? Disseram que você tinha morrido.

– Nada, seu, tá louco… Eu fui trabalhar em Orlândia, respondeu.

Quando disse isso, a roda toda gargalhou, porque era conhecida a repulsa dele à qualquer coisa que representasse esforço físico. E a conversa continuou:

– E o que você foi fazer lá?

– Fui trabalhar numa lavoura de batata.

Ainda sob a descrença da turma, veio a outra pergunta:

– E porque voltou tão rápido?

Confirmando que o preguiçoso sempre arranja uma justificativa para escapar do trabalho, ele respondeu:

– Porque eu queria serviço para plantar e lá só tinha para arrancar.

A outra história do mesmo personagem foi a de um 2º desaparecimento, tão breve quanto o anterior.

Assim que retornou à cidade e entrou no tal café, veio a mesma pergunta sobre o sumiço, que ele esclareceu:

– Arranjei serviço em Ribeirão Preto.

Mais uma vez os amigos riram, e um deles perguntou:

– O que você fazia?

– Eu era guia de cego.

Nova gargalhada, até que outro amigo questionou:

– De que jeito você podia ser guia de cego, se não conhecia Ribeirão Preto?

E a resposta do “trabalhador”:

– Mas o cego conhecia.

RIP, Rolando Boldrin. O povo aí no Céu vai se encantar com teus causos.

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