Todas as pessoas que acessam a Internet (e há alguém nesse mundão de D’us que não faça isso?) sabem que existe um “ente”, uma espécie de “Big Brother”, que sabe muito a nosso respeito — e não estou falando do desfile imbecilizante de futilidades da Globo.
Estou falando do Google, o mecanismo de buscas que, se sozinho já sabia muito sobre nós, agora, em parceria com a tal da Inteligência Artificial, é capaz de nos conhecer melhor do que nossa própria mãe. Ok, vamos dar um desconto, mas, mesmo que você não seja um usuário tão assíduo do PC ou do celular, pode acreditar: “Ele” sabe muito sobre você.
Há muito tempo o Google assumiu um papel importante em nossas vidas, e sua presença vai muito além de ser a maior ferramenta mundial de buscas. Quem usa qualquer um dos muitos aplicativos desenvolvidos pelo Google sabe que suas informações pessoais estão todas lá. E mais: é quase impossível não expor seus dados a partir do momento em que você navega na rede.
Assim, o “Big Brother” da obra de George Orwell hoje seria um sistema de vigilância digital, no qual nossos dados pessoais estariam — ou melhor, estão — acessíveis. Existe um conceito de que, na Internet, quando o serviço é gratuito, o produto é você — e isso explica por que somos “invadidos” por mensagens e anúncios de produtos logo após fazermos uma pesquisa.
Bom, sobre isso circula uma história bem engraçada sobre o que aconteceria se sua pizzaria favorita fosse adquirida pelo Google. A partir dela, com meu próprio humor e a ajuda da I.A., criei uma nova versão:
– Alô, é da pizzaria Gordon?
– Não, senhor, é da pizzaria Google.
– Desculpe, devo ter ligado para o número errado.
– Não, o número está correto. O Google comprou a pizzaria.
– Ah, entendi. Pode anotar o meu pedido?
– Claro, o senhor quer a pizza de sempre?
– Como assim, você já trabalhava aí? Como sabe qual é o sabor que costumo pedir?
– É que, pela identificação do seu telefone, nosso sistema informa que nas últimas 12 vezes o senhor pediu pizza de salame com queijo, massa grossa e bordas recheadas.
– Isso, pode fazer essa mesma.
– No lugar dessa, posso tomar a liberdade de sugerir uma de massa fina, farinha integral e cobertura de rúcula com tomate seco?
– Não, eu odeio vegetais.
– Realmente notamos que o senhor tem comprado menos vegetais no mercado. Podemos oferecer um desconto em uma pizza vegetariana para incentivar uma alimentação mais equilibrada. Seu histórico de buscas mostra que o senhor pesquisou sobre refluxo gástrico três vezes esta semana e curtiu três publicações sobre dieta mediterrânea; não quer então experimentar nossa pizza grega? Lembramos que o seu colesterol está muito alto.
– Quem te disse isso? Como você sabe?
– Nós acompanhamos os exames laboratoriais de nossos clientes e temos todos os seus resultados dos últimos 7 anos. Queremos que todos tenham vida longa .
– Agradeço a preocupação, mas eu tomo remédios para controlar o colesterol. E quero a pizza de sempre.
– O senhor não está tomando a medicação regularmente, porque nos últimos 4 meses só comprou uma caixa com 30 comprimidos na farmácia do seu bairro. E falando nisso, há um registro de que a câmera do seu celular detectou 3 cravos novos na testa. A farmácia está com uma promoção e poderá incluir um esfoliante no pedido.
– Eu passei a comprar em outra farmácia.
– No seu cartão de crédito não aparece.
– Eu paguei em dinheiro.
– Mas, de acordo com seu extrato bancário, o senhor não fez saque no caixa automático nesse período.
– Eu tenho outra fonte de renda.
– Isso não consta na sua Declaração de Imposto de Renda, a menos que seja uma fonte pagadora não declarada, e nesse caso o senhor poderá ter problemas com a Receita Federal.
– Mas que inferno! Estou cansado de ter minha vida vigiada e vasculhada pelo Google, Facebook, X, WhatsApp, Instagram, essas porcarias todas! Vou mudar para uma ilha sem internet e sem telefone celular, onde ninguém possa me espionar.
– A decisão é sua, senhor, mas quero lhe avisar que seu passaporte venceu há 5 semanas.
– Droga! Bom, ao menos vou tomar um bom vinho quando chegar essa droga de pizza.
– Não seria melhor um suco natural? Seu último exame mostrou uma leve resistência à insulina. Eu recomendaria Maracujá, acalma. O Waze mostra que semana passada o senhor xingou uma porção de motoristas em um congestionamento.
– Chega! Mas já que vocês estão se metendo em tudo o que me diz respeito, me dê uma dica de bom filme na Netflix.
– Sugiro evitar suspense e terror, já que de acordo com seu smart-watch seus batimentos cardíacos aumentaram 15% quando assistiu aquele filme semana passada. E tem mais: nada de maratonar séries aos domingos. Seus colegas de firma trocaram e-mails e disseram que o chefe reclamou de sua produtividade na segunda-feira.
– Para mim, chega!
– Perfeito, senhor! A propósito, percebemos que sua assistente virtual Alexa acabou de confirmar que você resmungou: ‘Droga, esqueci de ir à academia de novo’. Quer que eu agende um alerta diário? Aproveitando: se o senhor um dia for mesmo para uma ilha, lembre-se de desconectar a Alexa. Ela nos contou que, semana passada, o senhor cantou “Boate Azul” no chuveiro. Mal, por sinal.
– Mas que inferno…
– Ah, e antes de desligar… O senhor prefere que a nota fiscal seja emitida para “Genésio” ou no seu apelido de família, “Gene”? Pelo histórico do seu WhatsApp, vimos que sua mãe ainda lhe chama assim.
(O cliente desligou).
“O Google já sabe que você está lendo isso. Enquanto rola a tela, ele está atualizando seu perfil com a anotação ‘‘costuma ler a coluna do Gerson Guelmann zs no HojePR’”. ️
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