Você é ‘cachorreiro’? Esse neologismo se aplica a mim, minha mulher e meus filhos.
Em criança morei em rua onde tios e primos tinham residências contíguas, separadas apenas por muros simples que delimitavam os terrenos e possuíam aberturas que possibilitavam a circulação de todos, incluindo o ‘Xeique’. Ele era o cachorro de toda a família e ‘tinha base’ na nossa casa. Éramos cinco crianças, e como meu pai era o caçula dos meus avós e nós os menores da ‘primarada’, tínhamos mais tempo para mimar o Xeique. O xodó dele era o Gilson, o irmão do meio; a ligação entre eles era tão forte que alguns simulavam bater nele apenas para ver como o Xeique latia, mostrando disposição em avançar.
Só que, como era costume naqueles tempos, cachorro ficava fora de casa. Tinha lugar coberto para ficar, comida e água fartos, mas os limites eram estabelecidos. No meu caso, mesmo após casar e já com os primeiros filhos, para os cães a regra ainda era essa. Conforto e cuidados abundantes, mas humanos de um lado, cachorros do outro, era a lei.
Com o 2º casamento ganhei outros dois filhos e a graduação como ‘cachorreiro’, desses que tratam seus cães como membros da família, dedicam tempo e atenção a eles, falam frequentemente sobre cachorros e, é claro, compartilham fotos nas redes sociais. Quando cheguei encontrei uma basset já instalada e gozando dos benefícios da anterioridade. Chamava-se Preta e tinha 45 dias quando a Rosane a trouxe no colo, do RS, de carro. Me recebeu muito bem e veja só, até me deixou dormir na cama com elas! (rsrsrs)
A Preta morreu idosa e durante algum tempo não foi substituída, até que um amigo defensor da causa animal nos trouxe – ‘nos coagiu’ seria mais correto – outras duas ‘meninas’, Tallulah e Laika, ambas também basset. Já adultas, uma delas com problemas de saúde, foram tratadas ou, como digo, ‘consertadas’. Mas… Como ‘cachorreiros juramentados’, duas não eram suficientes e nesse ínterim a Rosane arranjou uma terceira, resgatada de um caixa automático onde se abrigou após ter sido abandonada na rua. A ‘Dinga’ quebrou o paradigma do porte; pesava 32k e o que tinha de tamanho tinha também de doçura.
Durante a pandemia e em curto espaço de tempo as três foram ‘para o céu dos cachorros’ (não ria, desacreditar que ele existe é arrumar encrenca com a gente) e aí a Rosane demorou para atender meus apelos para uma nova ‘aquisição’. Finalmente, em maio do ano passado chegou a ‘Banga’: uma ‘protetora’ a ofereceu no Facebook e, é claro, também precisava de ‘reparos’. Ela chama a atenção por ter heterocromia (um olho de cada cor) e reina soberana, condicionando nossa vida na mesma medida em que nos alegra. Ela me motivou a dividir com os leitores, cachorreiros ou não, um poema de Thaís Cristine de Oliveira.
Ela mostra que ter um cão em casa é uma experiência transformadora. Quem têm sabe que há algo mágico em abrir a porta e ser recebido por um turbilhão de pelo e alegria. O som das patas, o rabo abanando freneticamente e os olhos cheios de amor puro… A verdade é que esses animais não são apenas companheiros leais, mas sim, se transformam em membros da família e trazem alegria, amor e conforto para nossas vidas. O poema traduz esse vínculo especial e mostra como os cães se tornam parte integrante de nossas rotinas, sempre prontos para nos receber com entusiasmo e carinho, independentemente do nosso humor ou das circunstâncias:
Na Casa Que Tem Cachorro
Na casa que tem cachorro
Não falta hospitalidade,
você foi só até a padaria
mas é recebido com saudade.
E ele te olha como quem diz:
– “Não faz mais isso comigo não”.
Na casa que tem cachorro
Nunca tem muita organização
Tem mordidas no sofá
E pelinhos pelo chão
Tem almofadas que explodem,
Sem muita explicação
Tem pãezinhos “fossilizados”
Assim, muito bem enterrados
Lá no fundo do colchão.
Na casa que tem cachorro
Nunca falta diversão,
Você nunca está sozinho,
É só olhar pra o ladinho
Pra enxergar seu amigão
Ele deita nos seus pés
Ele pula nos seus braços
E quando você está triste
Nunca te falta um abraço.
Na casa que tem cachorro
Seja ela uma mansão
Seja um casebre simples,
Seja um pedaço de chão,
Onde quer que tu estejas
Contigo estará seu cão
Te oferecendo o espaço
Mais bonito e enfeitado
Cheio de amor e laços
Dentro do seu coração.
Na casa que tem cachorro
Nunca falta amizade,
Ele sempre te dedica
Toda a sua lealdade
Pra ver filme no sofá
Ele é o seu parceiro
E não te falta companhia
Até pra ir ao banheiro.
Na casa que tem cachorro
As vezes fica o vazio
Deixado pelo cachorro
Que na sua hora, partiu
Sobe para o Céu com saudades
Mas também com gratidão
Desejando que o seu lar
Abra as portas prá outro cão
Pra te dar o amor mais puro
E aquecer seu coração.”
(Thaís Cristine de Oliveira)
Leia outras colunas do Gerson Guelmann aqui.
4 Comentários
Gerson, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, já te admirávamos pelas boas postagens sempre com bons ensinamentos dentro de uma ótica positivista e bem humorada.
À partir de hoje já somos velhos amigos.
Seja pela proximidade etária, seja inda mais pelo paralelismo histórico em experiências de família.
Quando pequeno, Pai Delegado de Polícia, época dos “calça curta”, periodicamente transferido onde quer que o Estado necessitasse de seus serviços público profissionais, pelas cidades do Norte velho do Paraná, assim como do Oeste à Centro-Oeste.
Tal qual nômades, a expressão “amigos de infância” foi sendo substituída pelo “esforço para acompanhar” as aulas do novo colégio na nova cidade, nunca decepcionando sequer com uma nota “prá recuperação”.
Mas aquela similaridade citada se dava por uma constante: sempre morando em casa e sempre com um Pastor Alemão por melhor amigo, O Lobo!
Esse meu “quase” único amigo… (sim, “quase” porque meus pais e minha irmã também eram meus amigos, mas sabe como é)… Então, esse meu quase único amigo me ensinou muitos valores quais, hoje, num salto quântico prá não extender esmiuçadamente as nuances da vida, estando eu já sexagenário vivencio plena felicidade com minha esposa e nossos 18 serumaninhos, 11 amigatos e 7 amicães. Todos bem distribuídos confortavelmente em cômodos próprios, tratados como nossos filhos com o nosso melhor!
Sim, tenho 3 filhos humanos, rsrs, já crescidos e independentes que vem nos visitar, quando em vez, porém deixam seus próprios serumaninhos em suas respectivas residências para não conflitar com os nossos.
Grato pela oportunidade e parabéns pela condução de seus paradigmas.
Adorei!!!!!!
Esses seres especiais dão mais vida e muitas alegrias para seus protetores. Ou eles é que são os protetores?
Amei, Gerson!!!👏👏👏