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Quando a omissão é cúmplice da opressão

19/02/2024
justiça

O título de minha coluna de hoje poderia ser também “Quando a Omissão Vira Alienação”.

 

Explico: tempos atrás publiquei no meu Blog texto que convidava à reflexão sobre o fato de que muitas vezes, talvez pelo ritmo frenético da vida, nos defrontamos com situações que chocam nossa ética e senso de justiça, e por comodismo ou medo optamos pelo silêncio.

 

Lembrei da postagem por duas razões: a primeira porque me entristece perceber a posição de pessoas que sempre considerei sensatas e justas frente ao que está acontecendo na guerra Israel X Hamas. Não me coloco ao lado dos que logo classificam todos como antissemitas, ainda que alguns até possam ser, mas o que realmente me aborrece é a completa omissão à barbárie de 7/10, como se ação militar israelense estivesse desvinculada de qualquer outro acontecimento. Essas pessoas, aliás, aparentam desconhecer que a história recente dos Judeus é fortemente marcada pela lembrança do Holocausto e por preocupações com a segurança e o respeito à sua comunidade.

 

Mas, repito, essa é uma das razões: a outra é porque o texto que originou aquela minha postagem voltou a circular, e então, “peguei o gancho” para convidar meus Leitores a refletir sobre essa verdade: se fecharmos os olhos para a realidade e silenciarmos diante de injustiças, contribuiremos para a alienação da nossa própria humanidade. Passaremos então a ser cúmplices do que condenamos.

 

Agora, à história:

 

“No primeiro dia de aula, o professor de ‘introdução ao Estudo do Direito’ entrou na sala e a primeira coisa que fez foi perguntar o nome a um aluno que estava sentado na primeira fila:

 

– Qual é o seu nome?

 

– Chamo-me Nelson, Senhor.

 

Gritando, o Professor disse:

 

– Saia de minha aula e não volte nunca mais!

 

Nelson ficou desconcertado e, quando voltou a si, levantou-se rapidamente, recolheu suas coisas e saiu da sala.

 

Todos estavam assustados e indignados, porém ninguém falou nada.

 

O austero professor continuou:

 

– Agora sim! – vamos começar.

 

– Para que servem as leis?

 

Os alunos seguiam intimidados, mas pouco a pouco começaram a responder:

 

– Para que haja uma ordem em nossa sociedade.

 

– Não! – respondeu o professor.

 

– Para cumpri-las.

 

– Não!

 

– Para que as pessoas erradas paguem por seus atos.

 

– Não!

 

E o Professor insistiu:

 

– Será que ninguém sabe responder a esta pergunta?!

 

– Para que haja justiça – falou timidamente uma garota.

 

– Até que enfim! – disse o Mestre. – É isso, para que haja justiça.

 

E ele continuou a inquirir a plateia, mostrando impaciência:

 

– E agora, me digam: para que serve a justiça?

 

Todos começaram a ficar incomodados pela grosseria, porém seguiram respondendo:

 

– Para salvaguardar os direitos humanos…

 

– Bem, que mais? – perguntou o professor.

 

– Para diferençar o certo do errado, para premiar a quem faz o bem…

 

E sem mudar o tom, voltou a questionar:

 

– Ok, não está mal, porém respondam a esta pergunta: – agi corretamente ao expulsar Nelson da sala de aula?

 

Todos ficaram calados. Ninguém teve coragem de responder.

 

E ele gritou, sem dar trégua:

 

– Quero uma resposta decidida e unânime!

 

Dessa vez os estudantes responderam de imediato:

 

– Não! – falaram todos a uma só voz.

 

– Poderíamos dizer que cometi uma injustiça?

 

– Sim!

 

Após uns poucos segundos, o Professor voltou a falar:

 

– E porque ninguém fez nada a respeito? Para que queremos leis e regras se não dispomos da vontade necessária para praticá-las? Cada um de vocês tem a obrigação de reclamar quando presenciar uma injustiça. Todos. Não voltem a ficar calados, nunca mais!

 

E terminou:

 

– Agora vou buscar o Nelson. Afinal, ele que é o Professor, eu sou aluno de outro período”.

 

Leia outras colunas do Gerson Guelmann aqui.

4 Comentários

  • E o que você diz de nossos juízes do STF judeus ( que são dois) não darem 48hs para se explicar de suas falas antisemitas? Se fosse o outro nem 48 hs dariam, já seria prisão na certa

  • Não há pior surdo que aquele que não quer ouvir e pior cego que aquele que não quer ver.

  • Muito bem colocado.

  • Sensacional!
    Não podemos aceitar o silêncio ou a omissão das pessoas. Essa atitude as torna cúmplices das barbáries!
    🤬👺🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬
    Diga NÃO ao ANTISSEMITISMO!!!

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