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03/05/2024

Almodóvar e a Paella Western: “Estranha Forma de Vida”

almodóvar

Passei a semana pensando sobre qual seria o filme escolhido da vez. Fucei a lista dos “assistidos recentemente”, olhei meus DVDs favoritos e nada. Tentei fingir que não, mas parecia que a escolha já estava feita quando, uns dias atrás, fui ao cinema assistir Estranha Forma de Vida (2023), último lançamento do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. Beleza que eu paguei um ingresso inteiro para ver um média metragem – o que rende uma discussão à parte –, mas que filmaço. Eu sei, caro leitor, que com a minha decisão estou quebrando a tradição dessa coluna, que geralmente só fala dos clássicos. Por isso vou me justificar: o filme é novo mas a paixão é antiga, afinal, mais uma pedrada do Almodóvar.

 

Não víamos caubóis homossexuais nas telas desde ‘O Segredo de Brokeback Mountain’ (2005), então o diretor tinha que lidar com as altas expectativas dos fãs de romances e de faroeste. E claro, os fãs de Pedro Pascal e Ethan Hawke são tão exigentes quanto. A história é a seguinte: Silva (Pascal) retorna à cidade para visitar seu velho amigo e xerife do vilarejo, Jake (Hawke). Após 25 anos sem se encontrar, os ex-pistoleiros passam a noite juntos e relembram momentos do passado, até que o verdadeiro interesse de Silva é revelado.

 

 

Sou fã dos gêneros nem lá pra lá nem pra cá, é justamente por isso que o conto tem seu valor. O diretor precisa enfiar uma história e todas as suas complexidades, como ambientação, emoções, sentido e ritmo em mais ou menos 30 minutos. Um dos pontos positivos da película é a solução do diretor para demonstrar a profundidade de uma relação tão longa quanto a de Silva e Jake em tão pouco tempo, por meio de diálogos, flashbacks e a própria química impressionante entre os atores. Longe de cair nos clichês da maioria das produções com temática LGBT+, Estranha Forma de Vida mistura a dose certa de drama com ação e erotismo, criando o clima que combina perfeitamente com a paixão caótica e amargurada dos caubóis.

 

A estética western clássica se mistura com alguns elementos híbridos, como a jaqueta verde de Silva que se destaca no deserto. Com alguns recursos, como certos toques de humor em forma de sátira ao próprio gênero de bang-bang, o diretor se vira bem, mesmo meio fora de sua zona de conforto. Isso sem contar que Almodóvar acertou demais no formato. Se em outras experiências com o cineasta a narrativa pode ficar meio lenta (não que isso seja uma reclamação, entendo que é o jeitinho dele de fazer filme) – como no meu favorito Má Educação (2004) – no média-metragem tudo toma o tempo que precisa tomar, e nenhum segundo à mais. Valeu a pena o ingresso. Ah, a coluna dessa semana é de média metragem também, espero que não se importem.

 

 

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