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Vô Dante Romanó levava as netas para o Baile de Carnaval do Concórdia. Década de 1960.
Lembro quando todas as primas foram de Pedrita. Tia María Zeni, tão querida, arrumou os cabelos de cada sobrinha da mesma forma: fez uma xuquinha no topo da cabeça na qual enrolou um osso de galinha.
Os vestidos tinham só um ombro, com as manchas costuradas, e as barras foram cortadas em zigue-zague.
Naquele ano, minha mãe tinha se antecipado e costurado uma saia de cetim azul-marinho para eu usar no Carnaval. Bordou toda ela à mão com missangas, canutilhos, vidrilhos e lantejoulas.
Todos disseram que estava linda mas eu não gostei. Fui contrariada; queria estar igual às primas, no Bloco das Pedritas.
Lembro que, para os Bailes do Concórdia, a mãe comprava sapatos novos de verniz preto na Cinderela, porque os velhos não serviam mais.
Ao chegar no Concórdia, a banda já tocava:
“Corta o cabelo dele, corta o cabelo dele…”
A diversão maior era ficar juntando os confetes espalhados pelo chão e encher os pacotes de papel (tipo de pão). Fazíamos entre nós um concurso de quem juntava mais. Quando estava bem cheio, estourávamos, e tudo se esparramava de novo no salão.
“Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é… Será que ele é…”
Depois, gostávamos de vir correndo a toda e frear bruscamente. No chão liso de madeira, forrado de confetes espalhados, nos deixávamos escorregar.
“O Pierrô Apaixonado, que vivia só cantando, por causa de uma Colombina, acabou chorando, acabou chorando…”
E as serpentinas? Eu não achava muita graça. Não tinha ainda força para fazê-las atravessar o salão pelos ares. Nas poucas tentativas, minhas serpentinas aterrissavam sem mal ter começado a se desenrolar.
“Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí…”
Uma ida até a mesa onde o vovô, sentado, observava.
“O jardineira, porque estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu? Foi a Camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu…”.
Pausa para um pastel de carne e um copo de Crush.
“Não fiques triste que esse mundo é todo teu e tu és muito mais bonita que a Camélia que morreu”
Só sei que ao lembrar desses momentos, me dá uma tristeza: quem sabe pelos sapatos que me causavam certo sofrimento, talvez por lembrar das pessoas que não estão mais aqui, ou ainda por lembrar da música “Ó Jardineira”, que meu pai tanto gostava.
Creio que, além dos motivos mencionados, eu achava a música triste, mesmo sendo uma Marchinha de Carnaval e, mesmo tratando-se de uma flor: contava o triste destino da camélia:
“..,foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu”
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