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karin romanó

A era do rádio em Curitiba

31/07/2024
rádio

Tínhamos ido almoçar na casa da Vó Cylá na Praça 29 de Março e voltávamos pela Rua Martim Afonso sentido Centro, quando um carro subindo pela Rua Cabral atravessou a via ignorando a preferencial e bateu em cheio na moto 750 cilindradas que meu irmão dirigia e eu na garupa.

O James teve ferimentos leves. Já eu tive muitos ferimentos, não perdi a consciência e lembro das pessoas em volta, a chegada da ambulância, as dores fortes, especialmente quando me colocaram na maca, e o sacolejo pareceu piorar muito as dores depois que a ambulância saiu com a sirene ligada, avançando sinais, mudanças repentinas de faixas, freadas bruscas, arrancadas…

Ainda mais penosa foi a longa espera em uma antesala antes de entrar no centro cirúrgico, visto que tinha acabado de almoçar.

Após as cirurgias, o resultado foi o corpo quase todo engessado e só um braço e uma perna ficaram livres.

Com a fratura e cirurgia da clavícula engessaram também o tórax.

As fraturas expostas dos ossos da perna engessaram o pé, perna e coxa.

A fratura do braço engessou desde a mão até o ombro.

As várias escoriações no rosto e corpo só levaram pontos e fizeram hematomas.

Era 1980 e estava fazendo faculdade de Nutrição na Federal.

Providenciaram em casa uma cama de hospital, com aquelas manivelas para facilitar a mobilidade no leito, higiene e alimentação.

Passado algum tempo, nova cirurgia.

No leito, fui criando uma rotina, mas não lembro de sofrimento nem de ter sido penoso.

Só lembro que um rádio à pilha passou a ser meu melhor companheiro. Ficava em cima do armário.

Logo pela manhã a mãe ligava na Rádio Colombo e ficava ouvindo música, programas de entretenimentos.

As rádios AM transmitiam vida, movimento, havia uma interação com o ouvinte.

Escutava as dez músicas mais pedidas: da décima até a primeira música, sempre tentando adivinhar qual seria a próxima.

Em determinado horário começava o programa mais aguardado. O locutor cumprimentava assim: 🎶- Oioioi gente querida!🎶

Luiz Carlos Martins tinha as palavras certas, encorajadoras. Falava com o coração. E tinha uma voz tão bonita. Minhas manhãs corriam leves.

Tomava banho no leito, usava fraldas mas nada tirava minha alegria.

E fui criando uma proximidade com o radialista.

Sentia muita falta de escutar o programa aos sábados e domingos e era tão bom quando chegava de novo a segunda-feira e podia ouvi-lo de volta.

Após idas e vindas ao médico, nova cirurgia. A retirada total do gesso da perna ocorreu somente após 11 meses.

E então, já recuperada, quis conhecer pessoalmente o dono daquela voz tão encantadora.

Como ele trabalhava na Rádio Colombo que pertencia ao pai da minha melhor amiga, recebi o incentivo dela e fui ao encontro, bastante envergonhada.

Ele foi simpático, cordial.

Conversamos brevemente e já não sabia o que dizer, parecia que pessoalmente éramos somente desconhecidos.

Nossa relação sempre foi e será por ondas de rádio de amplitude modulada.

Educadamente nos despedimos.

Alguém me disse que isso acontece e não é raro entre ouvintes e radialistas.

– Teria sido uma paixão radiofônica?

Não importa a denominação.

Tornou minha recuperação muito mais leve.

– “Um beijo no coração”.

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