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KARIN-CABECA-COLUNA

A telegrafista

06/02/2025
Cecy e o marido, Dr. Hamilton

Enquanto muitos soldados paranaenses partiam para defender o país em terras distantes durante a Segunda Guerra Mundial, Cecy Yoli Mourão Ramalho encontrou outra forma de contribuir. Sem poder integrar as tropas, ela se ofereceu como telegrafista nos Correios e Telégrafos, decidida a ajudar no esforço de guerra.

Com habilidade e dedicação, aprendeu rapidamente a decodificar sinais e encaminhar mensagens aos destinatários. Após esse período desafiador, Cecy decidiu seguir um novo sonho: tirar o brevê de piloto. Ela queria aprender a pilotar aviões, uma ambição que combinava perfeitamente com seu temperamento livre e independente.

Cecy foi criada em um ambiente que valorizava a liberdade e a educação. Em sua casa, as tarefas domésticas não eram exclusivas das mulheres, e tanto ela quanto suas irmãs foram incentivadas a estudar. Seu pai, promotor no interior, sempre apoiou a formação das filhas. Por isso foi natural que Cecy viesse sozinha para Curitiba estudar e morar em um pensionato de moças.

Após concluir os estudos, ela desejava mais: queria uma carreira profissional. No entanto, na década de 1940, poucas mulheres solteiras trabalhavam fora de casa e aquelas que o faziam geralmente era para complementar a renda familiar. Mas Cecy não se deixou limitar pelas convenções da época.

Correios e Telégrafos (foto atual ainda com o “Telégrafos” na fachada)

Foi durante as aulas de voo no Aeroporto do Bacacheri que ela conheceu o amor de sua vida, o Dr. Hamilton de Ramalho, um jovem médico que trabalhava na Base Aérea do Bacacheri. Em 1948, eles se casaram e tiveram seu primeiro filho. Mesmo após a maternidade, Cecy não abandonou seu desejo de trabalhar. Quando o filho completou dois anos, ela prestou concurso para os Correios, passou e assumiu oficialmente a função de telegrafista.

A mãe de Cecy ajudava a cuidar dos netos mas não foram poucas as vezes em que as crianças acompanhavam a mãe ao trabalho, sentadas debaixo da mesa, brincando com as fitas perfuradas usadas nos telégrafos.

Cecy foi uma mulher que viveu com liberdade e responsabilidade, desafiando as normas de uma sociedade ainda predominantemente machista. Sua história foi contada pela filha, Francis Ramalho, que destacou o exemplo de independência e empoderamento que a mãe deixou. A filha Cida Colombo complementou: “Com minha mãe, tivemos um exemplo de liberdade e empoderamento. Quando as lutas pelo empoderamento feminino começaram, éramos crianças e não sabíamos que isso não era comum. Na minha família, o empoderamento feminino era algo natural. As irmãs de minha mãe eram promotoras e solteiras por opção.”

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