Trabalhava como nutricionista do Carrefour Champagnat desde antes da inauguração da loja, quando havia só um alojamento provisório para funcionários administrativos e os operários da construção ainda drenavam o terreno (era um banhadão) e colocavam as fundações do que seria o futuro hipermercado Carrefour Champagnat.
A região era promissora para construir um grande supermercado. Os primeiros prédios já estavam construídos no Ecoville mas havia muitas pequenas chácaras na região.
03/05/1988: Foi quando minha prima ligou chamando para sair; achei que era trote.
Quase 22h00 de uma quarta-feira, já estava de pijama debaixo das cobertas.
Mas diante da insistência, tive que ceder.
Afinal ela segurava todas as minhas pontas, sempre foi o meu ombro e era quem enxugava minhas lágrimas.
Saí da cama me arrastando. Vesti uma calça de veludo cotelê vermelha com a bota preta em cima. E fui. Rezando pra voltar logo.
Decidimos ir num bar que ficava na Rua Dr Muricy chamado Habeas Coppus. Era um local bem frequentado e movimentado mesmo em dia de semana.
Chegando lá, estava cheio e enquanto procurávamos uma mesa, dois rapazes nos ofereceram lugar para sentar.
Papo vai, papo vem, logo disse que precisava voltar para casa porque acordaria cedo no dia seguinte.
A prima estava de carro e entraria para trabalhar um pouco mais tarde e queria ficar um pouco mais.
O rapaz que estava comigo pareceu distinto e diante do meu cansaço, se ofereceu para me levar em casa visto que falei que tinha que levantar cedo.
E que tinha uma filha de 2,5 anos que estava em casa com a babá.
Mesmo depois de dizer isso, a reação dele foi natural. Não fez qualquer interrogação nem cara de espanto quando falei que era mãe e solteira.
Me pareceu tão diferente dos rapazes com quem tinha me deparado até então.
No dia seguinte enviou um buquê de rosas porque tinha sido meu aniversário cinco dias antes. Nem lembrava do fato e devo ter comentado por acaso.
E assim, com seu jeito atencioso, protetor, sensível e respeitador, comigo e minha filha, foi me conquistando.
E não tão aos poucos fomos nos conhecendo. Ele em pouco tempo trouxe a escova de dentes em definitivo e passamos a conviver como um casal.
Até que em outubro dei uma prensa:
– Vamos casar?
Ele não teve muito tempo para raciocinar. Se tivesse, acho que não casaria.
Correram proclamas , fizemos o Curso de Noivos.
O vestido seria na cor marfim. Sugestão da minha mãe, afinal já não convinha casar de branco.
Organizei um mini-wedding. Só para os tios e avós. Sem primos porque seria algo íntimo.
Escolhi a Igreja da Guadalupe. O Santuário tinha espaço para 1200 pessoas mas, mesmo sendo uma igreja gigante, preferi aquele local por ser a paróquia da família.
Chamei apenas 19 pessoas para a igreja.
Tinha contratado uma musicista para tocar uma música bonita, romântica. Falei que não queria a Marcha Nupcial, afinal eu nem entraria de noiva.
Mas eis que na noite anterior, véspera do casamento, estava deitada na cama na casa da minha prima que morava no mesmo prédio que eu e ela sugeriu que experimentasse o vestido de noiva com que casou.
Insistiu e já sem ter como escapar, provei. Serviu direitinho.
O vestido estava amarrotado e um pouco amarelado mas Dona Sueli, uma vizinha que era um doce de pessoa e que me conhecia desde menina, se prontificou a passar o traje.
Não falei para mais ninguém da troca do vestido.
Nem eu mesma tinha certeza de que iria usá-lo mas depois que soube que Dona Sueli atravessou a madrugada passando paninho molhado com o ferro, tirando todas as dobrinhas e deixando branquinho, não tive coragem de não vestir.
E no fundo eu já queria…
No dia fui arrumar o cabelo, maquiagem. Era primeiro de dezembro de 1989. Estava muito calor e o casamento seria às 18h00.
A Lucia (minha filha) estava com a madrinha e foi só então que dei conta que não poderia ir dirigindo meu próprio carro vestida de noiva.
Como já estava um pouco atrasada, peguei o elevador e desci, pensando em como chegaria na igreja.
Nisso encontrei um primo e pedi carona. Recordo que ele estava de camisa mas calçava tênis e lembro de tê-lo apurado.
Ficou nervoso e levou ao pé da letra. Até furou o semáforo para chegarmos a tempo.
Passou pela minha cabeça que se estivesse de sapatos, poderia me conduzir ao altar.
No começo da rampa da Igreja da Guadalupe, outro problema: quem iria me acompanhar até o altar?
Nada disso estava previsto. Antes seria só uma benção aos noivos e chegaria junto com meu futuro marido, provavelmente entraríamos de mãos dadas.
Mas agora, vestida assim? Entrar sozinha na igreja?
Subi a rampa e ao chegar no topo vi o namorido da minha mãe (ela era viúva).
Enganchei no braço dele e pedi que me acompanhasse. A mãe já se encontrava sentada no banco lá na frente.
Ao ver minha filha com a madrinha junto à porta, disse para ela seguir andando devagarinho no corredor na minha frente. Poderia começar a caminhar assim que a música iniciasse.
A pianista, ao ver uma noiva na porta com vestido branco e grinalda, teve a presença de espírito e a coragem de mudar radicalmente o repertório .
E assim, como se esse momento tivesse sido programado há meses, atravessei a nave sob os acordes da tradicional Marcha Nupcial de Mendelssohn.
E para surpresa do noivo e da minha mãe, entrou uma noiva.
E comemoramos hoje 35 anos de casados. Não sei o marido mas tenho certeza que faria tudo de novo!
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