Meus pais se casaram em 1958 e a pessoa que fez os doces e o bolo de casamento foi uma confeiteira muito caprichosa e requisitada – D. Zelinda Perli, esposa de Constant Perli – foi este senhor que construiu a igreja de madeira de Nossa Senhora de Guadalupe. Anos depois, no mesmo local da igreja de madeira, foi construído o templo atual, onde o Padre Reginaldo Manzotti faz hoje as missas tão concorridas.
A confeiteira e seu marido moravam na Rua Tibagi, quase esquina com a Travessa Itararé.
A cerimônia de casamento foi realizada na Igreja Santa Teresinha e o almoço/recepção no Grande Hotel Moderno, um dos lugares mais elegantes da época, visto que as famílias dos noivos, que eram abastadas e sócias dos clubes Curitibano e Concórdia, optaram pelos serviços desse hotel, localizado no começo da Rua XV de Novembro. Hoje, o prédio desse antigo hotel se encontra ainda em pé, com arquitetura eclética preservada e carrega uma longa história na vida curitibana.
Cid era o mais novo dos irmãos do meu pai e ficou responsável por buscar o bolo e os doces na casa da Dona Zelinda e levá-los para a festa no Hotel. Para realizar essa tarefa, usou uma Picape Ford, uma das últimas importadas, que fora adquirida pelo meu avô Frederico Schöll, antes da instalação e fabricação das Picapes da Ford no Brasil. Porém, mesmo com todos os cuidados e precauções da prestimosa confeiteira, Cid não conseguiu evitar uma freada brusca… e os doces vieram abaixo! Já o bolo de finas camadas com recheio de damasco, nata, suspiro, dois andares e anjos de porcelana segurando a camada superior, inacreditavelmente, acabou ficando a salvo. Os doces saíram das forminhas e se espalharam pelo banco traseiro e pelo chão da camionete. Os quindins, queijadinhas, cajuzinhos, marzipãs, pralinees e doces de ovos começaram a grudar e se desmontar. Naquela época, os doces finos eram feitos à base de ovos, coco, açúcar, leite, manteiga, farinha, glacê. Não havia o brigadeiro, beijinho, dois amores, …
O brigadeiro, que reina absoluto até hoje em festas no Brasil, foi criado em 1945. Mas só se popularizou nas gerações seguintes, pois as antigas famílias ainda tinham preferência pelos doces tradicionais. Curiosidade: O docinho de nome “brigadeiro” foi criado pelas 38 eleitoras mulheres do então candidato à presidente do Brasil, no ano de 1945: Brigadeiro Eduardo Gomes. O slogan da campanha desse candidato era: “– Vote no Brigadeiro, que é bonito e solteiro!” As moças solteiras e casadoiras resolveram ajudar na campanha, vendendo doces para arrecadar fundos e assim promover o candidato. Acontece que, com a escassez de leite e açúcar da época pós-Guerra, tiveram que recorrer ao leite condensado, que com a procura, passou a ser fabricado em maior escala. E assim surgiu o brigadeiro.
Voltando ao incidente, o pavor tomou conta do Cid.
Como consertar a situação? Como que ele ia chegar com tudo desmontado? Tomou a decisão mais sensata: Correu na casa da confeiteira que habilmente conseguiu ajeitar, refazer, colocar os doces nas forminhas novamente e ainda em tempo, o Cid levou tudo ao local destinado. Que milagre a confeiteira fez para reorganizar tudo aquilo, eu não sei. E o melhor é que os convidados nem notaram. Os noivos, no momento da foto abaixo, sequer imaginavam o desastre recém-ocorrido. Minha mãe foi saber agora que escrevi, mais de 60 anos depois, quando o próprio tio Cid me contou essa história.
E o importante é que tudo acabou bem. Foi tudo muito sofisticado e glamoroso. As fotos não deixam dúvidas. E vivam os noivos!
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Que história gostosa de ler e conhecer.
Parabéns Karin!
Aguardando a próxima !
Que história linda Karin!
Que história linda Karin!
Parabéns!
Amei a história
Karin, que história envolvente e linda! Amei o local, o vestido, sua mãe belíssima.. tudo tão elegante como deve ser. Me transportei através de suas palavras e viajei no tempo nestes lugares lindos. Deve ter sido muito engraçado ver tio Cid relembrando o sufoco que passou com os doces. Homem de atitude, resolveu!
Adorei!!!!
Karin é pura inspiração! Sempre cercada pelo bem e pela beleza! Sou teu fã! Parabéns, amiga!
Muito interessante suas histórias, elas descrevem épocas m, costumes, lembram pessoas de idos tempos, usas linguagem coloquial que torna gostosas as leituras. Gosto demais!!!
Excelente. Adorei a história. Parabéns Karin. 👏