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HojePR

Casa da mãe solteira na avenida Batel

12/09/2023
batel

Toda história de vida é preciosa, esta casa escreve várias delas em diferentes tons.

 

De arquitetura linda, guarda uma história muito profunda que mistura tristezas, alegrias e corações partidos até hoje. Vou descrever como a enxergo:

 

Fica na esquina das ruas Ângelo Sampaio e Av Batel.

 

Era a casa da mãe- solteira.

 

Mas o que significava isso?

 

Algo inconcebível para os dias atuais.

 

Era um lugar acolhedor e nobre e que foi feito com a melhor das intenções vindo a se tornar a única saída para muitas moças.

 

A moça grávida desamparada por familiares encontrava afeto e era tratada com dignidade para aguardar a chegada da criança.

 

Após o nascimento, caso decidisse ficar com o bebê e a família e/ou o pai da criança decidissem dar apoio, podia seguir a vida.

 

Caso não achasse formas e quisesse deixar a criança para adoção, deixaria lá e o bebê seria encaminhado para uma família.

 

Depois de ganhar o bebê e deixar para adoção, muitos pais aceitavam a volta da filha para casa.

 

Ninguém era forçado a nada e não havia dinheiro envolvido, embora normalmente os pais que adotavam e tinham boas condições, podiam ajudar a instituição, que era mantida com filantropia.

 

Explicando melhor, antigamente quando uma moça engravidava e o pai da criança não assumia, era uma situação desesperadora.

 

Esta moça que engravidava sem ser casada, ficaria marcada para sempre.

 

Não haveria mais chances de se casar como as outras moças, salvo raras excessões.

 

Na maioria das vezes a família escondia e os avós assumiam a criança como filho e a mocinha ficava “guardada” em casa durante a gestação, para a verdade nao ser revelada a vizinhos e parentes.

 

Porém, em alguns casos, não raros, eram colocadas para fora de casa pelo próprio pai, que não aceitava conviver com uma filha “perdida”. Seria uma vergonha para a família.

 

E muitas ainda eram menores de idade.

 

E alguém que conhecia muito de perto essa situação fez tudo com muito amor e carinho.

 

E assim, sem trâmites judiciais, ocorria a adoção “à brasileira”.

 

Naquela época não havia tratamentos para fertilidade como hoje.

 

Muitos casais não podiam ter filhos como ocorre até hoje mas não havia opção de tratamento e alguns procuravam esta casa para adotar uma criança recém nascida.

 

Sei que há opiniões divergentes e que não se pode generalizar. Nem eu sei avaliar e o que acho direito.

 

Só acho que as moças gestantes que procuravam este local, não tinham outra saída.

 

O pai da moça não queria uma filha em casa manchando a reputação da familia, o pai da criança não queria nem saber.

 

A moça não tinha profissão nem condições de sustentar o filho.

 

Sei que senti na pele o que é ser mãe solteira e lembro do que enfrentei.

 

Porém eu era forte e independente, tinha recebido parte da herança e pude ganhar minha filha na minha própria casa. E foi a maior felicidade da minha vida.

 

Mas o fato mais importante é que eu já era independente financeiramente. E isto fez toda a diferença. Não fui melhor que nenhuma mãe que doou seu filho. Quero deixar bem claro.

 

Não acredito que seria capaz de um ato de tanta generosidade. Doar meu filho para outros criarem.

 

E com certeza não conseguiria enfrentar o que enfrentei caso meu pai fosse vivo na época. Faleceu quando eu tinha 21 anos.

 

Não haveria jeito. Mesmo o pai gostando de crianças do jeito que gostava.

 

Era o modelo de família patriarcal e eu não teria coragem para enfrentá-lo. Quem está de fora não entende a situação. Só quem viveu na pele sabe.

 

A sociedade não aceitava, as famílias tradicionais seguiam uma linha de pensamento e ponto.

 

Mas cada criança adotada aqui nesta casa foi uma vida que vingou e carrega uma história.

 

Aos olhos de hoje não podemos julgar, somente lembrar que estas pessoas salvaram vidas, tanto das mães quanto das crianças.

 

Trabalhei em supermercado e indústria como nutricionista e vi jovens com poucos recursos abortarem utilizando agulhas de tricot e chás abortivos. Uma quase foi a óbito.

 

Graças a Deus por todas as mães que passaram por esta casa. Foi um grande ato de amor gerar, parir e entregar para adoção.

 

Se as adoções foram as melhores escolhas, não podemos avaliar.

 

Se as mães que doaram os seus filhos aqui conseguiram seguir em frente e refazer suas vidas, só Deus sabe.

 

Arrependimentos e lágrimas estiveram presentes certamente ao longo da vida de cada uma mas era talvez a única saída naquele momento.

 

Sorte dos bebês que encontraram amor, carinho e afeto nos país de coração, através desse local.

 

Sorte dos pais adotivos que conseguiram realizar o sonho de serem pais.

 

Sorte das jovens mães biológicas que conseguiram reconstruir suas vidas com alegria, casaram, tiveram outros filhos.

 

Certamente alguns dos envolvidos em toda essa história não tiveram essa sorte, muitas lágrimas foram derramadas e alguns buscam por respostas que nunca serão respondidas. Há jovens nascidos nesta casa ainda à procura de sua mãe biológica.

 

Era a sociedade na época e a vida como ela se apresentou!

 

E tenho certeza que nao foi uma questão de sorte… Foi Deus.

(Texto de opinião e conclusões da autora conforme suas vivências. Sem valor como fato histórico)

 

Leia outras colunas da Karin Romanó aqui.

7 comentários em “Casa da mãe solteira na avenida Batel”

  1. Vânia Coelho Soares

    Onde se encontra os registros de adoção? Meu filho gostaria de conhecer a mãe biológica. Meu filho foi adotado em 1993. Foi criado com muito amor, hoje é pai de duas lindas meninas gêmeas. Sou a mais feliz das avós!

  2. Salete Camargo procuro por uma mãe que deu a luz em 1972 e deixou a filha pra adoção. Não temos certeza do nome da mãe Biológica mas tava seja Maria Antônia. Vc lembra de alguém com esse nome ? Provavelmente ela trabalhava como empregada na casa de uma família na avenida Batel .

  3. Meu nome Salete Camargo

    Meu Deus que saudade eu passei Porã li na casa da mãe solteira e como sofri e sofro por ter deixado minha filhinha pra doação mais não tive opção na época eu já tinha um menino mais sei que ela deve estar bem e sei que não mereço seu perdão mais só eu sei como sofri e sofro ainda 😭 por ter sido tão fraca fui muitas vezes até pertinho pra perguntar mais me faltava coragem e carrego com migo está dor na alma inf minha estória e muito grande difícil de emprestar ta tudo nas mãos de Deus 😭😭😭😭😑

    1. Digitei no google “Salete Camargo”procura filho.. pois esse ė o nome da minha mãe que não conheço mas o nome dela está em meus registros, meu pai, já falecido, me pediu para que não procurasse a tal Salete Camargo enquanto ele fosse vivo.

  4. Curto muito os post’s de sua coluna.
    Sempre que passava ali na frente desta casa ficava imaginando de quem era. Agora já sei. rsrsrsrs

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