Dentre as amigas que tenho uma delas tem um coração onde só há espaço para fazer o bem. Quando escuto a palavra empatia, imediatamente lembro dela.
Pessoa que acolhe a todos. Abraça sabendo que nem sempre é possível aliviar a dor ou mudar a realidade do outro. Mas tenta, sem julgamentos.
Entrei no Colégio Dom Bosco na ano de 77. Era chamado de Dom Bosquinho.
A instituição ocupava as antigas instalações do Colégio Novo Ateneu e dividia o prédio com a Faculdade de Direito Curitiba, que preenchia as salas no horário noturno.
O sistema do Dom Bosco era rigoroso. Horário de entrada: 7h20. Nenhuma desculpa era aceita se houvesse atraso e o remédio era aguardar e entrar na segunda aula.
E foi numa dessas ocasiões que avistei uma mocinha risonha e graciosa, enquanto esperava a entrada no segundo horário.
Estávamos sentadas na escadaria que ficava no vértice das ruas Emiliano Perneta e Senador Alencar Guimarães.
Rita com seu nariz arrebitado que lembrava a Narizinho das histórias de Monteiro Lobato.
Magrela e parecia salpicada com beijinhos do sol pela presença de algumas sardinhas no dorso do nariz, o que a deixava com carinha de arteira.
Vestia camiseta da Company e calça da Noi. Marcas favoritas dos jovens.
Conversamos um pouco e no decorrer das semanas viramos amigas. Ela me chamou para ir à sua casa e vice-versa.
Aos poucos fui me incorporando à família que me acolheu tão bem. A mãe, dona de um sorriso lindo, amorosa. Os outros filhos também muito amáveis.
O pai era um pouco rígido na educação, sempre mais difícil convencê-lo na hora de deixar a filha ir nas discotecas e barzinhos, mas no final cedia.
A única exigência que o pai não abria mão era que os filhos fossem à missa aos domingos, de preferência na Igreja Santa Teresinha.
Lembro também de ter observado algumas vezes a mãe com o rádio ligado na cozinha da casa no horário das 18h00. Era a “Hora do Angelus”, apresentado pelo próprio esposo, dono da Rádio Colombo.
Hoje eu e ela nos vemos e falamos pouco.
Diria que 2 ou 3 vezes ao ano. Planejamos sempre nos encontrar com mais frequência porém acaba não acontecendo.
Mas Rita marcou e marca a minha vida.
Fato curioso é há quase 50 anos recebo um telefonema (e não mensagem de whats) no dia 29/04, data do meu aniversário.
Mesmo nos vários anos que viveu na Suécia, nunca esqueceu de ligar.
Creio que em alguns aniversários só recebi a ligação dela.
A vida me mostrou através dela que a amizade é também um grande amor.
Foto 1: Imovel na esquina das ruas Emiliano Perneta e Senador Alencar Guimarães onde era o Colégio Novo Ateneu e que anteriormente foi a primeira sede da Primeira Igreja Batista, até a construção da igreja na Rua Visconde de Guarapuava.
Foto 2: Prédio na esquina das ruas Emiliano Perneta e Senador Alencar Guimarães onde era o Colégio Novo Ateneu e na década de 70 se estabeleceu o Colégio Dom Bosco. A Faculdade de Direito Curitiba também ocupava o mesmo imóvel. Atualmente a edificação foi demolida e novo prédio está sendo construído no local.
Leia outras colunas da Karin Romanó aqui.