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Dia de Natal – Curitiba de Antigamente

01/08/2023
natal

Dante Romanó junto ao muro e a filha Maria Alice Romanó Nickel de pé. As crianças: o mais afastado, de pé, é Sérgio Romanó Nickel. Os menores, Marcelo Romanó Nickel e Maria Francisca Romanó. De vestido preto Rossana Schöll Romanó. De pé, em cima da barra, Marilys Romanó Nickel é a mais velha. A loura é Angela Kalckmann Romanó. (acervo pessoal)

 

Dia de Natal era o dia em que toda a primarada se encontrava, vestindo suas roupas e sapatos novos, algumas primas traziam no colo uma boneca, presente recebido na noite anterior.

 

E já íamos trepar na barra de macacos (trepa-trepa), balançar, brincar na casinha de bonecas que tinha no quintal ou correr e brincar de se esconder.

 

A sala de jantar da casa era quase um lugar sagrado. Ficava fechada à chave durante o ano inteiro. Só era aberta à família no Natal.

 

No resto do ano ninguém entrava, só a vovó com a faxineira, quando o chão era encerado, passado um vassourão, tirado o pó e feita a limpeza das vidraças.

 

Toda a família comparecia para o almoço no dia 25 de dezembro.

 

Maria Alice Romanó Nickel em pé de braços cruzados e o vô Dante Romanó de pé segurando o neto Marcelo na barra de macacos. As crianças, da esquerda para a direita, Rossana Romanó, Sérgio Romanó Nickel, James Schöll Romanó, Luís Guilherme Romanó Nickel, Maria Francisca Romanó e Ângela Romanó. No alto, Marilys Romanó Nickel e Karin Schöll Romanó (eu). (acervo pessoal)

 

Vó Cilá era uma cozinheira de mão cheia. Quando a gente chegava na casa, estava de cabelo arrumado e vestida chique, mas já lidando com o pernil, peru, tender, banana à milanesa, farofa caprichada, saladas, fios de ovos. O arroz era preparado por último e, junto com a panela, ficava embrulhado em folha de jornal até a hora de servir.

 

E os doces: Vó Cilá não fazia sobremesas com leite condensado, só as tradicionais com ovos, açúcar e leite. Tipo queijadinhas, quindim, ovos nevados, ambrosia, baba de moça, papo de anjo.

 

E as bolachas de Natal, nunca faltavam. Vovó já preparava na primeira semana de dezembro.

 

Na mesa da sala de jantar não cabiam todos sentados, então só os adultos ficavam na sala importante. As crianças ficavam na copa, que tinha uma grande mesa também.

 

Depois do almoço todos iam para a saleta do piano, onde ficava o pinheirinho armado.

 

Maria Thereza, a filha mais velha e que foi freira durante 25 anos, preparava algo escrito e todos liam. Era tipo um jogral. Cada pessoa lia um parágrafo. Ela já deixava assinalado o nome em cima do parágrafo que cada um deveria ler e distribuía uma folha para cada um.

 

Casa da família na Praça Senador Correia (da Igreja da Guadalupe)

 

Enfim, chegava a hora da encenação do presépio. Os guris da família já iam sumindo, se escondendo, mas não tinham como escapar. Eram capturados para fazer o papel dos Reis Magos, do José e do Anjo Gabriel. Meio à força, geralmente chantageados.

 

Ano após ano, era Maria Thereza (Tia Ziza) a narradora e fazia o mesmo tom de voz solene. As meninas, que eram a maioria e mais participativas, até disputavam quem deveria ser Maria (o papel mais importante), porque o Menino Jesus era sempre o bebê mais novo da família. Sempre tinha um bebê, nascido naquele ano, que seria o menino Jesus.

 

Fazer o papel de Maria Madalena era um papel coadjuvante, mas era melhor do que não ser nada. Esse presépio se repetiu durante mais de 40 anos e já tinham as roupas certas, antes confeccionadas em papel crepom pela Maria Zeni e, depois, com tecido mesmo, próprias para a ocasião.

 

No final, encerrávamos com os cantos de Natal. Era quando o vovô sentava ao piano e tocava as músicas e todos cantavam.

 

Maria Thereza distribuía um papel com as letras das músicas para a gente cantar todas as estrofes. A última música era sempre “Noite Feliz”. A primarada ficava esperando a hora que o Ruca (meu primo Ruy Carlos) iria desafinar na parte do “Noite Feliz” – “Dorme, em paz, ó Jesus – US”. Na hora do “US”, o Ruca fazia um soprano e toda a gurizada segurava o riso. Era o momento já esperado e mais divertido das cantorias. Eu achava que era pecado rir nessa hora, mas não dava para aguentar.

 

Enfim, mais brincadeiras e os pais já começavam a querer ir embora. – Mas…já?

 

E então nos despedíamos sob protestos e até o próximo Natal, quando a vovó abriria aquela sala novamente e a gente encontraria com todo mundo de novo.

 

Leia outras colunas da Karin Romanó aqui.

1 comentário em “Dia de Natal – Curitiba de Antigamente”

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