Há 40 anos, lembro que minha mãe usava o CPF do meu pai. Ela nem tinha o dela. E era assim com todas as esposas.
Evoluímos muito, homens e mulheres, fizemos muitas conquistas. Hoje usar o sobrenome do marido é opcional. E há homens que preferem adotar o sobrenome da esposa e está tudo certo.
Mas noto que alguns homens já nasceram prontos nessa evolução.
E na minha família consigo claramente distinguir três casais, entre avós e tios, cujas esposas nunca precisaram brigar por nada. E ocorria também em muitas outras famílias.
A vontade e o espaço delas sempre foram garantidos e respeitados antes de precisar existir leis e discursos defendendo os direitos das mulheres.
Por que isso já acontecia com alguns homens mesmo há algum tempo e com outros não? Por que alguns homens ainda acham que a mulher é uma posse? E as manchetes de feminicídios só crescem?
Os três casais a que me refiro transpareciam ser muito mais felizes e muitos casais que assim conviveram certamente o foram também.
Vou fazer aqui uma analogia com o hipismo que tem muito a nos ensinar embora funcione bem exclusivamente com essa modalidade esportiva – é o esporte da igualdade tanto para mulheres e homens, cavalos e éguas.
Essa amazona da foto é a Elza Carneiro. Elza Carneiro, paulista de nascimento e paranaense de coração, foi casada com o ilustre historiador Newton Carneiro e a foto é da década de 50.
Newton foi um homem que soube respeitar as vontades da sua companheira.
Elza foi uma das fundadoras da Hípica Paranaense e pioneira nesse esporte no Paraná e uma das mais importantes atletas do hipismo do Brasil.
Interessante falarmos do hipismo neste Dia da Mulher, pois é o único esporte em que homens e mulheres têm exatamente as mesmas chances na competição.
A igualdade de gênero vale tanto para os que conduzem os cavalos como para os próprios equinos: não há distinção entre cavalos e éguas nas competições. E não há distinção entre cavaleiros e amazonas nas competições.
E mesmo o traje de hipismo utilizado pelas mulheres assemelha-se ao dos homens.
Um cavaleiro montando uma égua ou uma amazona montando um cavalo e vice versa competem na mesma prova e que vença o melhor.
Ah.. mas o cavalo não salta mais alto? Ahhh mas os homens não são mais fortes? Não deveriam disputar em categorias diferentes?
Neste esporte e exclusivamente nesse, não!
Se a mulher tem menos força física compensa com uma delicadeza maior no trato com o cavalo, gerando uma maior sintonia com o animal e ele responde nas provas.
Elza Carneiro foi atleta e não deixou de lado as tarefas de mãe e esposa.
Muito pelo contrário, foi mãe e ao lado do marido percorreu o Brasil e viajou pelo mundo em missões diplomáticas e culturais de resgate da arte paranaense.
E foi feliz fazendo também os seus felizes!
Contribuição do neto de Elza – Newton Carneiro Neto – que nas suas palavras diz: “Minha avó era um anjo, que com seus incríveis cavalos, podia voar! Nas fazendas, não descia para abrir as porteiras, saltava porteiras de 1.70m. Se é lenda ou não, consigo imaginar essa cena clássica que já vi em algum filme, minha vó Elza com o corpo inclinado para frente, acompanhando a direção do animal na transposição da cerca. Sinceramente, não duvido que tenha acontecido”.
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Linda homenagem. E era exatamente este o espírito desta senhora aventureira, que disputava com alegria e enfrentava os obstáculos sorrindo.