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HojePR

Goethe Institut fecha em Curitiba

12/12/2023

21 anos. Em meio a uma tempestade emocional, tranquei o Curso de Nutrição na UFPR, tendo já cursado os semestres iniciais de alemão no Goethe Institut, quando a sede era na Praça Garibaldi (Largo da Ordem).

 

Na foto abaixo, não sei se estou entrando ou saindo pela porta de vidro da sede do Goethe em Munique.

 

 

Neste momento do relato vou considerar que estava entrando.

 

Eram os primeiros dias de janeiro e estava iniciando um curso imersivo intensivo de férias.

 

Naquela época não havia internet e o contato todo para ficar lá foi através de cartas que demoravam 15 dias para chegar ao destino internacional.

 

Vendi meu piano e para conter custos, peguei uma data barata (dia de Natal) e embarquei em um avião com destino ao Paraguai. De lá foi pingando e cheguei em Frankfurt em 25/12/82, às 17h00.

 

Escuro. Tipo noite. Um gelo. Desci do avião, peguei o trem, metrô e cheguei a uma casa num bairro distante do centro.

 

Nenhuma pessoa na rua. O endereço era da Associação Cristã Feminina, só que alemã, que foi o que minha tia conseguiu através da Associação Cristã daqui para eu ter onde ficar na noite da chegada.

 

Ao entrar na casa que abrigava moças estudantes, o local estava vazio. Nem uma só pessoa além da responsável. Uma senhora solitária de uns 50 e poucos anos, mas que parecia mais velha.

 

Mostrou-me o quarto onde iria dormir. Tudo muito formal.

 

Após ficar um tempo dentro do quarto, resolvi descer as escadas e encontrei a senhora acendendo as velas de um enorme pinheiro natural de Natal. Ela estava montando na noite do Natal e não antes, como geralmente fazemos.

 

As velinhas foram encaixadas em um receptáculo de metal dourado que se fechava nos galhos com uma certa pressão. E ficavam bem presas.

 

Velhos enfeites de Natal, bolas e outros penduricalhos muito antigos, algodão e, por fim, a senhora pendurou maçãs na árvore, amarradas pelo cabinho. Maçãs verdes.

 

Como a árvore estava bem plantada num balde de terra, aguentou o peso das maçãs.

 

Nunca entendi o significado delas na árvore.

 

Não me chamou para tomar um chá nem para ceiarmos juntas.

 

Subi para o quarto e, sem saber o que eu tinha feito da minha vida ao tomar aquela decisão que me trouxera até ali, me joguei na cama e chorei.

 

E foi um choro tão longo, lágrimas represadas, chorei por longos minutos ou horas.

 

De cansaço, adormeci com botas e tudo. No dia seguinte acordei com dor de cabeça de tanto chorar e o rosto inchado. Segui em frente.

 

Hoje localizei esta foto e neste instante do relato, me vejo fechando a porta do Goethe Institut.

 

Soube ontem que a instituição fechou as portas em Curitiba. Cursos somente online a partir de agora.

 

A sede atual fica a uma quadra e meia de casa.

 

Local lindo, visitei essa sede umas duas vezes. Lugar magnífico. Uma edificação onde o antigo e o novo conversam de uma forma espetacular.

 

O telhado Shed que proporcionava iluminação e ventilação aos trabalhadores da antiga Fábrica de Fitas Venske foi preservado.

 

A parte externa do prédio tem uma cerca viva onde as largas folhas verdes fecham as paredes externas durante a primavera e o verão.

 

No outono, as folhas amarelam e permanecem neste processo demorando muito a cair, ocorrendo já no meio inverno, quando ficam as raízes grossas interlaçadas lembrando um cenário dos castelos de Harry Potter.

 

Não sei avaliar em que estação do ano o prédio fica mais bonito.

 

Muitos irão agora lamentar o fechamento: mas era inevitável. O espaço era muito pouco aproveitado. Nas minhas andanças diárias levando cachorros para passear duas vezes por dia, não sei se consigo lembrar de ter cruzado com um estudante entrando ou saindo nos últimos anos.

 

Aluguel caríssimo. Biblioteca de referência. Funcionários. Toda uma cultura que a gente recebia junto com o aprendizado da língua. Exposições. Cursos. Seminários.

 

O governo alemão certamente bancou e subsidiou, mas tudo tem limites.

 

O curitibano que tem condições não apoiou.

 

Quem pode pagar um curso lá, que é caro, não faz. Porque é longe, porque alemão é difícil, porque não tem interesse, o trânsito, porque os filhos começam e desistem… (preferem aprender por aplicativo que também largam logo após as 2 semanas iniciais).

 

Se assemelha, em partes, com o espaço cultural que fui antes de ontem: Palco dos 5 Sentidos

 

Um lugar completo que reúne cultura de verdade (música instrumental erudita clássica, barroca, brasileira ao vivo) e gastronomia a preço acessível (R$ 35 o couvert em duas de semana e R$ 50 no fim de semana). Pratos a preço acessíveis e estacionamento conveniado em frente: www.palcodos5sentidos.com.br

 

Linda violinista, Rebeca Vieira se apresenta às quartas e sábados no Palco dos 5 Sentidos, às 20:30. Blocos de 20 minutos sempre à luz de velas para aguçar a audição

 

A Cultura não é valorizada pela população. Depois que estabelecimentos que promovem a cultura fecham, vêm os lamentos mas que já não adiantam porque a gente mesmo não prestigia enquanto estão por aí.

 

Agora, show sertanejo, Anitta, futebol, Ludmila lotam estádios. Nada contra mas é assim!

 

Então, lamentamos, mas só nos resta dizer: Aufwiedersehen! Wie Shade!

 

Leia outras colunas da Karin Romanó aqui.

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