Levantara cedo naquela manhã de maio de 1967. Decidida a vender os votos do bloquinho e me tornar a sinhazinha da turma.
Os colégios faziam Concurso da Sinhazinha todos os anos na época das Festas Juninas. O objetivo era arrecadar dinheiro.
A votação era através da venda de votos que eram destacados dos bloquinhos. Quem vendesse mais seria a vencedora!
Meu pai e mãe não deram importância para o assunto.
Com o bloco intacto fui vender na vizinhança.
Ofereci aos moradores do meu prédio e do prédio vizinho.
Mas o talão era grosso. Decidi ir no prédio azul da Rua do Rio: Edifício Alvorada. A Rua do Rio era a atual Rua Mariano Torres.
Ali havia muitos moradores e imaginei que venderia tudo.
Lembrando que naquele época não existia porteiro, muros altos, grades, portão para pedestres e carros nos edifícios.
Qualquer um que chegasse podia transitar nos corredores, elevador e escadas.
Entrei e logo cheguei no primeiro andar. Apertei a campainha da porta em frente:
– Gostaria de comprar um voto de sinhazinha?
Com sobras de entusiasmo oferecia e lembro que fui recebida amistosamente pelos moradores de todos os andares.
Missão cumprida. Votos vendidos.
No dia seguinte levei o dinheiro arrecadado para a professora juntamente com o bloquinho contendo os canhotos picotados.
Ansiosa aguardei alguns dias pelo resultado.
Mas não foi o que esperava.
Uma colega seria a sinhazinha da turma. Seus pais tinham comprado vários talões.
Foi difícil conter as lágrimas quando elas desejavam cair.
No dia da apresentação foi montado um palco de madeira no pátio da escola, onde pudemos enxergar todas as sinhazinhas desfilando.
Lembro que a escolhida da minha sala era bem engraçadinha.
Cabelo comprido com fita. Seu traje era o mais bonito: saia longa rodada, uma sombrinha com babados confeccionada no mesmo tecido do vestido e carregava uma cesta de vime. Não lembro o que tinha dentro.
Todas lindas e ela era, sem dúvida, a mais graciosa.
Foto: eu e meu falecido irmão, em 1969 na Festa Junina do Colégio Santa Maria.
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