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Medo da morte

30/10/2024

Dois momentos marcantes:

Na janela do pavimento térreo com frente para a Rua do Rosário ficava a sala da primeira série do Colégio da Divina Providência.

Lembro quando houve um concurso de desenho e a vergonha que senti quando a freira entrou na sala e chamou meu nome para receber o primeiro prêmio.

O êxito se deu porque desenhei uma menina segurando um guarda-chuva e os pingos que caíam das nuvens não molhavam a parte que a sombrinha cobria.

O presente foi um livro que se abria 360 graus quando as costas das duas capas se uniam.

Florescia um circo mágico com cenários distintos 3D compostos de palhaços, malabaristas, trapezistas, domadores de leões, bailarina com sombrinha em cima de elefante…

Outro momento marcante ocorreu no fundo desse corredor: já estava na terceira série e formávamos a fila com um braço sobre o ombro da colega da frente quando a diretora chegou.

O Colégio da Divina Providência era um colégio tradicional de freiras exclusivo para meninas que ficava na Rua do Rosário, única via de Curitiba que mantém até hoje o mesmo nome e já existia quando a cidade tinha apenas 20 ruas

Falou que nossa professora não iria mais dar aula no colégio e que viria outra professora no lugar.

Soubemos depois que ela viajava para a cidade dos pais acompanhada do noivo e infelizmente vieram a atropelar uma vaca na estrada. Ambos morreram.

Não lembro de ter chorado. Simplesmente nunca esqueci.

E o receio da ruptura no ciclo natural da vida foi criado e se tornou real.

Dentro de mim se instalou um demasiado temor ao constatar que pessoas jovens e saudáveis poderiam morrer e que a morte não acontecia só com velhinhos.

Leia outras colunas da Karin Romanó aqui.

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