Tia Esmeralda trabalhava no setor administrativo da Rede Viação Paraná-Santa Catarina (RVPSC) no Edifício Moreira Garcez.
Foi lá que conheceu o irmão do meu avô: Albano Romanó. Após o tempo de namoro e noivado, marcaram o casamento.
Todas as cunhadas acharam um absurdo Esmeralda continuar trabalhando fora depois de casada e a aconselharam a dedicar-se exclusivamente ao esposo e ao lar.
Mas Esmeralda não era uma mulher comum e sabia o que queria.
Permaneceu no emprego e ao receber o primeiro salário já como casada, não o entregou ao marido.
Surpreendendo a todos, fez questão de continuar administrando o próprio dinheiro.
Tia Esmeralda era surda. Fazia perfeita leitura labial e com isso interagia muito bem em todas as conversas.
Observadora, meiga, atenta e muito inteligente.
Lia diariamente a “Gazeta do Povo” incluindo os cadernos de economia, política internacional, etc, estando a par de tudo.
Mas o que a tornava uma pessoa especial era a habilidade de enxergar as pessoas por dentro. Com empatia, sensibilidade. Não chamava a atenção pela beleza física mas pela beleza da alma.
Usava um pó de arroz no rosto que deixava a sua pele lisa, macia e cheirosa. Lembro como era gostoso encostar naquela pele ao comprimentá-la.
Uma vez por semana ia jogar baralho na casa da cunhada, minha vó Cilá. Era onde eu a encontrava e muitas vezes jogamos buraco juntas. Tia Esmeralda ganhava sempre. Já falei como era inteligente!
Ia sozinha ao cinema semanalmente. Não esperava nem dependia de companhia.
Era o tempo dos cinemas de rua e ela sempre morou no Centro, bem perto do Cine Lido.
Lembrei da Tia Esmeralda quando perdi 100 por cento da audição no ouvido direito e houve também algum comprometimento no ouvido esquerdo.
Recordando dela, não me deixei abater!
E mais: − Não saio de casa sem pó de arroz!
(Imagem abertura: Casamento de Esmeralda e Albano Romanó)
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