O Edifício Leblon foi construído pelo meu avô, Dante Romanó, e tem uma arquitetura que segue a linha modernista, com dois blocos.
No bloco mais alto, temos um apartamento bem grande por andar e com apenas um banheiro, como era na época.
Vô Dante deu um apartamento para cada um dos 7 filhos. Foi nesse prédio que nasci há 62 anos e é onde moro até hoje.
Muitos desses apartamentos tiveram moradores interessantes:
1. O casal de médicos Fani Frishmann e Oscar Aisengart. Lembro que tinham uma gaiola com tela onde criavam sapos e ficava no térreo, no pátio em um local não muito à vista.
Quando tinham que fazer teste de gravidez, injetavam a urina de mulheres nos sapos. Caso o sapo inchasse, era positivo. Não lembro que os batráquios ficassem coaxando à noite mas acho que os moradores eram mais tolerantes uns com os outros.
Na época, eles também eram os únicos que tinham telefone em casa – um luxo.
2. Morou também um Cônsul da França que não lembro o nome, mas o filho do casal brincava com a gente na área comum do prédio. A gente chamava-o de “Viniqui” já que seus pais só falavam em francês com ele e repetiam seguidamente: Viniqui. Era Viniqui pra lá, Viniqui pra cá. Então, ficou Viniqui o nome do guri e pronto. Os descendentes parece que são os donos da Apolar Imóveis.
3. Tinha o Sr. Luiz Trevisan, dono dos Calçados Cinderela, que ficava em frente à Biblioteca Pública do Paraná. Ele era bem sério e foi síndico do prédio durante muitos anos. A criançada tinha medo de fazer barulho por causa do ‘Seu’ Trevisan.
4. Tinha a Tide, que era mãe do Franço e da Tereza. A Tereza depois se casou com o Emerson Fittipaldi e virou a Tereza Fittipaldi.
5. Dona Ambrosina, mãe do João e da Maria, sempre tinha na cozinha uma jarra com chá gelado que a gente tomava quando estava com sede. Lembro que um dia a filha Maria participou de um programa infantil no canal 4 e ganhou uma boneca “AMIGUINHA” do programa.
6. No terceiro andar morava o João Manoel, psicólogo que se formou na primeira turma de Psicologia da PUC. Era casado e tinha 2 filhos: a Tania e o João Manoel Filho. Eles eram de Arapongas – PR e um dia, quando estavam voltando de lá, se acidentaram. Só o filho ficou vivo. Foi algo muito triste.
7. Tinha o Wilber Bello e o irmão Carlinhos. O pai deles tinha um fusca daqueles bem antigos, ano 61 primeira-série, com umas lanternas redondinhas e o pisca-pisca era tipo uma vareta, que saía do lado de cima da porta.
8. O casal que morava no 8 era muito rico e tinha empresa de ônibus – Tito Brunatto. Fizeram uma festa de 1 ano do filho na casa nova e o convite tinha versinho com rima e a foto do bebê.
9. Outra moradora era a Maria Lina, do sétimo andar, cujo avô era fundador e dono do Móveis Cimo – Martim Zipperer.
Quando solteira já morava com sua tia – Dona Elza – no bloco mais baixo. Meu avô até colocou elevador no prédio de 4 andares por ser uma exigência da Dona Elza, elevador que hoje se tornou uma relíquia, pois tem aquelas grades douradas que fecham antes da porta de madeira. Talvez seja o único desses elevadores ainda em funcionamento em Curitiba.
10. Tia Bena (Bernadete) era professora de piano na Belas Artes e dava aulas em casa. Lembro que ficava escutando as aulas lá no térreo, pois o apartamento dela era no primeiro andar.
Todos os alunos tocavam a mesma coisa – a Sonatina de Clementi – principalmente porque ela fazia a preparação para o vestibular da Belas Artes e esta peça era um pré-requisito.
Os alunos sempre erravam na mesma parte da música, daí recomeçavam e erravam novamente. A gente já até sabia onde eles iam tropeçar. E não dava outra.
11. No quinto andar tinha a Dona Sueli Piehoviak. Eram donos do Palácio das Espumas e ela fazia todos os dias uma bandejona de sonhos de goiabada e de nata para que seu filho Raul vendesse no bar-mercearia que ele tinha. O bar ficava na esquina da Rua Dr. Faivre.
Os sonhos eram vendidos que nem água. Sonhos maravilhosos.
12. Tia Leonida, casada com o tio Dante (filho), sempre foi e ainda é uma ‘figura’. Morou no prédio em duas ocasiões e é uma pessoa especial, com seu jeito peculiar de contar histórias, muito engraçada. Merece um capítulo a parte.
13. Na mesma Rua General Carneiro tinha a Dona Rese e o marido, que eram donos da fábrica de fitas e bandeiras Venske e os três filhos: Vânia e os dois irmãos, Áilton e Ílton.
Essa fábrica de fitas localizava-se onde hoje é o Instituto Goethe.
Enfim, tinha a Denise, a Ana, a Norma e a Beth, lindas moças que moravam numa casa de muro de pedras na esquina da General Carneiro com a Nilo Cairo. Acho que eram do Cortume Boutin.
Ainda na minha rua tinham a Maria Amélia (achava este nome lindo) e sua irmã gêmea. As duas meninas não eram nem um pouco parecidas.
No quarto andar moravam a família Moreira Salles e tinham as meninas: Vera, Paula, Cláudia e Flávia.
Mas o que eu achava o máximo é que a irmã da mãe delas era a Miss Paraná: Marise Meyer Costa, de Ibaiti, e que ficou em terceiro lugar no concurso de Miss Brasil. Era linda e quando vinha no prédio, a gente ficava só espiando.
Tinha o ‘homem do saco’, a carrocinha que pegava os cachorros de rua, as carroças que traziam frutas e verduras para vender de manhã e a gente escutava de longe quando se aproximavam com as rodas batendo nos paralelepípedos. E os cachorros de rua sempre latindo e correndo atrás das carroças.
Sem esquecer dos barulhos das cigarras, dos carteiros que traziam cartas (e não só contas e avisos de multas), do homem que vendia casquinha (biju) e vinha batendo uma matraca, do sorveteiro que vendia os ‘dolés’, do amolador de facas com o som característico e até do realejo com um papagaio que tirava a sorte. Esse era mais raro mas às vezes aparecia também.
Mas não era só festa não. Muita gente da mesma família junto e às vezes saía uns arranca-rabos daqueles!
Mas agora lembramos de todos com saudades.
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Adorei!!!
O Ruy me contou que os primos sentavam no telhado com as pernas balançando nas aberturas no topo da estrutura.
Adorei!! Já morei no prédio e tenho saudades!