“Morei na esquina das ruas Mateus Leme com a Carlos Cavalcanti no início dos anos setenta e à noite – deitada na cama, ouvia um som e achava tenebroso. Não sabia do que se tratava. Parecia alguém doente, gemendo com uma dor muito intensa, mas eu achava que ninguém doente gemeria com tanta intensidade. Até que um dia alguém me disse, são os leões no passeio público. Aí o meu medo aumentou… Até hoje tenho medo de encontrar um na rua” (relatado por Eunice de Oliveira).
Domingo era dia de levar as crianças no Passeio Público.
Naquela Curitiba de outrora não havia nem pedalinho, que vieram bem depois. O que tinha era um barquinho com remos.
E era o Rio Belém represado. Hoje o lago é alimentado com água de poço artesiano.
Isso porque na década de 70 foi feita a concretagem do lago e a canalização do Rio Belém na Rua Ivo Leão.
Passeio Público antigamente. Ao fundo, a Universidade Federal do Paraná
Naquela época, há mais de 130 anos, toda a região em volta do Passeio Público era uma área pantanosa e havia uma questão séria de Saúde Pública.
Médicos inclusive achavam que os vapores que subiam para o ar, oriundos daquelas águas paradas, podiam transmitir doenças às pessoas. Além de que atraíam mosquitos e isso significava muitos problemas.
Resolveram então canalizar o Rio Belém que se espalhava por ali, secando aquilo tudo e fazendo um lago na região onde é o Passeio Público.
Com isso resolveram o problema das águas paradas na região e aproveitaram para embelezar a cidade.
E também oferecer um local de entretenimento às famílias curitibanas, fazendo um parque em volta.
Contrataram urbanistas da Europa, de Paris, para deixar bem caprichado.
Plantaram centenas de espécies de árvores.
Fizeram pontes imitando que fossem naturais, de pedras e cercaram o parque com uma cerca feita de cimento, mas que imitava troncos de árvores. Esse estilo de fazer artificialmente algo imitando a natureza nativa se chama “estilo haussmanniano”.
Ergueram um coreto para os músicos fazerem concertos.
Com o tempo, virou um aquário e tinha até cobras. Hoje voltou a ser um coreto e oferece concertos e apresentações de modo presencial e digital.
Em baixo do aquário fizeram uma gruta parecendo natural, como se fossem estalactites. Lembro de ir lá e ver os pinguins nesta gruta. Os funcionários do parque colocavam barras de gelo na água para os pinguins ficarem bem.
Havia uma grande jaula para os macacos e as pessoas podiam dar pipoca a eles. Tinha um macaco que “roubava” o cigarro dos que ficavam próximos à grade.
E havia jacarés. O pai tinha um chicote com o fio comprido igual àqueles de instrutores dos picadeiros (de circo).
Lembro o pai chegando na frente do lugar onde ficavam os jacarés e estalar o chicote no chão, do lado de fora da jaula, e o jacaré se remexia bruscamente. Morria de medo!
Tinha também um urso e leões.
Soube que certa vez uma jaguatirica escapou da jaula e foi parar no quintal de uma casa na Mateus Leme.
“Tudo isso fazia lembrar a música do Roberto Carlos: …um leão está solto na rua…calamidade igual nunca vi…”
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(Fotos: Gazeta do Povo/MIS)
Lembro dos rugidos