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KARIN-CABECA-COLUNA

Uma casa nas pedras

03/04/2025
A Casa das Pedras em Caioba junto ao Morro do Boi

Meus avós tinham casa em Matinhos, em uma época que Caiobá “ainda não existia”.

Meu pai costumava fazer trilhas no morro de Matinhos (anos depois ele se tornou marumbinista) e caminhadas até o local onde hoje é Caiobá.

Caiobá era só vegetação, pedras e areia, um local para se chegar de barco ou a pé.

Um dos passatempos de quem fazia temporada no litoral, incluindo os meus pais, era fazer piqueniques nas praias próximas ao morro de Caiobá. Eles nunca falaram, mas imagino que a ideia de construir uma casa lá tenha sido um sonho acalentado desde a juventude.

No final da década de 50, o pai comprou um “terreno” do Willy, que era o dono de quase todas as terras ao redor do Morro do Boi em Caiobá. Ele e minha mãe já eram noivos, e se casaram em 1960.

De presente de noivado, meu pai deu à minha mãe não uma pedra em um anel, mas a pedra onde iria se erguer a futura casa de praia deles.

Foi a terceira casa da prainha da Ilha do Farol. A primeira casa foi a do Fernando Miranda, no final de uma rua sem saída e com vista livre para o oceano. Logo após veio a casa dos Köpp, que mantém a arquitetura maravilhosa até hoje, com poucas alterações. E a casa dos Requião, com um enorme timão na fachada.

Guido Weber durante a construção da casa em 1962/1963

A “Casa das Pedras” foi construída com muito cuidado, tendo as pedras como a base de terreno e buscando respeitar a natureza ao redor. Apesar da aparência suntuosa, era uma casa de tamanho normal, para um casal com uma filha, e que planejava ter outros filhos.

Na entrada, uma escada com os degraus vazados (para não impedir a visão do mar) levava à casa, “fazendo um dente” para dividir o espaço e respeitar uma grande árvore que já existia ali.

Embaixo, também na entrada, havia um chuveiro para tirar a areia da praia. E que nós adorávamos, por não termos de nos preocupar com a “molhação” do chão.

Era uma casa meio estilo “Robinson Crusoé”, só que em vez de estar em cima das árvores foi construída em cima das pedras. O chão da residência era todo feito de pedras, mantendo um aspecto mais “rústico” na parte externa, e o piso bem lisinho na parte interna da casa.

O terraço dava a volta na casa toda, permitindo que todas as portas se abrissem para a parte externa e fazendo com que a casa fosse ventilada naturalmente.

A “cerca” de proteção que envolvia o terraço era feita com canos brancos de PVC e redes de pesca, também vazadas e quase transparentes, não impedindo a brisa ou a vista livre para o mar. Além de serem bastante fortes, o que dava segurança também.

Karla Weber na “proa do navio” com vista da Praia Mansa ao fundo

A sensação era de que estávamos a bordo de um navio.

Apesar de a casa se integrar à natureza e de ter sido feita com todas as formalidades e alvarás, foi construída em uma época em que isso era permitido. Hoje não seria possível erguer uma casa assim.

E vejo que, apesar de termos podido desfrutar de uma casa incrível, os anos maravilhosos que passamos lá tiveram mais a ver mais com as pessoas que moravam ali, e com um tempo em que Caiobá era nosso paraíso de verão.

(Texto escrito por Karla Weber)

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