
Meus avós tinham casa em Matinhos, em uma época que Caiobá “ainda não existia”.
Meu pai costumava fazer trilhas no morro de Matinhos (anos depois ele se tornou marumbinista) e caminhadas até o local onde hoje é Caiobá.
Caiobá era só vegetação, pedras e areia, um local para se chegar de barco ou a pé.
Um dos passatempos de quem fazia temporada no litoral, incluindo os meus pais, era fazer piqueniques nas praias próximas ao morro de Caiobá. Eles nunca falaram, mas imagino que a ideia de construir uma casa lá tenha sido um sonho acalentado desde a juventude.
No final da década de 50, o pai comprou um “terreno” do Willy, que era o dono de quase todas as terras ao redor do Morro do Boi em Caiobá. Ele e minha mãe já eram noivos, e se casaram em 1960.
De presente de noivado, meu pai deu à minha mãe não uma pedra em um anel, mas a pedra onde iria se erguer a futura casa de praia deles.
Foi a terceira casa da prainha da Ilha do Farol. A primeira casa foi a do Fernando Miranda, no final de uma rua sem saída e com vista livre para o oceano. Logo após veio a casa dos Köpp, que mantém a arquitetura maravilhosa até hoje, com poucas alterações. E a casa dos Requião, com um enorme timão na fachada.

A “Casa das Pedras” foi construída com muito cuidado, tendo as pedras como a base de terreno e buscando respeitar a natureza ao redor. Apesar da aparência suntuosa, era uma casa de tamanho normal, para um casal com uma filha, e que planejava ter outros filhos.
Na entrada, uma escada com os degraus vazados (para não impedir a visão do mar) levava à casa, “fazendo um dente” para dividir o espaço e respeitar uma grande árvore que já existia ali.
Embaixo, também na entrada, havia um chuveiro para tirar a areia da praia. E que nós adorávamos, por não termos de nos preocupar com a “molhação” do chão.
Era uma casa meio estilo “Robinson Crusoé”, só que em vez de estar em cima das árvores foi construída em cima das pedras. O chão da residência era todo feito de pedras, mantendo um aspecto mais “rústico” na parte externa, e o piso bem lisinho na parte interna da casa.
O terraço dava a volta na casa toda, permitindo que todas as portas se abrissem para a parte externa e fazendo com que a casa fosse ventilada naturalmente.
A “cerca” de proteção que envolvia o terraço era feita com canos brancos de PVC e redes de pesca, também vazadas e quase transparentes, não impedindo a brisa ou a vista livre para o mar. Além de serem bastante fortes, o que dava segurança também.

A sensação era de que estávamos a bordo de um navio.
Apesar de a casa se integrar à natureza e de ter sido feita com todas as formalidades e alvarás, foi construída em uma época em que isso era permitido. Hoje não seria possível erguer uma casa assim.
E vejo que, apesar de termos podido desfrutar de uma casa incrível, os anos maravilhosos que passamos lá tiveram mais a ver mais com as pessoas que moravam ali, e com um tempo em que Caiobá era nosso paraíso de verão.
(Texto escrito por Karla Weber)
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