Um relatório elaborado pelo Instituto de Meio Ambiente e Segurança Humana da Universidade das Nações Unidas (UNU-EHS) afirma que soluções paliativas não são mais suficientes diante do agravamento da crise climática, da perda de biodiversidade e do aumento das desigualdades. O estudo Riscos de Desastres Interconectados 2025 – Virando uma Nova Página propõe transformações estruturais urgentes para enfrentar as raízes das disfunções globais.
Inspirada na metáfora de uma árvore que cresce com raízes podres, a proposta foi chamada de Teoria da Mudança Profunda. Em vez de focar apenas nos efeitos visíveis dos problemas enfrentados pela humanidade, o relatório aborda a necessidade de repensar sistemas, valores e crenças que retroalimentam a crise atual.
Isso implica rever modelos econômicos ultrapassados, combater o consumo desenfreado e as desigualdades que separam pessoas, regiões e países, além de enfrentar visões de mundo que colocam os desejos humanos acima da capacidade da natureza. Para promover mudanças, é necessário agir tanto no plano interno (mentalidades e valores) quanto no externo (políticas e instituições).
O relatório aponta cinco caminhos para essa mudança profunda: repensar o desperdício, realinhar-se com a natureza, reimaginar o futuro, redistribuir responsabilidades e redefinir o que entendemos por valor. Exemplos como o modelo de economia circular de Kamikatsu, no Japão, e a restauração do rio Kissimmee, nos Estados Unidos, mostram que a transição é possível — mas exige vontade coletiva.
“Não basta evitar o pior. Precisamos lutar pelo melhor”, resume Zita Sebesvari, uma das autoras do trabalho. A mensagem é clara: só mudaremos o mundo se mudarmos também a forma como o enxergamos.
O custo Trump (I)
As excentricidades do ex-presidente americano Donald Trump em relação às tarifas aduaneiras aplicadas a parceiros comerciais — mesmo com o vaivém nos prazos das decisões da Casa Branca — geram insegurança global. Na Europa, a crise na indústria do aço se agravou diante da concorrência com produtos mais baratos, principalmente da China, que passaram a ser redirecionados após deixarem de ir para os Estados Unidos. A gigante alemã da siderurgia ThyssenKrupp já ameaça demitir 11 mil trabalhadores.
O custo Trump (II)
Os problemas das indústrias europeias de metalurgia e siderurgia não são novos. O setor já enfrenta uma guerra de preços com empresas de outras regiões. Estimativas recentes indicam um excesso global de capacidade produtiva de cerca de 500 milhões de toneladas por ano — volume produzido majoritariamente com energia oriunda de combustíveis fósseis, especialmente o carvão.
O custo Trump (III)
A médio prazo, a União Europeia pode recorrer a mecanismos para impulsionar a produção de aço verde — fabricado com energia renovável, ainda mais cara. Uma das propostas é um pacote de incentivos financeiros de 100 bilhões de euros para o setor metalúrgico. Outra medida, já aprovada, é a taxação extra de produtos oriundos de regiões com altos índices de emissões de carbono e desmatamento. Criado para acelerar a descarbonização das cadeias produtivas, o Mecanismo de Ajustamento Carbônico Fronteiriço (CBAM, na sigla em inglês) entrará em vigor no início de 2026. Ele abrangerá também produtos como ferro, cimento e alumínio.
Debandada da NZBA (I)
Grandes bancos japoneses que haviam aderido à Net-Zero Banking Alliance (NZBA) deixaram o movimento em 2025. O mais recente foi o Sumitomo Financial (SMFG), segundo maior banco do Japão. Antes dele, Mizuho Financial, Nomura Holdings e Mitsubishi UFJ também anunciaram a saída. Até o início de abril, apenas o japonês Sumitomo Trust (SMTG) permanecia na aliança. Desde dezembro, seis dos maiores bancos americanos também deixaram a organização: JPMorgan, Morgan Stanley, Bank of America, Citigroup, Wells Fargo e Goldman Sachs.
Debandada da NZBA (II)
Criada em 2021 como um dos braços da ONU para o enfrentamento do aquecimento global, a aliança bancária começou com 43 instituições. Em 2024, chegou a 140 membros, mas caiu para 129 em 2025. Os integrantes da NZBA se comprometeram a reduzir emissões até 2030 e a estruturar um portfólio de crédito alinhado à meta de emissão líquida zero até 2050. Isso implica impor maiores exigências aos setores intensivos em carbono.
Debandada da NZBA (III)
A saída de instituições da NZBA é atribuída, em parte, à mudança de governo nos Estados Unidos e à ofensiva contra práticas ESG por membros do Partido Republicano. Autoridades estaduais vêm alertando instituições financeiras — bancos, seguradoras, gestores de ativos e investidores — sobre possíveis violações legais ao privilegiarem investimentos com foco climático. Pioneira em investimentos sustentáveis, a BlackRock — maior gestora de ativos do mundo, com cerca de US$ 11,5 trilhões — deixou a Net Zero Asset Managers Initiative em janeiro.
(Foto: Li-An Lim/Unsplash)
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