Depois da casa arrombada, tranca na porta! O ditado popular sintetiza o funcionamento do Brasil, um país pródigo em criar soluções para problemas que já aconteceram. Mais grave que isso, é que em grande parte das vezes, as resoluções se resumem a discursos e propaganda, sem chegar em algo concreto.
Agora, com a catástrofe das chuvas no Rio Grande do Sul, o governo federal promete criar um plano de contingência para desastres climáticos. O novo programa de enfrentamento a situações extremas ainda não foi batizado, mas deve ter relação direta com o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima, uma iniciativa lançada pela União em 2016 e que até hoje não saiu do papel.
Na época, a apresentação do documento informava inclusive que os “impactos da mudança do clima já são observados na atualidade” e que a elaboração das medidas foi sustentada pela previsão de que as mudanças climáticas afetariam “sistemas naturais, humanos, de infraestrutura e produtivo do país”.
O plano considerou ainda que o aquecimento da temperatura do planeta provocaria “eventos extremos nas diferentes regiões do Brasil, bem como uma alteração no regime de chuvas, com maior ocorrência de secas, inundações, alagamentos, deslizamentos de encostas e consequentes deslocamentos populacionais”.
Como não nos adaptamos à mudança climática, é fundamental instituir um plano de contingência abrangente, e a tragédia gaúcha reforça a necessidade de o País ter uma resposta efetiva para minimizar danos. Claro que a ideia chega com o devido atraso, mas, como expressa outro ditado bem conhecido, antes tarde do que nunca!
Planos de adaptação
O desastre no Rio Grande do Sul também acelerou a discussão de um projeto de lei que estabelece regras e diretrizes gerais para que todos os estados e municípios elaborem planos de adaptação ao clima. A proposição foi apresentada em 2021, com a justificativa de que o Brasil não tinha uma legislação que oriente a formulação de projetos.
Desplastificação nacional
Começou a tramitar no Senado um projeto de lei (PL 258/24) que propõe a criação de uma Política Nacional de Desplastificação. A ideia básica é estimular a substituição de derivados do petróleo por produtos biodegradáveis na industrialização do plástico, com linhas de financiamentos públicas. Caso seja aprovada no Congresso Nacional, a proposta deverá ser regulamentada pelo governo federal, estabelecendo prazos para a transição. O texto estabelece, contudo, que o descumprimento do novo marco legal poderá ser enquadrado na Lei de Crimes Ambientais.
Bateria inovadora (I)
O site do Journal of Energy Storage publicou um estudo que explica uma nova tecnologia para a construção de baterias elétricas, criada dentro do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e do programa de pós-graduação em Tecnologia Nuclear da Universidade de São Paulo (USP). Com o uso de nanopartículas de chumbo e uma membrana plástica muito leve e compacta (Proton-exchange membrane), que substitui a água, o produto é 20 vezes mais leve que uma bateria convencional e, de acordo com os pesquisadores, mais viável ecologicamente que as de lítio, mineral que ainda precisa ser extraído em grandes quantidades, enquanto há muito chumbo a ser reciclado no mundo.
Bateria inovadora (II)
A nova bateria é fruto do trabalho dos pesquisadores Almir de Oliveira, Edson Pereira Soares, Rodrigo Brambilla e Victória Maia. O protótipo desenvolvido tem cinco centímetros quadrados e 1,2 milímetro de espessura, mas é possível produzir peças maiores, com mais investimentos. Além de leve e flexível, a bateria também suporta grandes variações de temperatura, positivas e negativas, enquanto o lítio corre o risco de explodir quando exposto ao calor, informa o estudo.
Mais metano (I)
O aquecimento global está revelando novas fontes naturais de metano. Cientistas identificaram maior volume de emissões no permafrost, solo comum no Hemisfério Norte que passa por uma fase de descongelamento, e terrenos abertos com o derretimento de geleiras. As áreas acumulam grande volume de matéria orgânica decomposta. O mesmo ocorre em outros potenciais geradores do gás: o fundo de reservatórios de usinas hidrelétricas e pântanos. Em todos os casos, as altas temperaturas têm influência direta no aumento das liberações.
Mais metano (II)
Atualmente, a atividade humana é responsável por 60% das emissões globais de metano, com destaque para a produção de petróleo e gás, a agropecuária (arroto bovino) e os lixões. Os outros 40% já têm origem em fontes naturais. Estudos atribuem ao gás 30% da responsabilidade pelo aquecimento do planeta. Embora tenha vida mais curta que o dióxido de carbono quando liberado na atmosfera, o metano provoca um impacto 80 vezes mais severo do que o CO2.
Descarbonization fund
A gestora de ativos americana BlackRock e o Temasek, fundo soberano de Singapura, criaram em conjunto o Decarbonization Partners Fund I para financiar empresas que fornecem tecnologias e soluções para acelerar a transição energética e a descarbonização da economia. Na primeira chamada, a ideia captou US$ 1,4 bilhão – 40% a mais do que a previsão inicial. A aplicação atraiu 30 investidores de 18 países, incluindo fundos de pensão públicos e privados, fundos soberanos, seguradoras, empresas de variados ramos e administradores de grandes fortunas (Family offices).
(Foto: Thandy Yung/Unsplash)
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