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11/05/2024

Curitiba

Por Constantino Kotzias – 

 

As coisas mudaram.

Começo a perceber que tudo o que existia, se foi.

A casa da Manteiga não mais existe, assim como a Roskamp.

Os avisos de falecimento do café da alvorada ainda estão lá, mas aqueles que liam, já apareceram nos avisos.

A loja do Dr. Scholl continua, mas com a fachada diferente.

Ainda na mesma quadra, vejo que a lanchonete Cegonha sumiu e deu lugar a outro estabelecimento comercial. A joalheria do Boiko não existe mais.

Na esquina e na quadra, centenas de coreanos dominam as lanchonetes, antes de japoneses. Atravesso a rua, o passeio continua. Olho calmamente para o lado esquerdo e vejo que a confeitaria cometa faz muita falta. Ouço os sons daquela casa cheia, mesas de mármore branco e a cerveja gelada, em meio a empadinhas e sanduíches de pernil com verde.

Do outro lado, a livraria Gighnone ostentava uma bela placa e uma área imensa.

E a joalheria Kopp fechou.

E o Magazin Avenida, fechou.

E a Confeitaria das Famílias continua lá, no mesmo lugar, com o numero de lojas populares na Rua XV, aquela que era refinada e dava gosto de caminhar lentamente.

A Massom, a Slopper, a Tecelagem Imperial (de ontem), o M.Rosenmann Joalheiros, a pizza do Savoia, a loja de tecidos do pai do Caio, enfim cadê tudo isso?

Fechou, mudou, evoluiu, cresceu.

Só aí reparo que já estou com 50 anos. Mas mesmo assim, procuro algo para reavivar a memória e poder abrir um sorriso. Nada!

Não existe mais o q vi crescer e o que me fez crescer.

Até as janelas do Camões estão diferentes.

A Lancaster ainda está lá, assim como o Triângulo.

O árabe do primeiro andar fechou.

A foto Brasil se foi.

A Minerva voltou.

A confeitaria Colombo fechou.

Tudo muda.

Inclusive eu.

O Cine Ópera deu lugar à Mesbla, que deu lugar à Pernambucanas.

O Cine Avenida fechou, saiu o teatro HSBC, que substituiu o Bamerindus, na esquina toda.

A pérgola da Oliveira Belo sumiu.

A mulher que vendia loterias gritando para todos, continua lá.

E vai dar cobra.

O prédio Garcez, após tantas coisas, continua lá, escondendo em suas escadas e janelas, anos de histórias.

O melhor alfaiate de Curitiba, o Fernandes.

A loja do Lucilo.

O Inter com suas saídas de mulheres bonitas.

O Cine Palácio fechou.

A confeitaria Iguaçu está lá, mas não deu coragem de subir.

A Stier, que vendia som, se foi.

A Menilmontant, esta lá.

Volto para casa, lentamente.

E vou olhando, observando.

É outra cidade.

Até os rostos são outros.

Talvez um conhecido e outro, mas muita gente nova.

Gente que veio com a propaganda da capital do primeiro mundo.

Estamos indo.

Gente que veio em busca de paz. E encontrou.

Gente que veio atrás de cidade sorriso.

E achou.

Só o meu vai se perdendo pela caminhada.

É uma cidade virada, mas carinhosa, gostosa, charmosa.

Como não gostar da sua cidade?

Esta é Curitiba.

A nossa Curitiba. Querida e acolhedora.

Deixe pra lá a capital social, a cidade da gente, a capital ecológica.

Curitiba é nossa. Minha, sua, de quem aqui nasceu e se criou e de quem viu tudo mudar.

Quem chegou aqui faz tempo, quem não perdeu tempo e acompanhou tudo o que aconteceu.

Quando o calçadão chegou, tudo mudou.

Quando a cidade cresceu, o ladrão apareceu e as casas, antes sem grades, hoje são fortalezas que escondem a alegria dos curitibanos.

Esta é Curitiba.

Que hoje esta de aniversário. Mais um ano. Mais esperanças.

Ao menos, eu e tantos outros ainda moramos e vivemos aqui.

Ta ruim?

Tem pior.

Fiquemos aqui.

Felicidades, Curitiba.


* Esse texto foi escrito em 2007. 


COSTANTINO KOTZIAS, também conhecido como Costa Kotzias. Publicitário, Professor universitário, cronista. Formado em Letras Português pela PUC/PR, cursou Economia e Direito. Atua no ramo da propaganda desde 1980, quando iniciou sua carreira como redator da Equipe Propaganda, sob a orientação do saudoso Norberto Castilho. Após este período, passou pelas principais agências nacionais, como a Provarejo (Grupo Mesbla) e MPM Propaganda, onde exerceu a gerência do Paraná por quatro anos. Atuou em outras agências, sempre na coordenação do atendimento do varejo e alguns capítulos em criação. Hoje atua como diretor de marketing do jornal Indústria & Comércio, de Curitiba. Autor das crônicas na rádio Ouro Verde FM desde 2001, comemorando datas especiais e acontecimentos.

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