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12/05/2024

Destino perna de pau

Ao receber sua primeira bola de futebol, tentou dominá-la, rengo que era, com a esquerda. Já de natureza torto, cedo viu que assim seria. Para sempre, canhoto. Zurdo. Sinistro.

À falta de alguém que fizesse uso da perna esquerda no poeirento campo de futebol do colégio, o padre-treinador viu-se na contingencia de convocá-lo para exercer a função de ponta-esquerda. Não era o jogador dos sonhos do sujeito ou dos companheiros. Não era o ponta-esquerda dos sonhos divinos.

Ali jogava pela simples falta de outro que soubesse controlar, ainda que da mais tosca maneira, uma prosaica bola. Sem outros atributos, nela enfiava o pé esquerdo com vontade, razão pela qual marcava um ou outro gol.

Nada de receber passes, participar de triangulações. Solitário entrava, solitário saía. Sofria de permanente solidão, levando consigo a impressão de que jogava de costas para o time. Ou pior; contra ele.

Certo dia matricula-se no colégio um canhoto de talento, com o que ele foi recuado para a zaga. Em vão, a velocidade não era característica sua, tornou-se uma avenida para qualquer atacante passear de mãos dadas com a bola.

O treinador de batina afundou a cabeça nas mãos até mandar que desse lugar a outro. Saiu de campo com a nesga de dignidade que lhe sobrava, trocou de roupa. Depois abriu a janela e pulou para a rua. Nunca soube o resultado daquele jogo. Nunca mais calçou chuteiras.

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