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12/05/2024

Digressões sobre a consistência da manteiga em terras de serra acima

Brasileiros dos trópicos, não sabeis das dificuldades enfrentadas por esses pobres habitantes das inóspitas cidades encarapitadas no alto das serras. Durante os invernos, que em algumas regiões duram o ano todo, há o suplício de se trocar de roupa, ou melhor, de ficar pelado durante 10 segundos em um ambiente a zero grau enquanto pedala-se umas ceroulas que resistem a agasalhar suas pernas. Experimentem deitar sobre um lençol congelante, lavar as mãos com água corrente ou outras agruras do mesmo calibre. É de chorar, enquanto as lágrimas congelam no seu rosto.

 

Mas o processo de endurecimento da manteiga revela nuances não imaginadas pelos patrícios dos territórios tropicalientes. Uma jovem oriunda do nordeste mineiro, ao ver um pequeno tablete de manteiga no couvert de um restaurante, saboreou a porção como se fosse queijo – e achou o sabor bastante curioso, sem atinar para o fato de que manteiga e queijo são irmãos por parte da vaca, mas suas gestações são distintas.

 

Na hostil geladeira em que vivemos, não se besunta a manteiga no pão. Ela adquire propriedades próprias do concreto, sendo necessário cortá-la, após afiar a faca. Ou esquentá-la.

 

É claro que a manteiga derreteria se submetida a alguns segundos no micro-ondas, mas vamos considerar que nem sempre o aparelho está por perto. Se a tarefa for levada a efeito em um rancho campestre, é possível que nem exista energia elétrica. Logo, voltemos às tentativas de cortar a manteiga.

 

Posiciona-se a faca sobre o tijolinho e tenta-se cortar uma fatia, nem muito fina nem grossa. Bem sucedida a tarefa, equilibra-se a fatia sobre a faca e deposita-se sobre o pão. E aí começa outra função, que é a de passar o conteúdo de uma superfície à outra.

 

Caso a força seja excessiva, o pão começa a esfarelar. Pães fatiados são os mais vulneráreis, passíveis de desmilinguírem-se sob a pressão da faca e de sua hóspede provisória, a endurecida manteiga.

 

O resultado é que se consome mais manteiga e mais pão. Neste ponto, surge novo aspecto de fundamental importância na análise da deformação causada pelas gélidas temperaturas na estrutura, digamos, manteigal: o econômico.

 

Minha experiência de décadas na função de preparar sanduíches forrados de manteiga no inverno demonstra que o gasto com o produto chega a ser superior em uns 20% em relação a outras estações. Com os pães o consumo é de 5 a 10% a mais. Nem contarmos os custos com mão de obra e vassouras para varrer os farelos de pão.

 

É imperativo que se tomem logo atitudes contra esse estado de coisas. Não se pode ficar indiferente ao problema, que tanto afeta a vida saudável das pessoas. As soluções vão desde mudar o clima das regiões serranas, para o que basta um convênio com São Pedro; acabar com as serras, transformando todos os territórios em planícies litorâneas, jogando a terra excedente para fechar os buracos existentes no orçamento da União; ou levar todo mundo para viver no Caribe, o que seria mais em conta.

 

Gostei dessa alternativa. Todo mundo de camiseta, bermuda e cerveja gelada na mão. Vou procurar o Ministério do Turismo hoje mesmo.

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