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02/05/2024

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Jonel Chede: uma vida dedicada às causas paranistas

 Jonel Chede: uma vida dedicada às causas paranistas

 

Por André Lopes, Fernando Ghignone e Isabella Honório

 

Paranaense de Palmeira, engenheiro químico por formação e empresário por vocação, Jonel Chede acompanha há várias décadas as mudanças econômicas, políticas e sociais do Paraná. Filho de ex-prefeito da cidade natal, evitou transitar na seara política, mas não deixou de ser protagonista quando o momento exigiu.

 

Presidiu duas importantes entidades paranaenses: a Associação Comercial do Paraná (1998-2000) e o Movimento Pró Paraná (2009-2015) e, no comando delas, sempre defendeu que ambas deviam ser apartidárias, mas políticas.

 

Em conversa com o HojePR, Jonel Chede faz uma avaliação da sua participação na vida pública do Paraná e relembra lutas e bandeiras defendidas no comando das entidades.

 

HOJEPR: A sua vida pública, por assim dizer, começa na Associação Comercial do Paraná?
Jonel Chede: Não. Antes eu presidi a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) que visa principalmente o turismo, porque o hotel é um elemento muito forte do turismo. Nós estamos colhendo os frutos agora. Curitiba é o segundo polo de atração turística no Brasil, o primeiro é Foz do Iguaçu. Só que para chegar em Foz do Iguaçu agora está um pouco difícil, eles não conseguem arrumar a BR-277, faz quase um ano.

HOJEPR: Mas o senhor é engenheiro químico. Como foi para no setor de turismo e hotelaria?

Jonel Chede: Considero que para o turismo, a hotelaria seja um dos pilares principais. Nós tínhamos um prédio ali na Praça Osório, e resolvemos transformá-lo em hotel. Já fazem 50 anos e continua funcionando. Hoje, um dos nossos parceiros é o Centro Europeu, a escola de hotelaria. Depois, construímos no Batel um condomínio liderado por nós – a porcentagem maior é nossa. Está do lado do Pátio Batel e lá tem toda a configuração de como era Curitiba desde o tempo da carrocinha à mula. Descia o Batel por gravidade, depois tinha que subir, terminava na Praça Osório. Tudo isso a gente tentou reproduzir lá. Hoje quem toca é meu filho.

 

HOJEPR: Depois o senhor assume a Associação Comercial?

Jonel Chede: Antes eu fui vice-presidente. Eu entrei na Associação no tempo do Carlos Alberto Pereira de Oliveira. Ele tinha uma particularidade muito interessante: ele tinha 20 vice-presidentes, mas cada um era de uma área. Então ele ouvia todos os segmentos, todos os setores da sociedade. A partir disso ele se inteirava de tudo o que acontecia. Fui também do Conselho Político da entidade. Somente depois desse período é que fui indicado para a presidência. Fiquei lá por dois anos como presidente.

 

HOJEPR: Quais foram as maiores transformações de Curitiba desde que o senhor deixou a Associação?

Jonel Chede: A cidade mudou muito. O comércio tem sofrido muito, o comércio horizontal da Rua XV. A gente tinha, no nosso tempo, o policiamento ostensivo. O governador daquele período, o Jaime Lerner, nos ajudou muito. Depois veio a crise, que começou em 2013 e se agravou com o Coronavirus. E eu dizia: “vai ser muito mais fácil para o Brasil combater a doença propriamente dita, do que a doença da economia”. E agora, parece que nós estamos começando a tirar bastante proveito do turismo. Realmente, Curitiba é o segundo pólo nacional de turismo, e até internacional.

 

HOJEPR: Quais foram os principais projetos da sua gestão na Associação Comercial?

Jonel Chede: Uma campanha que a gente iniciou e depois por outras razões não prosperou, visava prestigiar e homenagear o que é nosso, da nossa terra, da nossa cidade, porque não há um foco para isso aqui. Nós começamos a homenagear as pessoas importantes para a cidade e o seu desenvolvimento. O Ricardo Pasquini, por exemplo, que em 1999 já tinha feito dois mil transplantes de medula óssea e hoje é uma figura internacional. Homenageamos a dona da Confeitaria das Famílias, a dona Dair da Costa Terzado. Eu sempre procurei homenagear figuras realmente importantes para o comércio de Curitiba. Vou dar um exemplo: o cachorro quente da XV. A ideia era mostrar que se medisse toda a vina que era vendida naquela loja dava a volta no mundo. Depois homenageamos as empresas com mais de 100 anos, muitas delas não resistiram, como não estão resistindo, infelizmente.

 

HOJEPR: Quando o senhor deixa a presidência da Associação Comercial assume o projeto do Centro Vivo?

Jonel Chede: Sim, fui o primeiro gestor do projeto Centro Vivo. O objetivo era revitalizar e movimentar essa área da cidade, impulsionando economicamente os negócios de diferentes setores varejistas. Esse projeto tinha uma peculiaridade muito interessante. Era uma parceria pública/privada, mas sem papel assinado. Na ocasião, quem nos estimulou muito e trabalhamos muito, foi o Cassio Taniguchi. As reuniões do IPPUC eram feitas na Associação Comercial, com todos os comerciantes da Rua XV. Nesse período do Cassio, foi aberta a Rua XV. Abriu-se todo o trecho do antigo prédio do Bamerindus até a Universidade, onde nós tínhamos galerias ali de esgoto do tempo do Império. Todas elas deterioradas. Então o que que se fez, se reestruturou toda a parte subterrânea da Rua XV. Depois veio naturalmente o mobiliário público né. A Rua XV foi revitalizada e depois o projeto ficou um pouco esquecido.

 

HOJEPR: Foram feitas várias intervenções no Centro de Curitiba por conta desse projeto.

Jonel Chede: Sim, os postes, por exemplo, eram aqueles tipo Copa do Mundo, que era um conduíte com uma aboborazinha de plástico. E nós achamos por bem trazer a tradição, que era os postes modelo Império. Bom, depois de feito isso, veio uma segunda etapa. Que eu acho que foi tão importante quanto a primeira. Os comerciantes. Eles vieram pedir animação para a Rua XV. Aí nós conseguimos fazer um tipo de um condomínio e o pessoal dizia “o Chede é o presidente, não o Chede é o síndico”, porque estavam todos os comerciantes. E cada um pagava uma contribuição em função do seu capital social registrado na Associação Comercial. E aí nós começamos a fazer a animação. O que que é animação? Fomos a Minas Gerais e conseguimos da Fiat a doação de seis carros Palio. E em cada data festiva, Dia das Mães, Natal, enfim, todas as datas festivas em que o comércio precisa muito da animação, nós fazíamos o sorteio desse carro. Cada venda de trinta reais dava direito a um cupom. O último sorteio nós tivemos 680 mil adesões. Veja como é importante esse shopping a céu aberto que é a Rua XV.

 

HOJEPR: Como está sendo conduzido o projeto hoje em dia?

Jonel Chede: O tempo é a unidade mais importante de todas, e é o senhor da razão também. Tudo isso é nossa luta. Felizmente agora, essa atual diretoria, está dando segmento naquilo que a gente começou na Rua XV. Às vezes você começa a ver moradores de rua e a higiene já não é a mesma coisa. Chegamos a lavar duas vezes a Rua XV na minha gestão. Agora os comerciantes estão tendo que conviver com ladrões de ouro. A segurança piorou muito. Nós precisaríamos, no meu entender, de segurança ostensiva de fato e física. Porque você fica rastreando por câmeras e quando chega lá o bandido já foi embora, já levou o que queria.

 

HOJEPR: Como era feita a segurança naquela época?

Jonel Chede: Quando criamos o projeto Centro Vivo e instalamos as câmeras diziam que estávamos acabando com a privacidade do povo. No subsolo tínhamos um membro da Polícia Militar, um da Polícia Civil e um da Guarda Municipal, que não usava arma e agora usa. E um membro do Tribunal de Justiça, que gravava o flagrante. Só que toda essa bandidagem, que tinha na Rua XV, acaba se deslocando para outro lugar. Foi para a Marechal Deodoro, e tivemos que fazer isso lá. E depois ela se espalhou, como em São Paulo hoje. Aqui em Curitiba precisamos de uma polícia mais ostensiva, presente. Isso tudo foi trabalho da Associação, infelizmente alguns não prosseguiram. Tudo tem que ter planejamento estratégico.

 

HOJEPR: Na sequência o senhor assumiu a presidência do Movimento Pró Paraná?

Jonel Chede: O Movimento Pró Paraná foi fundado pelo Dr. Francisco Cunha Pereira Filho, com o objetivo de defender os grandes pleitos paranistas. Começou com os royalties de Itaipu e aquelas terras férteis do Paraná começaram a produzir ainda mais. Ele é o grande mentor e idealista do Movimento Pró Paraná. Por uma relação de amizade lá do Canal 12, eu o sucedi no segundo mandato. Ele sempre apoiou com mídia espontânea, não só na Gazeta do Povo, mas no Canal 12 também, os nossos pleitos. Inclusive no projeto do Centro Vivo. Tenho um excelente relacionamento com os filhos do Dr. Francisco, eles sempre prestigiaram o projeto Centro Vivo. Porque sem a ajuda dessa imprensa boa, não se consegue. E isso está perdurando.

 

HOJEPR: Hoje o principal programa do Movimento Pró-Paraná é o Centro Vivo?

Jonel Chede: Já foi, infelizmente não é mais. Eu sou dos dois conselhos superiores do Pró Paraná. Em estou na quarta idade, sou nato. Mas continuo defendendo as causas. Defendo, por exemplo, desde 1993, que a Copel não pode ser privatizada, porque o que gera tudo é a água. Como o minério, não tem segunda safra. Eu entendo que a geração que transforma a energia hidráulica em energia mecânica na verdade é a água. É como o petróleo. O petróleo, na realidade, é nosso. Os serviços você pode privatizar, mas a geração não.

 

HOJEPR: Só para entender, quando o senhor defende que a Copel não seja privatizada, refere-se apenas a geração?

Jonel Chede: Sim, só a geração. A distribuição tem que ser privada com mérito. Porque o que gera tudo é a água. Mas como não tem planejamento estratégico, às vezes entram no negócio outros interesses, falando genericamente.

 

HOJEPR: Que outra causa o Movimento Pró-Paraná defende hoje?

Jonel Chede: O Movimento Pró-Paraná não defende nada, a Associação Comercial sim. Porque o Pró Paraná está impedido. Curitiba melhorou muito, olhe para o turismo, é uma cidade embelezada. Tivemos grandes prefeitos aí. Não se pode esquecer do Ivo Arzua, de Palmeira também, um dos grandes urbanistas de Curitiba, que abriu a Marechal, na raça. Era professor da universidade e criou o IPPUC.

 

HOJEPR: Se o senhor tivesse que levantar uma bandeira para defender uma causa que você acha fundamental para o nosso Estado, qual seria?

Jonel Chede: A da descoberta do Pré-Sal. É a maior bandeira e nós estamos vendo os navios passarem com a nossa riqueza. Isso traria bilhões para o Paraná. Nós estamos na frente de uma das maiores jazidas de Pré-Sal do Brasil. Se chama Pré-Sal porque vem de baixo para cima. Mas não sei, vamos ver se a nova bancada federal vai ver isso com melhores olhos.

 

HOJEPR: É um assunto que ficou estagnado durante o governo Bolsonaro, não se falou nisso.

Jonel Chede: Totalmente estagnado. Não falaram nada, nem em Brasília, nem no Paraná.

 

HOJEPR: A única coisa que teve foi a questão do gás natural. Houve até um impedimento de se explorar algumas jazidas porque ia ter que adotar aquele processo da fratura da rocha [fracking].

Jonel Chede: A engenharia nativa brasileira descobriu petróleo em águas profundas, isso é mérito nativo. Só que aqui no Paraná, ela foi, foi e depois parou. Isso acho que é o principal pleito do Paraná, porque é bilionário. Somos vizinhos de São Paulo, a locomotiva que puxa o trem. O Paraná é o primeiro vagão.

 

HOJEPR: É difícil ser uma locomotiva.

Jonel Chede: É, no turismo já somos uma locomotiva.

 

HOJEPR: E ainda somos um país que vende mal o turismo lá fora.

Jonel Chede: Infelizmente. Precisava haver mais foco na riqueza que o turismo traz. É falta de divulgação. É muito interessante isso. Você tem uma divulgação cara e pequena. É por isso que o Brasil tem que lutar, e o Paraná mais ainda. O Paraná é essencialmente agrícola, vive das commodities. A gente não pode perder a identidade e também a nossa soberania. O Paraná é soberano em muita coisa e está crescendo.

 

HOJEPR: Se o senhor tivesse que dar um conselho para o futuro prefeito de Curitiba, qual seria?

Jonel Chede: Atenção ao sistema automotivo. A cidade precisa ter vias expressas, transporte público e facilitar o transporte pessoal. As ruas estão abarrotadas. Você vê enormes filas de carros e daí passa um ônibus vazio. Isso foi, na minha opinião, efeito do coronavírus. As pessoas começaram a andar mais de carro. O grande problema de Curitiba hoje é o modal rodoviário.

 

HOJEPR: O metrô seria uma solução?

Jonel Chede: O metrô em Curitiba é muito complicado. O lençol freático é terrível. Ali na Praça Osório se apertar sai água. O metrô aqui é inadiável, mas por baixo não vão fazer. Por cima quem sabe. O Jaime Lerner era muito mais urbanista que arquiteto e pensou nas canaletas como o embrião de um futuro metrô. Mas não deixaram ele fazer, e você sabe o porquê? Quem detém a hegemonia do transporte por terra, de ônibus? Não dava para deixar. E isso foi debatido na Associação com os ex-prefeitos Cassio Taniguchi e Beto Richa. Então, isso tudo, a gente tem que pensar que vai dar certo, mas o fator tempo é muito importante. E o Paraná não tem um banco de projetos. Se você vai para Brasília pedir dinheiro, precisa de um projeto, senão vira tudo política.

 

HOJEPR: Na mesma linha, que conselho você daria para um governador no futuro?

Jonel Chede: Bom, acho que o Ratinho Junior foi um bom deputado federal, muito organizado. Mas acho que ele precisa amadurecer um pouco. Nós vamos ter um pleito para prefeito muito difícil, então, ele precisa amadurecer um pouco e fazer uma política um pouco diferente, mais verdadeira. Porque já há um conflito aqui. Eles tem a Rede Massa na mão, tem muita força. Eu aconselharia, se ele me perguntasse: vai devagar. Esse negócio de dizer que vai ser presidente da República pode ser aqui, mas no Norte e Nordeste é outra cabeça. Lá eles se unem a favor do Estado, aqui nós nos desunimos contra o estado. Outra luta que tivemos foi a necessidade da reforma política. Desde 1993, no tempo da Maria Cristina Vieira na presidência da Associação Comercial, nós definimos o sistema distrital. Eu moro no Batel e não sei qual vereador me representa. Mas se você for no Tatuquara, ou em outros bairros mais simples, eles têm um vereador do bairro. Então, a verdadeira política começa em casa. Depois, a base é o município, é onde tudo acontece. O bairro ou as cidades menores podem escolher candidatos. Da casa vai para o município, do município para o estado e depois termina em Brasília, o ápice da pirâmide.

 

HOJEPR: Para encerrar, hoje o senhor, além de ser do Conselho Superior do Movimento Pró Paraná e da Associação Comercial, você continua sua atividade empresarial na hotelaria?

Jonel Chede: Continuo ativo na hotelaria. Nós temos o hotel na Praça Osório, em parceria com o Centro Europeu. A empresa se chama Hotéis e Turismo, lá no Batel, e é administrada pela Transamérica, que agora fez uma fusão, porque houve muita gente que soube sair, com muitas dificuldades, da crise do coronavírus. Eles fizeram a fusão com cinco outras empresas para sobreviver. Porque nesse período tivemos que fechar os dois hotéis. Por exemplo, a cozinha. Trazíamos a equipe, a brigada, montamos o restaurante e depois de dois dias mandavam fechar. Isso foi terrível. Fechou muito comércio.

 

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