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Juro alto não segura inflação

15/03/2022

Por Dennison de Oliveira – 

A inflação designa o aumento contínuo dos preços em determinado período. A análise das causas da inflação permite perceber que a atual política de juros altos – aliás, os maiores do mundo – praticada pelo Banco Central não tem efeito sobre o contínuo aumento dos preços no Brasil. Pelo contrário, pode até vir a ser a causa de ainda mais inflação.

 

A causa mais conhecida da inflação é de ordem monetária. Ela ocorre quando existe mais dinheiro em circulação do que bens e serviços disponíveis para serem comprados. A contínua emissão de papel moeda pelo governo é, neste caso, a causa da inflação.

 

Outra causa bem conhecida diz respeito às leis da oferta e da procura que regulam os diferentes mercados, podendo ocorrer uma inflação de demanda. Pode acontecer que a capacidade da economia ofertar bens e serviços se encontrar aquém da possibilidade de atender à demanda, levando assim à subida dos preços.

 

Se a demanda maior que a oferta causa inflação, o mesmo ocorre no caso da redução da oferta. Mesmo que a demanda permaneça estável, a súbita queda na quantidade da oferta de bens ou serviços oferecidos no mercado também fará com que seus preços aumentem. Finalmente, a inflação também pode ter origem nos preços de bens e serviços administrados como são os monopólios e cartéis das áreas de energia, transporte, comunicações, combustíveis, água e saneamento etc.

 

A origem atual da inflação brasileira se prende às duas últimas causas: por um lado, ocorre um choque de oferta, ligado ao contexto de vigência da pandemia de coronavírus e a subsequente Guerra na Ucrânia, as quais paralisaram ou restringiram as atividades de diversas cadeias de produção e distribuição, causando aumento nos seus preços; por outro, a inflação é gerada pelo aumento dos preços de bens e serviços administrados como são os monopólios citados. Neste caso, os preços sobem porque os produtores podem pura e simplesmente impor os valores que lhes interessam, à revelia do volume da demanda por parte dos consumidores.

 

O recurso à subida de juros pode ter efeitos sobre a inflação, mas também vai atuar negativamente sobre a atividade econômica. Embora o índice de juros oficial tenha relação direta apenas com a remuneração dos títulos da dívida pública vendidos pelo governo para financiar déficits orçamentários, seus efeitos se estendem à toda economia.

 

Quanto maior for a atratividade da remuneração oferecida pelos títulos da dívida pública aos investidores, menor será o investimento privado dedicado às atividades produtivas e ao consumo de bens e serviços. Os recursos desviados, ou apenas tornados de custo mais elevado, do financiamento da produção e do consumo reduzem a liquidez da economia, diminuindo o volume de dinheiro em circulação e o nível da atividade econômica, através da redução da pressão da demanda sobre a oferta e, teoricamente, derrubando a inflação.

 

O problema é que a causa da inflação brasileira não é nem de demanda e nem de excesso de dinheiro em circulação. Muito pelo contrário, jamais tivemos um grau de redução do consumo de todos os tipos de bens e serviços quanto na atual conjuntura, bem como tamanha redução do volume de recursos destinados ao investimento e ampliação da capacidade produtiva. Assim, a atual política de imposição de juros mais e mais elevados por parte do Banco Central não tem qualquer efeito sobre a inflação. Muito pelo contrário, na medida em que os juros pagos nos financiamentos também são parte dos custos de produção e consumo, os juros altos acabam gerando ainda mais inflação.

 

O que se pode concluir é que a política de juros altos não segura inflação, podendo até ter efeito inverso. Se o Banco Central, à despeito da evidente desconexão entre a política adotada e os efeitos obtidos, segue com a política de juros cada vez mais altos, tal fato não se deve à necessidade de combater a inflação. As causas da adoção de tal política devem ser buscadas no exame do perfil dos diretores do Banco Central, historicamente a maioria deles oriundos dos grandes bancos nacionais e estrangeiros, os quais, justamente por serem os donos da maior parte dos títulos da dívida pública interna brasileira, são os principais beneficiados pela política de juros altos.

 

Para dar fim a tão ruinoso conflito de interesses considero indispensável que seja proibida a nomeação de qualquer banqueiro ou ex-banqueiro para ocupar qualquer cargo no Banco Central. Mais ainda os ex-membros devem ser proibidos por pelo menos dois anos de assumir qualquer função ou emprego em instituições financeiras. Somente a partir daí será possível ser combater de forma racional as verdadeiras causas da inflação.
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Dennison de Oliveira é professor de História na UFPR, autor do livro História do Brasil: política e economia (IBPEX, 2009)

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