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29/04/2024



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“Não! Não Olhe!” é o filme mais maduro e complexo de Jordan Peele

 “Não! Não Olhe!” é o filme mais maduro e complexo de Jordan Peele

Recém lançado nos cinemas nacionais, (Nope) “Não! Não Olhe!” é o mais novo filme dirigido, roteirizado e produzido pelo cineasta Jordan Peele, conhecido por ‘Corra!’, de 2015 e ‘Nós’, de 2019. Antes de falar sobre a obra mais madura e complexa de Peele, é importante situá-lo no cenário da indústria cinematográfica. Assim como Ari Aster (Hereditário e Midsommar) e Robert Eggers (A Bruxa, O Farol e O Homem do Norte), o diretor de Nope é considerado um dos grandes nomes do terror moderno que trabalha focado no terror psicológico. Cada um com suas características, no caso de Jordan Peele, acompanhamos (como tema principal ou subtema) histórias que tratam do racismo de uma forma completamente diferente de tudo o que já vimos.

Em Não! Não Olhe! acompanhamos uma história que também trabalha com a questão do racismo (nesse caso como subtema), mas por meio de ficção científica. Peele sai completamente do óbvio e “ri” da cara do espectador ao mínimo sentimento de previsibilidade. Explico: sabe quando você está assistindo um filme e você já cria um cenário e hipóteses em sua cabeça? Pois bem, em Nope até certo momento podemos pensar facilmente que se trata de um filme de ufologia, ou seja, alienígenas, vida extraterrestre, ets e afins. Mas não. E, mais… o grande trunfo é o fato do filme acabar e precisar de uns minutos para refletir. Sabe aqueles filmes que quando acaba e após uma análise feita, surge a vontade de assistir tudo novamente para pegar as pontas soltas que estão ali? O filme é absurdamente amarrado e cheio de metáforas nesse sentido!

Uma mistura (perfeita) de western, terror e ficção científica, acompanhamos dois irmãos, OJ interpretado por Daniel Kaluuya e Keke Palmer interpretado por Emerald Haywood, que se tornam responsáveis pela empresa de treinamento de cavalos para filmes de hollywood ao perder o pai que morre por meio de uma “chuva” de objetos. Após, cavalos começam a fugir ao mesmo tempo em que a energia começa a acabar ou falhar, é o momento de ir atrás de uma explicação. Percebem ao céu algo estranho e resolvem instalar câmeras pelo rancho para tentar captar a possível nave alienígena.

Ok, sinopse apresentada, voltemos a falar do quão genial é o filme. Nada acontece por acaso, e não, não é simples perceber a conexão de todos os eventos. Mas Peele não falha e não deixa uma mísera “falha no roteiro”. Tudo é pensado no mínimo detalhe o que torna a obra tão impressionante. Se trata de uma crítica ao exagero midiático como um todo. Podemos incluir aqui a própria indústria cinematográfica, o uso excessivo de redes sociais ou celulares que precisam estar fotografando e ou filmando tudo o tempo todo, a exposição em reality show da vida das pessoas, cultura pop, a imprensa que exagera para conseguir “as melhores histórias, dentre outros exemplos. Afinal, qual o limite de tudo isso em relação a imagem? Até onde vamos?

Lá atrás vimos O Show de Truman que partia dessa ideia. Agora, mais de 20 anos depois, a situação está no nível acima, muito acima, e não no bom sentido. O título do filme “Não! Não Olhe!” e naturalmente a situação onde implica no ato de realmente não olhar, por si só, já explica muita coisa na obra. O acontecimento do programa de TV que envolveu um macaco no passado, o formato da criatura, o storytelling da personagem Keke Palmer, assim como a inserção de inúmeros elementos referentes ao cinema como indústria, desde os primórdios com a obra Cavalo em Movimento (1878) que é considerado o 1º filme de sempre. Tudo é explicação do tema por trás de Nope.

Outro ponto de destaque é que, ainda que eu tenha comentado que o filme trabalha questões de racismo, diferente das obras anteriores de Peele, esse não é o foco principal aqui pois é trabalhado como subtema, ainda que fale sobre reparação histórica de forma impecável. E ainda, o elenco é majoritariamente de pessoas negras, deixando a representatividade que tanto falamos implícita ali. Peele, aliás, já deu entrevista comentando sobre a importância da visibilidade para atores negros em filmes que não sejam sobre racismo, apenas.

Com influências e referências claras de Tubarão (1975), além do cinema de de M. Night Shyamal, metalinguagem, uso específico da fotografia por meio de símbolos e representações… olhe, filmão! Um filme que nos leva a crer que na busca da perfeição nossa vida é engolida. Vemos isso claramente com o diretor de cinema que busca o melhor take e imagem no filme, aliás, se ele conseguiu o take não sabemos, agora Jordan Peele deu aula de como fazer cinema, isso sim.

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