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26/04/2024



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O retorno de A Lenda de Candyman aborda de forma eficaz o racismo estrutural

 O retorno de A Lenda de Candyman aborda de forma eficaz o racismo estrutural

Para os fãs de filmes tradicionais do subgênero de terror, slasher, podem acabar se surpreendendo positivamente com o novo A Lenda de Candyman, ou não. A nova versão baseada no longa metragem O Mistério de Candyman, de 1992, dirigido por Bernard Rose, que por sua vez, é baseado no conto “The Forbidden”, do escritor Clive Barker, traz nova abordagem e faz mudanças significativas para traçar a mensagem e crítica ao racismo estrutural. Repleto de consciência social, gera discussões que se encaixam perfeitamente com o momento que vivemos. Movimento como “Vidas Negras Importam” são mencionados ao longo da obra e, para o espectador, se torna inevitável não traçar uma conexão com tantos casos no país e no mundo de violência policial movida a ódio repleto de racismo.

 

Dirigido por Nia DaCosta, com roteiro escrito por ela em conjunto com o produtor Jordan Peele e Win Rosenfeld (Infiltrado Na Klan), o filme apresenta sonorização, trilha sonora, produção, atuações e fotografia impecáveis. Ainda que seja dirigido por Nia DaCosta, é inevitável não perceber o efeito “Peele” na obra. Seu sarcasmo nas situações e nos diálogos bem construídos, a fuga do óbvio e clichê de filmes de terror convencionais e, por fim, a trilha sonora que ambienta tudo na maior modernidade possível, trazendo verossimilhança para o filme.

 

No filme de 1992, o personagem principal é tirado da Inglaterra e se encaminha para os EUA, e passa a morar em um conjunto habitacional marginalizado. Outro aspecto fundamental, é que se torna um homem preto, e ali já nos deparamos com o vilão fruto da sociedade trágica e pedante. Na versão atual de Nia DaCosta, acompanhamos um artista plástico que se chama Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen II), passando por um momento de ócio criativo até que se depara com uma lenda urbana que sugere o seguinte: todos aqueles que repetirem o nome “Candyman” em frente ao espelho cinco vezes seguidas, serão mortos brutalmente por meio da figura e seu gancho no lugar da mão.

 

Um dos aspectos fundamentais da obra, que permite tornar a mensagem ainda mais valiosa, é a construção e storytelling do vilão. A condução do roteiro nos leva a despertar a empatia já no primeiro momento. Candyman é produto de um crime de ódio, ele incorpora em si discussões sobre o preconceito e a exclusão, ainda, é um denunciante das estruturas corrompidas da sociedade. Com atuações seguras, o surrealismo proposto é conquistado em A Lenda de Candyman, e torna tudo muito mais plausível. Mais um aspecto que vale mencionar sobre a obra é o espaço aberto para reflexões sobre gentrificação. Desde o primeiro momento vemos a condução que levanta questões como marginalização, e como a população predominantemente preta de áreas periféricas é feita de massa de manobra pela especulação imobiliária.

 

Ainda que tenhamos inúmeros aspectos positivos, ainda que a obra seja baseada em literatura e teve seu roteiro adaptado, ainda que seja uma história que já existe, o filme conta com poucos pontos de viradas surpreendentes de fato. Do meio para fim, ele nos apresenta uma estrutura linear e um final totalmente esperado pelo espectador. Sem surpresas. Isso torna o filme ruim? Não, só não o deixa excepcional como poderia ser. Não é tirado o mérito da mensagem, crítica social e temática que norteia a obra, no entanto, o filme acaba e parece que faltou algo, sabe aquele “tchan”?!

 

Nia DaCosta entrega uma obra com planos que encaixam com a proposta do roteiro, entrega enquadramentos que completam a obra e entrega uma fotografia sem nenhum pudor nas cenas que são repletas de violência intensa e bruta. Com aspectos voltados ao horror, o filme de terror que é considerado a nova aposta de Jordan Peele (famoso por Corra! e Nós), é uma valiosa aula sobre racismo estrutural. É, sem dúvidas, um filme que por sua mensagem e crítica social deveria ser obrigatório para todos. Ele está disponível no streaming da Amazon, tem 1h31 minutos e, ainda que seja um filme de terror, ele não dá medo. Fica aqui a indicação para conferirem!

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