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O momento atual e os perigos do sectarismo

29/04/2025

Por Marcos Traad

Estou perplexo e assustado com o sectarismo que tem norteado o comportamento das pessoas, evoluindo numa histeria coletiva de forma exponencial e que nos tem levado a uma completa falta de reflexões mais profundas e claras sobre o que nos rodeia.

Mas, afinal: o que está havendo com as pessoas para que sigam pelo caminho da parcialidade, principalmente quando o assunto é de ordem política? Será que estamos seguindo para um ambiente de inconsciência coletiva e de falta de sobriedade para criticar e aceitar críticas de forma serena? Qual o real motivo para que, quem não está em um polo ou outro, sequer seja ouvido, numa atitude de extremo radicalismo e em níveis ofensivos preocupantes? Na minha humilde opinião é triste a realidade e não vejo perspectivas de reversão do quadro em pouco tempo.

Analisemos o nosso caso como brasileiros, eleitores e com o firme propósito de fazer com que o país avance. Vamos ficar na mesma ladainha, de olhos vendados para outras opções, insistindo na torcida, por um time ou por outro (como no futebol) que está em evidência no momento? Vamos continuar “comprando” as informações manipuladas por verdadeiros profissionais de comunicação (de ambos os “times”), pagos com recursos cuja origem desconhecemos, e que nos fazem viver apenas a realidade que querem nos impor?

Não dá para aceitar uma frase que considero evidente nos tempos atuais: “o mundo está sendo dominado por alguns ineptos, que manipulam as mentes de outros tantos do mesmo patamar”. Não é possível que não haja um caminho sóbrio a seguir, visando soerguer o país em momento tão delicado e melhorar a vida de todos. Temos que nos livrar dos que sempre usam a velha história de que governos trabalham para os pobres que mais precisam. Apenas com essa frase famosa e recorrente em campanhas eleitorais, ao logo de pelo menos os últimos 30 anos, geramos uma relação de dependência do cidadão aos infindáveis benefícios sociais que nunca libertarão. Como muitos dependem dos benefícios, não percebem a gravidade da manipulação contínua de quem promete. As promessas chegam num nível de competição como num leilão: um se manifesta com suposta isenção de imposto de renda para quem ganha até “X”. O outro aumenta a proposta para quem ganha até “Y”. Precisamos virar esta página e dar aos cidadãos a necessária dignidade. Eu estou louco ou isso é de extrema irresponsabilidade com a sociedade e vai estourar de alguma forma no bolso dos que já pagam tributos exorbitantes para manter inclusive os programas sociais existentes?

E vamos aceitando as coisas sem a devida lucidez, num individualismo sem precedentes, apenas pela conveniência que define para que lado/time eu vou torcer. Inadmissível! Mas, REAL.

Com a evolução das redes sociais (que eu costumo chamar de redes antissociais), um enorme contingente de pessoas desconhecidas passou a ter voz com o nobre título de “influencers digitais”. Lamentavelmente, o balanço entre o que de fato interessa e tem relevância para muitos e o que não é de interesse, preocupa. Há um exército de influenciadores do nada, para chegar a lugar algum, contra apenas alguns que contribuem de alguma forma com o todo. Também de forma lamentável, parece que o vazio prospera sobre o que é sério, indicando a tendência de perda de foco das pessoas, num processo de acirramento da polaridade, nos desviando da análise e nos levando a um lado ou outro da torcida. Informações sumárias, sem qualquer embasamento, além das fake News, são a tônica da prosperidade dos novos ricos que surgem do nada simplesmente pelo fato de terem seguidores.

Concluo com a clara impressão de que teremos que buscar um caminho seguro, principalmente com o mais novo e grande desafio do momento: a Inteligência Artificial (IA). Temos convivido com visível artificialidade na esfera do social digital. O nosso planeta tem os seus 4,5 bilhões de anos de existência e, a perspectiva da ocorrência de um salto gigantesco com o uso da IA nos próximos 20 anos é certa. Com tamanha facilidade que ela apresenta em todos os campos, fica uma pergunta: já temos ideia da possibilidade do comprometimento de muitas mentes brilhantes, quem sabe por acomodação, sem o menor receio de estarmos no caminho errado?

Ou será que não é isso?


Marcos Traad – Diretor Técnico do Grupo Cataratas
Graduado em Zootecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Mestre e Doutor pela Universidade Federal do Paraná. Foi Pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná e Professor Titular da PUCPR.