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04/05/2024

Overdose de Scorsese: ‘O Rei da Comédia’ e ‘Depois das Horas’

Feliz 2024, queridos leitores! E estou de volta com uma coluna especialmente dedicada a você, que assim como eu, jurou que ia aproveitar as férias para assistir todos os filmes que estavam na lista, mas como já era de se esperar, ela só cresceu. Para comemorar o nosso fracasso, pensei em algo que fosse tão reconfortante quanto pedir uma dose dupla no balcão do bar depois de um dia difícil: dois filmes de Scorsese.

 

O Rei da Comédia (1983, disponível no Star+) e Depois das Horas (1985, disponível na Amazon Prime) saíram entre a fase Taxi Driver (1976) e a fase Os Bons Companheiros (1990) do diretor e acabaram ficando meio de escanteio nos anos 80. Mas é justamente desse tipo de coisa que a gente gosta por aqui.

 

O Rei da Comédia

 

Nada melhor que uma história de palhaço triste. Coringa (2019) que o diga. Aliás, agora eu sei de onde tiraram todas as ideias para fazer o filme de Joaquin Phoenix que ganhou o público e a crítica uns anos atrás. Uma cópia descarada.

 

Em O Rei da Comédia, Rupert Pupkin (Robert De Niro, que bom te ver por aqui!) é um comediante iniciante que sonha em se apresentar no programa de TV de Jerry Langford (Jerry Lewis), mas é completamente ignorado pelo astro. No topa tudo pela fama, Pupkin e sua amiga Masha (Sandra Bernhard) sequestram Jerry em troca da participação no programa. O crime sempre compensa nas produções de Scorsese.

 

Tecnicamente impecável, o longa vai misturando um humor ácido com umas cenas bem deprê. Acompanhamos a jornada do humorista, um cara com seus 30 anos, perdido no seu mundinho de conversas imaginárias com estrelas de televisão enquanto ainda mora com a mãe e nem percebe que está perdendo a sanidade. Já Masha gera as melhores interações do filme ao lado de Pupkin. Entrou para a minha lista de melhores mulheres loucas do cinema. Para fechar, o diretor faz o espectador de palhaço e não nos deixa ouvir as piadas do comediante até o final, então nem dá para saber se o cara é ruim mesmo. Genial.

 

 

Depois das Horas

Mais um filme do tipo “homens mentalmente instáveis andando pelas ruas de Nova York de madrugada”. Um dos meus gêneros favoritos. É um pouco thriller, um pouco cômico. E o Scorsese está soltinho, só tirando uma onda atrás das câmeras. Uma espécie de retrato falado da noite, da cidade, da violência e de como as pessoas se adaptam à hostilidade do ambiente em que vivem, no maior clima de “não dá para confiar em ninguém”.

 

Na história, Paul Hackett (Griffin Dunne) conhece uma garota em um restaurante que o convida para ir ao seu apartamento em Soho. Com o relógio quase marcando meia-noite, Paul decide se encontrar com a moça, que logo começa a revelar alguns segredos bizarros. Entre uma colega de apartamento praticante de BDSM, assaltos, uma balada gótica, morte, uma garçonete que acha que vive nos anos 60, uma perseguição sem fim pelas ruas de NY e o aumento da passagem de metrô, a noite de Paul parece interminável.

 

Diferente de O Rei da Comédia, Depois das Horas tem uma pegada bem experimental, e me lembrou dos primeiros filmes do diretor, como Caminhos Perigosos (1973). O longa tem uma estética interessantíssima, no estilo cinema noir e gravado boa parte com enquadramento americano, dando também um toque de sitcom pra coisa toda. Com um roteiro envolvente, é super legal ver Paul tentando voltar para casa e a cidade, que é quase um personagem por si só, não deixando de jeito nenhum. Muita loucura. Quem já tentou dar um rolê depois das horas tá ligado.

 

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