O ex-prefeito Cesar Silvestri Filho (PSDB) se diz preparado para ser governador. Afirma que não é “uma invenção do PSDB”. “Fui deputado estadual, fui prefeito de Guarapuava por oito anos e, para minha felicidade, tenho o que mostrar aos eleitores”, diz ele. Com 41 anos, deixou o seu segundo mandato com 80% de aprovação. Levou para Guarapuava dois hospitais (o Regional e o do Câncer) e o curso de Medicina , implantou um forte programa de pavimentação e manutenção da cidade. Também criou o primeiro Vale do Genoma do Brasil. E foi eleito, diversas vezes seguidas, o prefeito inovador pelo Sebrae.
Silvestri Filho é o segundo entrevistado do HojePR na série de entrevistas com os pré-candidatos ao governo do Paraná. Pelo sorteio feito na redação, o próximo será o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), seguido do deputado federal Felipe Barros (PSL). O tucano contou um pouco do que pretende, caso seja eleito.
Pedágio
“O Paraná hoje está sendo vítima da irresponsabilidade do atual governador. Ele fez uma ação midiática, criando a narrativa que acabou com as tarifas abusivas. Quando o que acabou foi o prazo do contrato”, critica César Silvestri Filho. Ele considera que o governo de Ratinho Junior pecou por ter se omitido, deixando o contrato vencer sem ter enfrentado o problema do pedágio.
Para ele, o governo quis dar a falsa sensação de gratuidade, empurrando a solução do pedágio para depois da eleição. O resultado é que, sem planejamento, as rodovias estão ficando esburacadas, o mato cresce e falta sinalização nas estradas. Sem contar os desvios de função, com policiais militares trabalhando no guincho e dirigindo ambulâncias ou escrivão fazendo controle de rodovia. “Ambulâncias do Samu e bombeiros das cidades estão atendendo as rodovias, deixando a população desatendidas”, diz.
O Paraná hoje está sendo vítima da
irresponsabilidade do atual governador
“O mais grave está por vir”, alerta. Silvestre Filho alerta que o atual governo não quer discutir com a população onde estarão as 15 novas praças, que vão encarecer o transporte entre cidades como Cascavel e Toledo, Pato Branco e Francisco Beltrão, Umuarama e Guaíra, Apucarana e Londrina.
“E têm os degraus tarifários, que vão deixar as tarifas mais altas que eram. Quando fizer a obra, a tarifa subirá muito”, alerta.
Se eleito, o pré-candidato tucano quer abrir a discussão com a população para saber se ela quer pagar essa conta mais alta. Quer discutir com os municípios se querem essas praças de pedágio em suas rodovias. “Precisamos ser transparentes com a população, ao invés de mentiras. O governador não pode prometer uma rodovia de primeiro mundo, duplicada, com iluminação de ponta-a-ponta, wi-fi e com tarifa 50% mais barata. A conta não fecha”, adverte.
Reestruturação do Estado
“O Estado perdeu a capacidade de planejamento e precisa ser reestruturado. Está perdendo a inteligência em seus quadros, que estão indo embora”, diz Silvestre Filho. Ele cita que o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR) foi sucateado. Segundo ele, “cada vez tem menos gente que pensa o planejamento da infraestrutura. Há uma transferência da produção de projetos em parcerias, em que empresas privadas doam projetos ao Estado, para o Estado construir. Há uma distorção, cidades frágeis economicamente ficarão sem infraestrutura”.
O tucano critica o desmonte na Agricultura, unificando “de forma criminosa” as carreiras da Emater, Iapar e Adapar. “Tudo feito com base em uma consultoria externa que não conhecia o Paraná”, fala. A reforma destruiu o ânimo dos servidores, em especial da Iapar, que é conhecido nacionalmente por seus ótimos cultivares.
“O Estado perdeu a capacidade de
planejamento e precisa ser reestruturado”
Silvestri Filho quer dar status de Secretaria para áreas que viraram superintendência, como Cultura, a Ciência e Tecnologia, Trabalho, Justiça e Assistência Social. “Juntaram tudo com a promessa de redução de custos e diminuição de cargos. Não teve nem uma coisa e nem outra. E os programas pioraram”, diz, prometendo recompor o Estado.
Servidor público
Silvestri Filho disse que fará o mesmo que fez em Guarapuava: valorizar o servidor. Ele quer repor pessoal, com concursos bem-feitos, fortalecendo áreas estratégicas. “É preciso encerrar este ciclo que diz que a boa gestão se faz com o estrangulamento do serviço público. O Estado não vai prestar bons serviços se o servidor não estiver satisfeito”, diz.
Ele acredita que o servidor precisa de previsibilidade, planejamento e responsabilidade em cumprir acordos estabelecidos. “Não é preciso quebrar teto de gastos, mas é possível pagar em dia, programar pagamentos de 13º salário antecipadamente, dar reajustes dentro da inflação”, afirma, dizendo que fez isto quando foi prefeito em Guarapuava por oito anos.
Ele também se comprometeu em aplicar avanços funcionais e formatar um bom plano de carreira para os setores da Educação e da Segurança. “É importante ter um bom diálogo com os sindicatos e respeitar o trabalhador. Transparência é importante, dizendo o que é possível e o que não se pode”, diz.
Segurança
“Temos um déficit de efetivo. E pior, temos uma sobrecarga de trabalho na Polícia Militar e Polícia Civil”, afirma Silvestre Filho.” Isto tem refletido na qualidade de vida desses profissionais, com desgaste na saúde e no emocional”, arremata.
Ele aponta que o gargalo na Polícia Militar é a questão salarial da base, por entender que os oficiais estão relativamente bem remunerados. “O resultado é um alto índice de aposentadorias com 50 anos de idade”, diz.
Outro ponto é a falta de delegados. Hoje, diz ele, “delegados cuidam de até cinco comarcas. Isto prejudica a investigação, o combate do crime e o cuidado da população”.
Silvestre Filho considera que precisa contratar urgentemente mais efetivo para aliviar as tensões nas duas polícias. “Segurança se faz com pessoal, com policial na rua, com investigador, com delegado. Precisa contratar e dar condições de trabalhar”, afirma.
Isso também vale para os Instituto Médico Legal e a Polícia Científica. “Os IMLs do Interior estão sem estrutura. E há casos de demora de 40 horas para liberar um corpo de familiar”, critica. O pré-candidato tucano promete investir na modernização, com mais recursos para a Inteligência da Polícia.
Educação
Silvestri Filho diz que o atual governo esqueceu de valorizar o educador. “O secretário da Educação (Renato Feder) trouxe a ideia de que Educação pode ser feita sem educador. O que é um erro”, afirma
Ele classifica o secretário como um bom empresário de tecnologia, mas que esquece o humano. “É uma visão míope imaginar que um software vai ensinar uma criança a escrever melhor ou que a rigidez do Colégio Cívico-Militar garantirá a boa educação”, diz.
Silvestre Filho critica que o atual governo investiu demais em tecnologia (robótica e programação) e pouco nos educadores, seja no salário como na formação continuada. “Trazer tecnologia sem discutir com os professores como aplicar isto na grade, mostra falta de um planejamento pedagógico”.
“É uma visão míope imaginar que um software vai
ensinar uma criança a escrever melhor”
Para ele, a Educação deve pensar no futuro dos jovens. Silvestri Filho entende que o jovem deve ser preparado para um mundo novo, em que o sentido crítico e as qualidades sócio-emocionais serão importantes. “Estamos vivendo num momento em que o conteúdo é fácil de acessar em um clique. Precisamos trabalhar a capacidade crítica do aluno para absorver o excesso de conteúdo”, afirma
Para Silvestri Filho, o jovem vai precisar saber fazer questionamentos profundos, saber trabalhar em diversas funções, atuar em grupo e ter resiliência emocional. “Esse é um grande desafio para a Educação”, diz.
Ele critica a falta de visão no ensino técnico. Cita como exemplo a área agrícola. Ele afirma que ainda se trabalha o jovem coma a enxada, quando o futuro exige analistas de dados. “Uma máquina moderna produz gigabytes de dados e precisa ter quem lide com essa informação”, diz.
Ele pretende criar algo similar ao projeto da Prefeitura de Pompéia, em São Paulo, a Jacto (fabricante de equipamentos agrícolas) e a uma faculdade local, que formam analistas de dados, especialistas de robotização e especialistas em big data. “O Paraná está atrasado, nesse processo”, afirma.
Empresas públicas
O ex-prefeito de Guarapuava é favor da privatização da Copel Telecom. “Acho que o estado deve manter empresas públicas, cuja natureza da atividade é um monopólio”, diz.
Ele cita o caso do saneamento e da energia elétrica. “Nesses casos, não há como ter empresas concorrentes com postes e canalização paralelo, como no caso da telefonia”, afirma.
Internet rural
“O estado precisa ter um programa de internet rural”, diz. Conta que quando era prefeito, tentou parceria com o governo estadual para criar um programa, mas não deu certo. “Estamos atrasados. Hoje, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso já possuem programas estaduais de internet rural”, afirma.
Ele propõe adotar o modelo mineiro. Por meio de créditos do ICMS, empresas instaladas no interior cederiam seus créditos para empresas de telefonia para ampliar a rede, com a construção de postes e ampliação da rede. “Funcionaria bem nas regiões onde há cooperativas e, nas outras regiões onde não houver, o Estado ajudaria na expansão, pois isto ajuda na modernização da agricultura”.
Agricultura
“É preciso que o Estado tenha a visão ampla da agricultura. A nossa agricultura faz toda a economia girar e falta investimentos para dar suporte ao setor agrícola”, diz Silvestre Filho. Ele critica que o último grande programa de melhoria das estradas vicinais foi há 30 anos, no governo Jaime Lerner. “Esse governo fez algo muito tímido, por falta de prioridade e não dar dinheiro para a Secretaria da Agricultura fazer algo”.
Ele conta que São Paulo está investindo R$ 14 bilhões na implantação de corredores agrícolas. “Se eleito, buscaria recursos externos para fazer algo similar”, afirma. Ele quer fazer isto casado com a expansão de energia trifásica. “Assim ajuda na agroindustrialização, que precisa de energia estável”, diz.
“A nossa agricultura faz toda a economia girar e falta investimentos para dar suporte ao setor agrícola”
Outra área é no investimento da segurança alimentar, dando suporte técnico aos agricultores familiares e induzindo o plantio diversificado, com a busca de mercado, gerando sustentabilidade. “Vou criar um programa de produção em áreas declivosas. Hoje são as regiões mais pobres, com pequenos agricultores que não tem recursos para explorar esses 5 milhões de hectares entre o Vale do Ivaí, Vale da Ribeira e região central do Estado”, diz, acrescentando que com isto levará desenvolvimento a essas regiões.
Saúde
O candidato tucano alerta que o atual governo cuidou do planejamento da pandemia, mas esqueceu de planejar o pós-pandemia. “O governo conseguiu enfrentar a pandemia, graças aos investimentos feito pelo ex-governador Beto Richa na regionalização e construção de equipamentos, como os hospitais de Telêmaco Borba, Ivaiporã e Guarapuava”, diz.
Mas agora, ele vê que esses equipamentos deverão fechar por falta de contratação de pessoal que cuide dos hospitais e da necessidade de compra de alguns equipamentos. “Não se pensou em contratação, terceirização ou parceria”, critica Silvestre Filho, afirmando que será um de seus primeiros atos.
E ele promete criar mutirões de atendimento médico e cirurgias. “A pandemia acumulou muitas cirurgias eletivas e exames que ficaram parados. Agora estão represados sem uma estratégia para se solucionar esse problema”, diz. Outra ação é continuar a expansão da regionalização na saúde.
Beto Richa
“Vejo o Beto Richa como um legado, pela boa administração que ele fez. Foi um governador resolutivo e presente nos municípios”, diz.
Diferente do governador Ratinho Junior, que segundo Silvestre, finge não ter participado de dois governos de Beto Richa, o tucano não nega a amizade com o ex-governador. “Tenho gratidão pelo apoio que tive quando era prefeito e ele governador. E sou grato de pode mostrar o legado dele”, afirma.
“O que desejo para o Beto é Justiça. Quero para ele uma justiça imparcial”, diz.