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12/05/2024

Um tal de Márcio

livro

Meu primeiro livro de crônicas saiu em 1987. Cidades e Chuteiras trazia um volume pequeno de textos, nenhum deles destinado a constar de antologia. O que fazia a diferença era o projeto gráfico, obra de arte criada pelo Miran.

A edição de 500 exemplares foi oferecida aos amigos e não mereceu lançamento com sessão de autógrafos. Algumas resenhas elogiaram o conteúdo, como a de Nilson Monteiro, que encerrava com uma etílica determinação: “Desce redondo feito cachaça”. Jaguar gostou tanto que publicou duas daquelas crônicas no Pasquim.

A questão é que não sobrou nenhum livro na minha estante: até a reserva técnica foi consumida pelos ataques de liberalidade do cronista. A solução veio com os sites de busca, a descobrir exemplares nos recantos mais variados do Brasil, todos a preços escorchantes.

Certo dia, recebo a ligação do Irajá, dono do sebo da Emiliano Perneta, dizendo que estava com um exemplar de Cidades e Chuteiras, autografado, e o venderia a mim por valor razoável. O livro estava em bom estado, pude comprovar – e saciar minha vontade de saber a quem tinha sido autografado.

Pois se tratava de alguém chamado Márcio. A dedicatória era um lugar-comum nesse tipo de escrita, algo como “Ao Márcio, com o apreço e o abraço do Ernani”. Mas embatuquei sobre quem seria o mal educado Márcio. Algumas hipóteses seriam possíveis. Por exemplo, um colega de trabalho, um ex-aluno, ex-funcionário, alguém com quem cruzei em alguma entidade. Descartei os Márcios do Paraná Clube, Nóbrega e Correia, que não fariam tal desfeita.

Não sei se continua vivo o destinatário da dedicatória. Caso esteja, peço com o fervor da minha indignação que não se apresente. O sujeito que fique sossegado no seu canto. A mim não interessa saber quais restrições me fazia a ponto de vender uma obra autografada que lhe foi dada de graça.

Fica o arrependimento de não haver escrito um texto diferente para ele. Algo como “Ao Márcio, com o meu profundo desprezo e a esperança de que se recolha à própria insignificância”.

Talvez isso soe muito radical ou passe um recibo desnecessário. Sei lá. Por ora, vou deixar por isso mesmo.

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