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19/05/2024

Consertando o tempo

tempo

O pai tinha um relógio omega. Não se pronunciava ômega como a última letra do alfabeto grego. Ouvia ele sempre se referir ao relógio como “oméga”.

E diariamente pela manhã repetia várias vezes o mesmo movimento com o polegar e indicador na engrenagenzinha lateral para dar corda. Pra frente e prá trás.

Isso garantiria a hora exata ao longo de todo o dia até a manhã seguinte. Afinal, era um Oméga.

Relógio que até os astronautas americanos usaram no pulso nas missões espaciais e o próprio Neil Armstrong usava um omega na chegada à Lua.

E aqui, onde até hoje está este prédio, ficava a Relojoaria Raeder.

Desde 1893 quando os irmãos Carl e Roberto vieram da Alemanha, se instalaram aqui como relojoeiros em imóvel térreo. Na esquina das ruas Riachuelo e Tobias de Macedo

Dois anos depois trouxeram este relógio e o penduraram na parte externa da relojoaria.

14 anos depois, em 1907, Carl resolveu voltar para a Alemanha.

Pegou um navio de Paranaguá até Santos.

Só que o navio naufragou e o corpo de Carl nunca foi encontrado.

Mesmo muito abalado, o irmão Roberto continuou com a relojoaria.

Na verdade houve muitas mudanças. O imóvel original foi demolido e em 1925 foi construído este, já com três pavimentos no lugar. Quando se instalaram ali novamente, penduraram este relógio um pouco mais baixo do que aparece na foto.

O filho de Roberto, que se chamava Carl como o tio falecido, assumiu a relojoaria.

E ao longo de muitos anos consertaram os relógios de incontáveis curitibanos.

Certamente os da marca omega não apresentavam muitos problemas no mecanismo, mas a troca de vidro quebrado, do mecanismo de corda ou daquele alfinete que segurava a pulseira eram os serviços mais recorrentes deste relógio suisso.

Roberto Raeder continuou trabalhando até completar 90 anos, quando foi convencido a se aposentar.

Um dia após parar de trabalhar, morreu.

E o tempo não parou e hoje o relógio está pendurado um pouco mais acima e o mecanismo interno está guardado. Nem mesmo assim o tempo pára.

Apesar de ser medido por relógios, o tempo nada mais é que a duração dos fatos.

Devia ter uma relojoaria que ao invés de consertar relógios, consertasse o tempo fazendo-o voltar e/ou andar mais devagar.

Referências históricas de Gustavo Pitz no site Turitistória.

 

Leia outras colunas da Karin Romanó aqui.

4 Comentários

  • Que legal! Sempre aprendo muito com suas histórias!

  • Karin, um prazer quando aparece historias suas. acompanho suas histórias fielmente. Abraços

  • Muito interessante!! Adorei!

  • Muito bom!

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