O pai tinha um relógio omega. Não se pronunciava ômega como a última letra do alfabeto grego. Ouvia ele sempre se referir ao relógio como “oméga”.
E diariamente pela manhã repetia várias vezes o mesmo movimento com o polegar e indicador na engrenagenzinha lateral para dar corda. Pra frente e prá trás.
Isso garantiria a hora exata ao longo de todo o dia até a manhã seguinte. Afinal, era um Oméga.
Relógio que até os astronautas americanos usaram no pulso nas missões espaciais e o próprio Neil Armstrong usava um omega na chegada à Lua.
E aqui, onde até hoje está este prédio, ficava a Relojoaria Raeder.
Desde 1893 quando os irmãos Carl e Roberto vieram da Alemanha, se instalaram aqui como relojoeiros em imóvel térreo. Na esquina das ruas Riachuelo e Tobias de Macedo
Dois anos depois trouxeram este relógio e o penduraram na parte externa da relojoaria.
14 anos depois, em 1907, Carl resolveu voltar para a Alemanha.
Pegou um navio de Paranaguá até Santos.
Só que o navio naufragou e o corpo de Carl nunca foi encontrado.
Mesmo muito abalado, o irmão Roberto continuou com a relojoaria.
Na verdade houve muitas mudanças. O imóvel original foi demolido e em 1925 foi construído este, já com três pavimentos no lugar. Quando se instalaram ali novamente, penduraram este relógio um pouco mais baixo do que aparece na foto.
O filho de Roberto, que se chamava Carl como o tio falecido, assumiu a relojoaria.
E ao longo de muitos anos consertaram os relógios de incontáveis curitibanos.
Certamente os da marca omega não apresentavam muitos problemas no mecanismo, mas a troca de vidro quebrado, do mecanismo de corda ou daquele alfinete que segurava a pulseira eram os serviços mais recorrentes deste relógio suisso.
Roberto Raeder continuou trabalhando até completar 90 anos, quando foi convencido a se aposentar.
Um dia após parar de trabalhar, morreu.
E o tempo não parou e hoje o relógio está pendurado um pouco mais acima e o mecanismo interno está guardado. Nem mesmo assim o tempo pára.
Apesar de ser medido por relógios, o tempo nada mais é que a duração dos fatos.
Devia ter uma relojoaria que ao invés de consertar relógios, consertasse o tempo fazendo-o voltar e/ou andar mais devagar.
Referências históricas de Gustavo Pitz no site Turitistória.
Leia outras colunas da Karin Romanó aqui.
4 Comentários
Que legal! Sempre aprendo muito com suas histórias!
Karin, um prazer quando aparece historias suas. acompanho suas histórias fielmente. Abraços
Muito interessante!! Adorei!
Muito bom!