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27/04/2024



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Pareciam inacabáveis, mas acabaram

 Pareciam inacabáveis, mas acabaram

Até uns 80 anos atrás, a madeira estava por toda a parte e em abundância tanto aqui em Curitiba como no Paraná inteiro.

 

As serrarias engoliam matas inteiras cujas tábuas eram utilizadas na fabricaçao de casas e móveis.

 

E mudando de saco pra mala, na semana passada notei que meu janelão da sala oferecia perigo.

 

Quando me dei conta já era tarde e verifiquei que uma das partes fixas estava prestes a cair.

 

Após infiltração de chuvas na madeira ao longo dos anos, a qual não observei, a madeira foi apodrecendo e graças a Deus foi detectado (por acaso) antes que acontecesse um acidente trágico. Moro no último andar.

 

 

E voltando a falar de madeiras: Sempre se ouve falar em madeiras-de-lei como o pau-brasil, imbuia, ipê, jacarandá, pinheiro,…

 

Moro no apto que nasci em um prédio velho mas daqueles antigos e grandes. Originalmente tinha um banheiro.

 

Imóvel bem mais barato do que esses apartamentos mais modernos.

 

Desde que casei, a prioridade foram os pagamentos de colégios, Unimed, Interamericano, Cultura Inglesa, Violino e demandas dos filhos.

 

Com isso nunca sobrou dinheiro para fazer armários planejados e modernizar minha casa como eu bem queria.

 

E fui mostrando interesse e herdando móveis familiares: Cristaleira, sala de jantar e jogo de quarto dos meus pais. Esse conjunto da foto era da minha vó Cylá Mader Romanó. Passou pela filha Ziza antes e agora veio para mim.

 

E aqui na foto vocês podem notar que o janelão, os tacos e móveis são em Imbuia.

 

E vou dividir o que me explicaram de uma forma bem resumida sobre as madeiras de lei que tínhamos tanto por aqui e que acabaram.

 

Quando a grande leva de imigrantes da Alemanha, Itália e outros países veio para o Brasil, fugindo de tempos difíceis pós Primeira Guerra, muitos vieram atrás de propagandas que eram espalhadas em estações ferroviárias das cidades.

 

Lá estava estampado uma propaganda do Brasil mostrando o Rio de Janeiro e descrevendo as possibilidades de enriquecer aqui com a venda (exportação) de madeiras.

 

 

Meu bisavô Friedrich Schöll inclusive veio com a família atrás desse propósito.

 

No caso dele não deu certo mas muitos imigrantes que vieram atrás desse objetivo tiveram êxito.

 

E assim o Brasil conseguiu povoar muitas regiões do sul onde era ainda mata fechada, evitando o risco do país ser invadido nessas áreas desocupadas.

 

E empresas estrangeiras prosperaram. E alguns imigrantes também. E as pessoas daqui foram aprendendo que era muito rentável cortar a madeira e exportar. Muitos lucraram nesse ramo.

 

No início não era tão fácil, não havia estradas. Por exemplo: aqui na região de Rio Negro, vieram muitos alemães.

 

Para derrubar árvores era no serrote. O carro de bois levava até o rio navegável mais próximo que era o Rio Iguaçu (apenas um trecho era navegável) e havia um porto fluvial em Porto Amazonas que ficava a uns 80 km de distância.

 

Dali os vapores levavam a carga até a ferrovia e os trens transportavam até o Porto de Paranaguá. Então a madeira seguia para os países europeus.

 

Mas ninguém replantou ou pensou em plantar de novo. Sabe por que?

 

Porque a imbuia, o Ipê, o Pau Brasil, Jacarandá, levam 250 anos para alcançar o tamanho ideal para corte. E após o corte, as madeiras tem que secar por 5 anos .

 

Todo esse tempo tornou sempre inviável o plantio de árvores que produzem madeiras de lei.

 

E poucos aqui no Brasil pensariam em plantar para colher somente após 4 gerações.

 

E a madeira de Lei foi acabando. E há 20 anos o corte de madeiras tipo imbuia, ipê, e outras foi terminantemente proibido.

 

So sobraram essas madeiras para quem tinha estoque.

 

E depois, como não se tem mais madeiras tão boas para fazer móveis e utilizar nas construções , inventaram outras formas.

 

O namorido da minha mãe por 19 anos, depois que ela ficou viúva, trabalhava na Placas do Paraná e lembro que nos anos 80, lá se fabricava uma madeira feita com pó de madeira + cola + outros ingredientes: o MSD.

 

Era uma madeira com aparência de cortiça por dentro e não era muito resistente. Mas nos anos 80 os móveis eram na maioria feitos com esse MSD.

 

Normalmente a cama feita com este MSD quebrava pois não aguentava crianças pulando ou adultos mais pesados.

 

Por outro lado, as dobradiças dos armários não aguentavam as portas, as corrediças das gavetas idem.

 

Nos anos 90, uma nova técnica revolucionou o mercado de móveis: o MDF.

 

Mais resistente e com maior durabilidade, feita com o mesmo pó de madeira só que agora era cozido antes.

 

Junto com a cola e outros integrantes, essa madeira é até hoje largamente utilizada na indústria de móveis.

 

Para fazer o pó de madeira, usa-se madeiras de reflorestamento como o pinho e eucalipto.

 

Essas duas espécies são as que são replantadas por aqui pelo crescimento rápido mas não chegam aos pés das antigas madeiras de lei. São mais moles, os cupins atacam, e assim vai.

 

Esse sofazinho e cadeiras que aparecem na foto são centenários. Eram da vovó e são de pura imbuia.

 

Ultrapassaram 100 anos de uso. E os pés, embora fininhos, aguentaram firme.

 

Soube que na Europa ainda plantam carvalhos que crescerão por mais de dois séculos e meio antes do corte. No Brasil não sei se isto existe. Se alguém fizer, tiro o chapéu.

 

Meu janelão não será mais de Imbuia. Será substituído por um de alumínio imitando madeira. É o que o $$ dá.

 

Fiz um reparo emergencial enquanto aguardo orçamentos e a colocação do novo. E seguimos em frente.

 

Vou sentir falta do janelão, mas afinal é algo material e acho que aproveitei bem ele.

 

Leia outras colunas da Karin Romanó aqui.

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