Praça Zacarias na década de 1940
Francisco de Paola veio da Itália para o Brasil antes da virada do século.
Trabalhou duro, prosperou e adquiriu muitos bens, como terrenos no Alto da XV onde hoje está o Hospital Osvaldo Cruz e outros.
Tinha um armazém de secos e molhados chamado “Casa Mascote”, na esquina da Rua Dr. Muricy com a Praça Zacarias (onde hoje é a Casas Pernambucanas).
Vendia louças, joias, artigos importados e uma miscelânea de artigos.
Teve cinco filhas mulheres e como queria muito um filho homem para dar continuidade nos negócios, pediu ao irmão que tinha ficado na Itália e que tinha oito filhos homens, que mandasse o mais velho para cá.
Chiquinho ou Francesco de Paolo Sobrinho chegou no Brasil com 9 anos. Logo mostrou talento nato para o comércio.
Foi matriculado na escola mas enquanto a professora ensinava os rios e montanhas, as paroxítonas e preposições, seu pensamento voava bem longe.
Gostava mesmo era de ficar grudado no guarda livros (contador) do tio, Sr Loyola, tentando entender os cálculos e procedimentos nas transações comerciais.
Não teve como segurar.
Aos 16 anos já tinha negócios próprios ligados à venda e importação de madeira, à pesca e outros produtos.
Junto com o tio ia até os armazéns de Paranaguá escolher e trazer as louças, perfumes, relógios, panelas, etc, para vender na loja.
Tinha um bom faro para selecionar os produtos que agradavam aos clientes.
Não tardou e comprou a Loja MASCOTE, bem como os armazéns alugados do tio, na Praça Zacarias.
As lojas alugadas ficavam assim dispostas: na Rua Dr. Muricy ficava a “Loja Mascote”. Na esquina da Rua Dr. Muricy com a Praça Zacarias locava para Dona Joana, uma alemã que fazia deliciosas broas, cuques, stollens, tudo preparado no estilo alemão.
A loja ao lado, em direção à Praça Zacarias, era o Armazém ISKANDAR, onde se vendiam doces importados, figo, tâmaras, molhos, temperos e outras coisas boas importadas.
Seu Chiquinho passava lá todos os dias e comia figo grego e tâmaras e, no final do mês, Sr. Iskandar descontava do aluguel, o que deixava o Sr. Chiquinho indignado.
A loja a seguir era locada para a Empresa Japonesa de Pesca.
Na verdade, Sr. Chiquinho era sócio dessa empresa de pesca e, junto com o japonês, tinham barcos em Paranaguá, uma fábrica de gelo e um depósito em Água Branca, São Paulo.
Isso possibilitava enviar pescado refrigerado para várias cidades.
A próxima loja já não pertencia a ele. Era do Sr. Bonato, cuja filha casou com o ex-prefeito Maurício Fruet, madeireiro.
Depois era a Loja Maçônica.
Em frente à Loja Mascote, na Muricy, ficava um prédio de três andares, de propriedade da família Sanson.
Na esquina da Rua Dr. Muricy com a Marechal Deodoro ficava também outra propriedade (ainda em pé), da família Sanson (onde era o Snooker 21).
A casa a seguir, na Marechal Deodoro, era da Família LATTES (do cientista César Lattes).
Em frente à Praça Zacarias, na esquina da Muricy com a Marechal Deodoro, ficava uma propriedade do Sr. Álvaro Leal, onde depois construíram o CINE LUZ.
Seguindo pela Marechal Deodoro, em direção à Rua Emiliano Perneta, do outro lado da Praça Zacarias, ficava a propriedade da família ABAGGE.
Tudo ia bem até que o Brasil entrou na Segunda Guerra, quando declarou guerra contra a Itália, Alemanha e Japão.
Chiquinho nascera na Itália. Mas era brasileiro e amava este país.
Nesse dia quando o Brasil declarou guerra, baderneiros começaram a depredar todos os estabelecimentos comerciais de imigrantes alemães, italianos e japoneses que moravam aqui em Curitiba.
A Casa da Dona Joana, de produtos alemães, foi totalmente depredada. Vidros quebrados, móveis jogados para fora.
A empresa de pesca foi colocada abaixo e o cofre da empresa, a golpes de picareta, foi retirado, aberto e jogado no meio da praça.
A Loja Mascote que ficava no mesmo imóvel, mas voltada para a Rua Dr Muricy – idem, tudo foi revirado, quebrado e os documentos espalhados pela praça.
Nada sobrou. Resignados, juntaram o que deu e serraram as portas.
Na casa da família Lattes, eles só não depredaram tudo porque a mãe do cientista César Lattes mostrou a bandeira brasileira para fora da janela.
Depois veio o confisco de todas as casas de veraneio.
Nenhum imigrante dos países inimigos podia ter casas perto do mar.
E Chiquinho perdeu a casa e o armazém em Paranaguá, a fábrica de gelo e os barcos.
E não podiam ter rádio. Tudo foi confiscado.
Nilda, a filha de Chiquinho, fez 15 anos nesta época e como os italianos e alemães não podiam se reunir, teve que pedir licença e autorização para a polícia para festejar em casa com primas e amigas da escola.
Chiquinho perdeu tudo, ficou bem desanimado mas teve que recomeçar.
Foi ao encontro de um primo brasileiro que se chamava Dante e que tinha uma serraria em Palmeira, casado com uma senhora da família Malucelli Sanson.
E recomeçou, aproveitando o armazém em Água Branca – São Paulo, como entreposto.
Passou a vender madeira para todas as grandes empresas de móveis e de materiais de construção.
E paralelamente passou a construir casas e predinhos.
Na ocasião em que a Casas Pernambucanas mostrou interesse de locar um grande imóvel ali na região da Praça Zacarias, Seu Chiquinho se adiantou e pediu os imóveis aos inquilinos.
Chiquinho demoliu tudo e construiu uma loja grande, de dois andares, conforme os moldes que a Casas Pernambucanas buscava e locou para eles.
E em cima fez mais um andar e alugou para o Restaurante Zacarias.
A porta a seguir, em data bem mais recente, ficou para a Confeitaria Lancaster (da própria familia).
Um homem baixinho, amigo de todos, trabalhador incansável, carismático, italiano de origem, brasileiro de todo o resto.
Em um momento de revolta, falou alto na barbearia (no local onde depois ficou sendo a Foto Brasil):
– Agora vou falar italiano, aqui ou na caixa-prego! (falar italiano ou alemão em público era proibido. E naquele momento havia um secretário do interventor Manoel Ribas na barbearia).
Foi preso.
Mas Chiquinho deu a volta por cima. O prédio das Pernambucanas permanece na família.
As informações foram dadas pela filha do Chiquinho, Nilda de Paola Gonçalves.
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