Friedrich morava com os pais e a irmã na Alemanha, onde o pai tinha um armazém e todos ajudavam.
Porém as coisas não andavam bem por lá. O país estava em guerra e os soldados que chegavam na cidade não pagavam o que consumiam.
Animado com as propagandas espalhadas pela região, o pai vendeu a casa e o armazém e embarcou no navio com a família rumo ao Brasil. A ideia era trabalhar com madeira.
Chegaram em Santos e vencendo as dificuldades da língua, adquiriram terras em Porto Vitória.
O nome de Friedrich foi abrasileirado para Frederico Scholl.
Ao chegar no local, não era o que pensavam.
Constataram que não poderiam explorar madeira, conforme imaginavam.
E não tinha como trocar as terras ou pedir o dinheiro de volta. A alternativa foi plantar.
Mas trabalhar na roça não era o que Frederico queria.
Nisso a mãe adoeceu e sem nenhum recurso na região, o pai a levou até a cidade mais próxima. Mesmo assim veio a falecer.
Certamente desorientado, o pai enterrou a esposa em um local fora de um cemitério.
Ao chegar em casa, o filho não aceitou a morte da mãe e menos ainda que ela não tinha sido enterrada dentro de um campo santo.
Revoltado, Frederico largou tudo e resolveu ir embora. Acabou chegando em Curitiba.
E aqui buscou serviço e começou a trabalhar em uma oficina mecânica, também de um alemão: Waldemar Buerken. Logo se destacou no trabalho.
Um cliente o chamou para empreender uma pequena indústria em São Leopoldo.
Animado, Frederico pegou sua motocicleta e partiu levando uma bússola, algumas ferramentas e muda de roupa para o Rio Grande do Sul.
Ainda não havia estradas e foi através de picadas, munido de facão para cortar galhos, cobras, atravessando riachos,… E chegou!
Em São Leopoldo aprendeu muito e passado algum tempo, casou e vieram duas filhas.
Incentivado e com o apoio financeiro de um grande investidor, resolveu mudar para Curitiba e abrir uma fábrica de óleos vegetais ( amendoim, soja, girassol). Aqui não tinha e naquele tempo só se usava banha para cozinhar. O óleo ( azeite como chamavam) era uma novidade.
Veio de trem e aqui desceu na estação ferroviária com a esposa e as meninas de 3 e 4 anos.
Durante dois anos, enquanto a fábrica de azeite era construída no Portão, hospedaram-se na pensão que ficava na esquina das ruas XV de Novembro com a Conselheiro Laurindo.
Exatamente no local onde anos depois foi construído o Edifício Marumby – primeiro Condomínio Residencial de Curitiba, na Praça Santos Andrade.
A foto é eu no colo do Vô Frederico.
Convivi muito com esse avô até meus 7 anos quando uma briga familiar afastou todos, gerando muito sofrimento.
Depois da briga, lembro de 4 ocasiões em que nos encontramos, mas já não era a mesma coisa.
Num domingo de Páscoa, num passeio que o vô nos levou para conhecer um navio por dentro no Porto de Paranaguá. E num dia 21/09, Dia da Árvore, quando foi nos buscar no colégio e cada neto plantou uma árvore na Fanadol. Fizemos o buraco, colocamos adubo. Eu plantei muda de mimosa.
Esse era o vô Frederico. Tudo tinha que ter um objetivo. Meu irmão recebeu dele alguns presentes sensacionais: Uma pequena Caldeira que funcionava de verdade e até hoje deve estar intacta.
Um trem elétrico alemão MÄrklin, que é uma miniatura perfeita de um trem alemão, com mais de 20 vagões e uma locomotiva, tudo de ferro mesmo, não tem diferença nenhuma de um trem de verdade. Tem as estações e os trilhos. Nada quebrável. Saía até vapor da locomotiva quando andava. Isso há 60 anos.
A quarta e última vez que encontrei meu avô foi quando ele já estava deitado no caixão na sala de casa. Aos 59 anos. Uma pena que teve que ser assim.
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