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28/04/2024



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Um grande vô

 Um grande vô

Friedrich morava com os pais e a irmã na Alemanha, onde o pai tinha um armazém e todos ajudavam.

 

Porém as coisas não andavam bem por lá. O país estava em guerra e os soldados que chegavam na cidade não pagavam o que consumiam.

 

Animado com as propagandas espalhadas pela região, o pai vendeu a casa e o armazém e embarcou no navio com a família rumo ao Brasil. A ideia era trabalhar com madeira.

 

Chegaram em Santos e vencendo as dificuldades da língua, adquiriram terras em Porto Vitória.

 

O nome de Friedrich foi abrasileirado para Frederico Scholl.

 

Ao chegar no local, não era o que pensavam.

 

Constataram que não poderiam explorar madeira, conforme imaginavam.

 

E não tinha como trocar as terras ou pedir o dinheiro de volta. A alternativa foi plantar.

 

Mas trabalhar na roça não era o que Frederico queria.

 

Nisso a mãe adoeceu e sem nenhum recurso na região, o pai a levou até a cidade mais próxima. Mesmo assim veio a falecer.

 

Certamente desorientado, o pai enterrou a esposa em um local fora de um cemitério.

 

Ao chegar em casa, o filho não aceitou a morte da mãe e menos ainda que ela não tinha sido enterrada dentro de um campo santo.

 

Revoltado, Frederico largou tudo e resolveu ir embora. Acabou chegando em Curitiba.

 

E aqui buscou serviço e começou a trabalhar em uma oficina mecânica, também de um alemão: Waldemar Buerken. Logo se destacou no trabalho.

 

Um cliente o chamou para empreender uma pequena indústria em São Leopoldo.

 

Animado, Frederico pegou sua motocicleta e partiu levando uma bússola, algumas ferramentas e muda de roupa para o Rio Grande do Sul.

 

Ainda não havia estradas e foi através de picadas, munido de facão para cortar galhos, cobras, atravessando riachos,… E chegou!

 

Em São Leopoldo aprendeu muito e passado algum tempo, casou e vieram duas filhas.

 

Incentivado e com o apoio financeiro de um grande investidor, resolveu mudar para Curitiba e abrir uma fábrica de óleos vegetais ( amendoim, soja, girassol). Aqui não tinha e naquele tempo só se usava banha para cozinhar. O óleo ( azeite como chamavam) era uma novidade.

 

Veio de trem e aqui desceu na estação ferroviária com a esposa e as meninas de 3 e 4 anos.

 

Durante dois anos, enquanto a fábrica de azeite era construída no Portão, hospedaram-se na pensão que ficava na esquina das ruas XV de Novembro com a Conselheiro Laurindo.

 

Exatamente no local onde anos depois foi construído o Edifício Marumby – primeiro Condomínio Residencial de Curitiba, na Praça Santos Andrade.

 

A foto é eu no colo do Vô Frederico.

 

Convivi muito com esse avô até meus 7 anos quando uma briga familiar afastou todos, gerando muito sofrimento.

 

Depois da briga, lembro de 4 ocasiões em que nos encontramos, mas já não era a mesma coisa.

 

Num domingo de Páscoa, num passeio que o vô nos levou para conhecer um navio por dentro no Porto de Paranaguá. E num dia 21/09, Dia da Árvore, quando foi nos buscar no colégio e cada neto plantou uma árvore na Fanadol. Fizemos o buraco, colocamos adubo. Eu plantei muda de mimosa.

 

Esse era o vô Frederico. Tudo tinha que ter um objetivo. Meu irmão recebeu dele alguns presentes sensacionais: Uma pequena Caldeira que funcionava de verdade e até hoje deve estar intacta.

 

Um trem elétrico alemão MÄrklin, que é uma miniatura perfeita de um trem alemão, com mais de 20 vagões e uma locomotiva, tudo de ferro mesmo, não tem diferença nenhuma de um trem de verdade. Tem as estações e os trilhos. Nada quebrável. Saía até vapor da locomotiva quando andava. Isso há 60 anos.

 

A quarta e última vez que encontrei meu avô foi quando ele já estava deitado no caixão na sala de casa. Aos 59 anos. Uma pena que teve que ser assim.

 

Leia outras colunas da Karin Romanó aqui.

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