No último dia de março, no Museu Solomon R. Guggenheim, em Manhattan, fãs se aproximavam do ator Pierce Brosnan a cada poucos minutos. Alguns se dirigiam a ele como Mr. Brosnan, outros como Mr. Bond, em referência aos quatro filmes de James Bond que ele fez na década de 1990 e no início dos anos 2000. (Brosnan tem um rosto que exige honrarias).
Vestido com um elegante traje monocromático – sobretudo azul-marinho, calças azul-marinho, um lenço azul-marinho na gola de uma camisa azul-marinho – ele foi gentil com todos, ainda que ligeiramente evasivo. (E, sim, ele é dos raríssimos homens que parecem plausíveis de lenço azul-marinho). Aos 71 anos, ele não costuma se mostrar por inteiro. As pessoas veem o que querem. Na maioria das vezes, veem Bond.
“Elas deixam passar muita coisa”, disse ele. “Mas não cabe a mim mostrar muita coisa. Não cabe a mim fazer nada além de ser agradável”.
Brosnan sempre foi mais do que aparenta, embora o que se vê seja obviamente muito bom. “Ele tem muita sorte no quesito genes”, disse Tom Hardy, seu colega de elenco na nova série de gangsters Terra da Máfia (ModLand, no original), da Paramount+. Brosnan atribui a tudo isso à “alquimia celta”.
Pintor e entusiasta de arte, Brosnan considera Thomas Crown: A Arte do Crime (1999), sobre um assalto a obras de arte, seu filme favorito, principalmente porque pôde ficar com as pinturas. Então, quando compromissos de divulgação o trouxeram a Nova York – ele divide seu tempo entre Malibu e Havaí –, ele encaixou uma visita ao museu.
Ao chegar, encontrou a espiral do Guggenheim fechada para uma instalação. (“Uma inconveniência”, disse ele educadamente no guichê de ingressos). Ele se contentou com as obras em exposição. “Adoro cores”, disse Brosnan, admirando algumas telas da pintora brasileira Beatriz Milhazes. “É estimulante. Cativante.” Sua fala tem um lirismo casual – ele raramente usa um adjetivo só – mas parecia estar falando sério.
Em sua carreira de ator, a paleta de Brosnan tem sido bastante particular. “Faz parte da minha história como ator”, disse ele. “Interpretar o herói, interpretar o homem misterioso, interpretar o homem em quem você confia”. Mas seus papéis mais recentes (e alguns que ele já interpretou antes: O Matador, O Alfaiate do Panamá) complicam essa persona.
Conrad, o chefe da máfia que ele interpreta em Terra da Máfia, esconde brutalidade por baixo de seu guarda-roupa de cavalheiro. Arthur, o espião britânico que ele vive no elegante thriller de espionagem de Steven Soderbergh, Código Preto, que passou recentemente pelos cinemas, também tem suas complicações. E, mesmo assim, Brosnan é, ainda e sempre, Bond.
“Realmente não dá para fugir”, disse ele. O que, pelo menos em parte, explica por que Naomi Beckwith, curadora-chefe do Guggenheim, veio oferecer a ele um tour pela instalação em obras. Em seguida, ela o apresentou ao artista responsável, Rashid Johnson.
“Sou seu fã”, disse Johnson. “Você foi o meu Bond.”
Eles passaram um tempo conversando sobre arte. Em 2023, Brosnan, que trabalhou como artista comercial na adolescência, fez sua primeira exposição, So Many Dreams, em uma galeria de Los Angeles. Ele disse a Johnson o que gostava na pintura, em oposição à atuação: “A inocência de tudo isso e a ausência de expectativas”. Em seguida, ele se despediu. “Continue ousado”, ele disse a Johnson.
Na saída, Brosnan admirou um Pierre Bonnard, um Paul Cézanne, vários Picassos. Ele avistou um Wassily Kandinsky do outro lado do salão. “Dá vontade de pintar”, disse ele. Ele tem fantasias de se mudar para Paris e ser aprendiz de algum artista em um ateliê. Mas não está pronto para desistir da atuação.
“Agora virou uma droga”, disse ele. “Eu preciso dela”. Embora Brosnan muitas vezes seja bastante engraçado (“Ele tem um senso de humor sacana”, disse Hardy), não ficou claro se ele estava brincando ou não.
Certamente ele ainda não desistiu. Filmou seu papel em Código Preto durante um breve intervalo de outro filme, Giant. Começou a trabalhar em Terra da Máfia, no qual contracena com Helen Mirren, logo após finalizar o filme The Thursday Murder Club, também com Mirren.
Código Preto o traz de volta ao serviço secreto. Seu personagem é um espião com motivações oblíquas. O filme homenageia clássicos da espionagem, o que fez de Brosnan uma escolha interessante para o papel.
“Existe um conhecimento compartilhado com o público que é muito prazeroso, um segredo compartilhado”, disse Soderbergh.
Brosnan também sabe disso. “Confiaram em mim para fazer esses personagens, para interagir com o público e, em seguida, para desmantelar aquela persona”, disse ele. (Mais um desmantelamento: ele pediu a Soderbergh uma prótese para o nariz, que afina seu rosto).
Ele joga um jogo semelhante em Terra da Máfia, criado por Ronan Bennett (Top Boy) e codirigido por Guy Ritchie. Conrad parece um completo cavalheiro, mas não hesita em chutar um homem caído, ferido e sangrando pela boca. Como diz sua mulher, Maeve (Mirren), por baixo dos trajes elegantes, ele é “um assassino implacável.”
A interpretação de Brosnan deixa essa brutalidade muito mais envolvente. “Ele tem o que chamam de ‘feitiço’”, disse Hardy. “Ele lança um feitiço nas pessoas ao redor.”
Isso também se aplica a Brosnan fora das telas. Sua galanteria é natural, esbanjadora. Em nosso tempo juntos, ele segurava portas, me ajudava com o casaco, me chamava de querida. Eu sabia que estava sendo enfeitiçada. E não podia fazer nada a respeito. Passar essas horas com ele foi como ser atropelada por um caminhão de puro carisma.
E, claro, eu também adoro Bond. Quando me perguntei em voz alta por que alguém como eu, que geralmente não gosta de filmes de ação, se sentia tão atraída pelo personagem, Brosnan me olhou ironicamente. “Sexo”, disse ele. “Sexo. Sexo. Sexo. Amor. Luxúria. Desejo. Sexo. É só isso. Relaxe. Aproveite. Não se preocupe com isso”. (Quando perguntei sobre a venda da franquia Bond para a Amazon no início deste ano, ele foi mais cauteloso: “Desejo tudo de bom para eles”).
Essa versão de Brosnan – o cuidado na escolha do guarda-roupa, a maneira como educadamente pediu para que seu Chablis do almoço fosse resfriado (“Dê uma boa gelada, por favor”, ele disse) – parecia autêntica. “Eu adoro roupas, adoro estilo”, disse ele. “Adoro a beleza da vida, dos homens, das mulheres. A arte da vida, ela me alimenta.”
Mas também é uma pose que ele aperfeiçoou ao longo dos anos, enraizada, pelo menos em parte, numa infância vivida na Irlanda, com abandono do pai e longos anos longe da mãe.
“Eu queria ser artista, queria ser pintor”, disse ele. “Mas não tinha qualificação. Estava realmente em desvantagem – sem mãe, sem pai”. Mas essa liberdade lhe permitiu criar, disse ele, “essa persona chamada Pierce”, que se tornou ainda mais refinada com a riqueza, a fama e a realização de suas aspirações artísticas.
Pierce é, sem dúvida, seu maior papel – e ele tem pouca ambivalência quanto à celebridade que isso lhe proporcionou.
“Eu desejei isso, eu queria”, disse ele. “Então sigo em frente.”
Ainda assim, ele admitiu que estava ansioso pelo fim de semana, quando poderia ser ele mesmo, sem se mostrar por aí. Mas o que ele mostra, pessoalmente e na tela, é o bastante. Para ele, e talvez para o resto de nós.
“Vou continuar enquanto durar”, disse ele. “Tudo isso me trouxe até aqui. Vou continuar seguindo em frente.”
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